Economia Titulo Cenário econômico
Com a retirada do selo do bom pagador, País pode ampliar índices de desemprego

Decisão de agência internacional de crédito pressiona o câmbio e tende a elevar os custos dos insumos das empresas e a inflação

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
10/09/2015 | 07:17
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O rebaixamento da nota de crédito do Brasil, pela agência internacional S&P (Standard & Poor’s), na quarta-feira, que tirou seu selo de bom pagador, gerou perspectivas de intensificação da piora da economia nacional, o que deve impactar negativamente sobre a indústria, o que inclui a região, já que muitas delas utilizam insumos importados, o que dele elevar os preços de seus produtos. Uma das consequências previstas é o aumento do desemprego, como reflexo da retirada do grau de investimento, desde 2008 então concedido ao governo brasileiro.

Um dos primeiros efeitos da piora na avaliação da S&P é a disparada cambial – o dólar chegou a atingir R$ 3,91 ontem e fechou em R$ 3,86, depois da intervenção do Banco Central, que fez leilões de venda de dólares, para aumentar a oferta e segurar seu preço –, por causa da saída de investidores especulativos, como fundos de pensão estrangeiros, que aportavam recursos no mercado acionário, por exemplo. “Até por regulamento, alguns fundos estrangeiros não podem investir em países sem grau de investimento”, afirma o professor da FIA (Fundação Instituto de Administração) Rodolfo Oliva.

O dólar mais caro elevará o custo dos produtos e insumos importados, o que pressionará ainda mais a inflação, que segue em alta, avalia o delegado do Corecon (Conselho Regional de Economia) no Grande ABC, Leonel Tinoco. E como reação para conter a taxa inflacionária, o Banco Central pode elevar a taxa básica de juros, hoje em 14,25%, refletindo em aumento do custo do crédito para empresas e consumidores.

Há outros efeitos previstos. “Esse rebaixamento prejudica a confiança dos investidores internacionais no País, pois as empresas estrangeiras levam em consideração essas notas de crédito”, diz o vice-diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) Mauro Miaguti. Ele acrescenta que a piora da nota da Petrobras também trará efeitos negativos, já que a estatal terá mais dificuldade para vender ativos (como participação na BR Distribuidora).

Tinoco também prevê problemas na atração de companhias de fora (por exemplo, grandes grupos chineses) para investimentos em infraestrutura. Por sua vez, o diretor da regional do Ciesp de Diadema, Donizete Duarte da Silva, cita que, além de os juros subirem, a captação de recursos no Exterior pelas empresas brasileiras ficará mais difícil.

SEM SURPRESA - Para analistas financeiros, a retirada do grau de investimento, pela S&P, não foi surpresa. O que surpreendeu foi a data em que isso ocorreu. “Era uma questão de tempo, mas imaginávamos que fosse no fim do ano ou no início de 2016”, diz o presidente da Austin Rating, Alex Agostini. Essa agência brasileira de classificação de crédito foi a primeira a rebaixar a nota do País, em 23 de julho.

Não surpreendeu por causa dos indicadores econômicos negativos, como o avanço do endividamento público, e culminou com a decisão do governo de enviar ao Congresso um orçamento para 2016 prevendo deficit fiscal (ou seja, que o governo vai gastar mais do que vai arrecadar no ano que vem). Agora, para piorar, só faltam as outras duas grandes agências internacionais (a Moody’s e a Fitch) também rebaixarem a nota do Brasil. Olivo avalia que a tendência é que isso ocorra nos próximos meses. 




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