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Sem-terra criam rodízio nos acampamentos do Pontal
04/08/2003 | 22:28
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Sem conseguir manter as famílias morando permanentemente à beira de estradas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) adotou um sistema de rodízio nos acampamentos do Pontal do Paranapanema, extremo oeste de São Paulo. A estratégia tem como objetivo manter – e até ampliar – o número de pessoas que aderiram ao movimento desde o início do ano. "É um processo novo para evitar que fiquem no barraco sem trabalhar, o que desgasta muito", afirmou Paulo Costa Albuquerque, da direção estadual do MST.

No acampamento Santo Dias, em Marabá Paulista, dos 11 grupos nos quais foram divididas as cerca de 400 famílias, apenas dois são obrigados a ficar no local a cada dia da semana. Nos finais de semana, no entanto, todos têm de estar presentes. Na manhã de segunda-feira, por exemplo, o acampamento parecia deserto. O agricultor desempregado Clemente Araújo Teixeira, 51 anos, era um dos poucos que circulavam entre os barracos. "É melhor ficar para ver se consigo a terra", disse ele. Sua mulher e seus dois filhos tinham passado a noite na cidade.

Apesar da flexibilidade, 15 pessoas deixaram o acampamento nos últimos seis dias. "Se a pessoa não vem por muito tempo, temos de excluir", disse um dos coordenadores do MST no local, Alécio Macedo da Silva. Ele atribui o abandono ao cadastramento para o programa Fome Zero feito na semana passada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). "Muitos fazem o cadastramento e preferem cruzar os braços."

Em Teodoro Sampaio, o acampamento Herbert de Souza aprovou no domingo um regimento interno com o seguinte item: quem tiver "três faltas na semana sem o conhecimento do coordenador e justificativa no escritório será afastado". Na prática, porém, há mais flexibilidade. "A pessoa tem de passar por aqui e ficar pelo menos no fim de semana", afirmou Manoel Messias Duda, da coordenação estadual do movimento. Mas ele admite que os acampados que permanecem mais tempo no local terão prioridade nos assentamentos. E isso está explícito no regimento: quem cumprir "as normas do acampamento – unidade, participação, disciplina e morar (sic) – é quem vai primeiro para a terra."

O cadastramento feito pelo Incra há duas semanas no local registrou 612 famílias. Até hoje, apenas 400 delas haviam montado seu barraco.

Atualmente, cerca de 8 mil famílias estão acampadas na região do Pontal – 5,4 mil delas ligadas ao MST.




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