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Móveis Corazza completa 81 anos em S.Bernardo
Walter Wiegratz
Da Redaçao
16/10/1999 | 18:42
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Uma vida com a resistência da mais nobre madeira de lei. Assim pode ser descrita a história de Manoel Corazza, que, juntamente com seus seis filhos, construiu a Móveis Corazza, no coraçao de Sao Bernardo, na época que a atual rua Jurubatuba era conhecida tao somente por rua Chá, em 1918.

De lá para cá, a Móveis Corazza fez história como uma das primeiras e mais persistentes empresas do ramo moveleiro na cidade, participando inclusive dos áureos tempos em que a cidade de Sao Bernardo era reconhecida como a capital nacional dos móveis.

Manoel Corazza deixou também sua marca de empreendedor e de liderança ao criar a Acisbec (Associaçao Comercial e Industrial de Sao Bernardo), que foi presidida por ele durante 11 anos. Ele também foi o fundador do Sindicato da Indústria de Móveis de Sao Bernardo e Regiao, tendo sido seu segundo presidente.

Na última sexta-feira, Conrado Bruno Corazza, de 77 anos, filho de Manoel, recebeu o Diário para contar um pouco da saga familiar, constituída ainda pelos irmaos Maria Josefina, Antônio José, Nelson, Hélio e Jandyra Palmyra.

Cerveja e fubá - De tradiçao agrícola, os italianos Antonio e Josefina Corazza chegaram ao Brasil no fim do século XIX, imbuídos do sonho de conquistar a nova terra.

Foi por meio do filho Manoel, o mais velho entre sete irmaos, que a família se lançou na árdua jornada de fabricar móveis.

Antes disso, porém, quando tinha 14 anos, Manoel testou seu tino para os negócios ao trabalhar em uma fábrica de cerveja e posteriormente em um moinho de fubá no rio dos Meninos, na regiao onde atualmente encontra-se o Paço Municipal de Sao Bernardo.

"O negócio caiu no gosto da italianada que morava na cidade, porque o fubá era ingrediente essencial na alimentaçao", afirmou Conrado.

Mas, decididamente, nao seria o fubá o ingrediente do sucesso dos Corazza, mas uma infinidade de móveis de madeira que Manoel passaria a fabricar.

Diferencial - Em 1918, ele construía uma indústria de móveis que já possuía um diferencial em relaçao à maioria dos concorrentes: uma serraria anexa.

A fábrica dava a idéia de uma linha de produçao, uma vez que a madeira chegava no lugar, era cortada e depois seguia para produçao, onde era transformada em uma diversidade de móveis.

"Era um conceito de produçao em ordem que partia praticamente do zero". Nessa época, a Móveis Corazza ocupava um extensa área que cortava a atual Jurubatuba e alcançava o lugar onde hoje está a avenida Brigadeiro Faria Lima.

Com o tempo, a cidade foi crescendo e parte da área foi sendo desapropriada para a abertura de novas vias de acesso.

"Meu pai nao era de ver, era de executar e, por isso, vivia trabalhando junto com os funcionários", conta Conrado.

Em uma dessas ocasioes, nos anos 30, Manoel feriu-se enquanto cortava uma madeira, acidente que quase lhe custou a vida, mas que foi superado com o "forte espírito de luta".

Esse caráter combativo rendeu frutos e os produtos da fábrica dos Corazza ganharam mercado em todo o Brasil.

"Vendíamos para todos os cantos do país. Em minhas viagens, bastava eu bater os olhos em um móvel para saber se era nosso", afirma Conrado, que tinha o hábito de olhar atrás dos armários ou debaixo das mesas e cadeiras para ver se os mesmos eram feitos pelo seu pai.

Continuidade - Conrado relembra o esforço do pai para que os filhos pudessem obter o diploma universitário (advogados e engenheiros), algo que ele nao quis para si, uma vez que desde cedo teve de se dedicar ao sustento dos demais irmaos. As férias dos filhos eram vividas em sucessivos estágios na fábrica.

Uma vez formados, os filhos foram aos poucos se integrando ao dia-a-dia da Móveis Corazza. Coube a Antônio José, o mais velho entre eles, a tarefa de cuidar da sucessao do pai.

Conrado assumiu os negócios em 1974, após aposentar-se como engenheiro pela Prefeitura de Santo André.

A Móveis Corazza enfrentou, e venceu, várias crises econômicas. Certa vez, um contador da empresa advertiu que os efeitos da Segunda Guerra Mundial poderiam gerar uma crise financeira nas empresas nacionais. Ponderado, Manoel afirmou: "Nós estamos acostumados com as crises. Afinal, elas vêm e vao, enquanto nós continuamos aqui". A liçao tornou-se lema familiar e venceu oito décadas.




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