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Filósofo se atreve a buscar explicaçoes para a poesia
Nelson Albuquerque
Da Redaçao
26/08/2000 | 16:46
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A poesia é puro sentimento e emoçao. Em suas linhas, sao várias as tentativas de expressao por meio das palavras e, nas entrelinhas, há todo o contexto vivido pelo autor no momento da composiçao. O desafio de estudar os motivos e explicaçoes de um poema é utilizar a racionalidade como antídoto.

Talvez tenha sido esse o segredo do filósofo Alfredo Bosi para escrever o livro O Ser e o Tempo da Poesia (Companhia das Letras, 280 págs., R$ 25,50). Em seis ensaios, o autor obedece o caminho que vai do geral ao particular. Para isso, analisa e cita 290 personalidades, poetas ou nao, de várias épocas da história.

De Luís de Camoes, por exemplo, o trecho de um soneto: "Amor é fogo que arde sem se ver/ é ferida que dói e nao se sente/ é contentamento descontente/ é dor que desatina sem doer". Com ele, Bosi mostra a intençao de utilizar a repetiçao de uma palavra-chave (é... é...). "Impele o período para diante, clareia a exploraçao semântica do sujeito comum", comenta.

O som e o ritmo, que embalam a leitura, sao os ingredientes melódicos da poesia. Nesse caso, o autor recorre a obras de Carlos Drummond de Andrade e Maurice Ravel, entre outros, além de reproduzir idéias de Santo Agostinho, Tomachévski e Rosseau.

Deste último, talvez a definiçao mais direta: "A melodia, ao imitar as inflexoes da voz, exprime as queixas, os gritos de dor ou de alegria, as ameaças, os gemidos".

O verso metrificado foi, segundo Bosi, uma saída que os gramáticos encontraram para "corrigir os descompassos de uma leitura". No Brasil, a experiência teve Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Drummond, Murilo Mendes e Jorge de Lima como adeptos, a partir dos anos 40.

Os fatos que permeiam a vida da sociedade sao a matéria-prima do poeta, seja como cenários de uma situaçao ou motivos para crítica. "Poemas como os de Block, Brecht, Neruda e Leopardi antecipam um estado melhor de convívio entre os homens. E fazem-no mediante símbolos de perigo, apelo e comunhao", diz outro trecho do livro.

Bosi critica nosso momento atual, definindo-o como "uma cultura-para-massa computadorizada", em que tudo é fugaz e descartável. Ele acredita, no entanto, que as pessoas ainda "lêem e escrevem poesia como forma de converter em palavras suas experiências".




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