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Professor lança livro sobre nômades do nosso tempo
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
29/06/2002 | 18:22
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O que leva algumas pessoas a largar tudo e cair na estrada sem destino? O que move os nômades, o que estimula aqueles que se deslocam de um lugar para outro sem saber o motivo? Como surgem os hippies, os vagabundos? Qual é o paralelo possível entre peregrinos, navegadores, aventureiros? Qual é a origem dessa pulsão da errância?

No livro Sobre o Nomadismo – Vagabundagens Pós-Modernas, o professor da Sorbonne Michel Maffesoli analisa esse fenômeno sociológico, que parece sempre ter habitado o imaginário social: os filhos da estrada, os rolling stones (pedras que rolam), no sentido literal do termo.

Herdeiro de uma geração de grandes sociólogos franceses, como Gilbert Durand e Emile Durkheim, Maffesoli tem conseguido acompanhar, como poucos acadêmicos, as alterações de comportamento da pós-modernidade.

Em A Sombra de Dionísio (1982), referia-se ao hedonismo e à busca do prazer predominantes nas décadas de 70 e 80. Observou o surgimento das tribos urbanas em O Tempo das Tribos (1988) e debruçou-se sobre o esfacelamento da política tradicional em A Transfiguração do Político (1992).

Maffesoli também dirige o Centro de Estudos sobre o Atual e o Cotidiano (Ceaq) e tem causado polêmica em levar para a vetusta Sorbonne temas de estudo inusitados – para aquela instituição – como homossexualismo e astrologia.

Como os nômades de que trata em seu livro, Maffesoli esteve no Brasil recentemente para um périplo exaustivo por várias capitais, onde lançou sua última obra, publicada pela Record.

Ao contrário de estudiosos da contemporaneidade, geralmente mal-humorados (Jean Baudrillard, por exemplo), Maffesoli vê claridade, encanto e prazer onde outros enxergariam becos sem saída.

Na orelha da capa de Sobre o Nomadismo, o professor Muniz Sodré, da UFRJ, apresenta o autor: "Flâneur, dandy, ator dionisíaco na vida real, Maffesoli imprime ao texto de sua pesquisa a mesma elegância com que se move no espaço acadêmico e nas ruas".

O flâneur é aquele que anda pela cidade sem destino certo, se detendo em detalhes que para a maioria das pessoas passariam despercebidos. Já o dandy gosta de se vestir bem.

Ler Sobre o Nomadismo é flanar sobre épocas, costumes, momentos da vida errante. Sempre com estilo e elegância, como a gravata borboleta que marca o visual do autor.

Maffesoli fala sobre o que ele chama de "nomadismo fundador", discorre sobre a "sociologia da aventura" e comenta o "exílio e a reintegração".

Maffesoli menciona a "errância erótica" da multiplicação dos parceiros, dos encontros amorosos pela internet, das famílias divorciadas-recompostas, e das boates para troca de casais. "Nomadismo sexual".

O livro se encerra na metáfora do porto seguro, onde finalmente se desembarca pelas experiências vividas. "O próximo e o longínquo se unem no que têm de infinito e de inesgotável."

O viajante chega ao final da viagem. Está salvo, mas parece ter perdido tudo: "Inveni portum spes et fortuna valete (Encontrei o porto. Esperança e fortuna, adeus)".

Não importa tanto quem são os vetores do movimento (hippies, vagabundos, poetas, jovens sem ponto de referência e turistas). "O certo é que a circulação recomeça." Algum dia, os grilhões se quebram, as barreiras desmoronam. "Nada pode represar seu fluxo."




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