Já ouviu falar em Envira? A cidade com pouco mais de 16 mil habitantes fica no interior do Amazonas, perto do Acre. Foi de lá que Daniel Feitoza da Silva, 19, saiu com quatro amigos em direção a São Paulo para realizar o sonho de estudar música e se profissionalizar na arte. Na época tinha 16 anos.

Para chegar à Capital, andaram de barco, caminhão, pegaram carona em avião monomotor e em carro e ainda viajaram mais quatro dias de ônibus. Mas a saga começou bem antes. Daniel se encantou pela música na infância ao ver gente da comunidade, inclusive índios, tocando.

Um amigo ensinou os primeiros acordes. Foi então que o garoto teve a ideia de formar uma banda com os companheiros que compartilhavam o mesmo interesse. Assim surgiu a Delta. O problema é que ninguém tinha instrumentos. A alternativa? Trabalhar. Catavam latinhas e limpavam uma casa de shows da cidade, entre outros bicos. Até que decidiram dar aulas de música a crianças da cidade; cobravam pequena mensalidade. Deu certo. Os alunos apareceram e a turma conseguiu a grana.

"Depois dos instrumentos, compramos as passagens só de ida para São Paulo para não ter perigo de ninguém querer voltar", afirma Daniel. O dinheiro também foi suficiente para pagar os primeiros meses de aluguel, antes de arrumarem emprego. Em pouco tempo, conseguiram trampo.

A parte mais complicada da empreitada, entretanto, foi convencer os pais que a decisão era certa. "Achavam que música era coisa de vagabundo, que não dá dinheiro. Queriam que a gente fizesse outras coisas." Apesar da dificuldade inicial, o apoio veio com o tempo.

Em Sampa, Daniel se matriculou no Projeto Guri, que oferece cursos gratuitos de música em todo o Estado de São Paulo. Por meio da iniciativa, apresentou-se no Parque do Ibirapuera e na Sala São Paulo. Foi lá também que conheceu o produtor Guga Stroeter. E, adivinha? O cara conhecia Envira. Curtiu tanto a história que, hoje, produz o primeiro CD da banda Delta. O álbum, com composições da turma, já tem nome - Filhos de Seringueiro - e deve ser lançado ainda neste semestre.

Agora, Daniel dedica-se exclusivamente à música. Já alcançou muitos objetivos, mas deseja conquistar muito mais. "Quero estudar fora do Brasil, conhecer profundamente o jazz, outras línguas e culturas." Se tudo depender da força de vontade, ele já conseguiu.