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Nomes de escritores viram ruas e bibliotecas no ABC
Paulo Carneiro
Do Diário do Grande ABC
08/08/2003 | 20:01
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O enigmático escritor argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) disse em uma de suas últimas entrevistas que todo escritor reencarna sempre que tem a obra visitada pelo leitor nos arquivos da eternidade. Controvertido e polêmico, o próprio Borges duvidou da metafísica implícita na afirmação e perseguiu a consagração por meios menos abstratos. Em várias oportunidades, tentou convencer sisudos acadêmicos suecos de que merecia o Nobel de Literatura, mas nunca obteve os resultados sonhados.

Mas as dúvidas e aflições do genial autor de O Jardim das Veredas que se Bifurcam são comuns à maioria dos artistas, que quase sempre dependem mais da iniciativa dos contemporâneos que de forças ocultas para garantir o reconhecimento. No Grande ABC, essa regra obedece a critérios que percorrem uma vasta e complexa escala de valores sociais e concepções estéticas.

Graças a essa pluralidade de tendências, artistas das mais variadas origens estão perpetuados como nome de praças, ruas, teatros e bibliotecas da região. A galeria vai de Vicente Celestino a Carlos Gomes, na música; de Gregório de Mattos a José de Alencar, na literatura; de Cacilda Becker a Antonio Fagundes, no teatro; De Mazzaropi a Leila Diniz, no cinema; e ainda Portinari e Brecheret, nas artes plásticas.

Este último esquadrão receberá em breve o reforço do pintor e escultor Luiz Sacilotto, uma das mais importantes referências da pintura brasileira em todos os tempos, morto em fevereiro último. Filho de imigrantes italianos, Sacilotto nasceu em Santo André em 1924 e sempre morou na cidade, embora o sucesso o tenha tornado cidadão do mundo.

Inspirada nesses e em outros atributos, a vereadora Dinah Zekcer apresentou projeto de lei no sentido dar o nome do artista a um próprio municipal. Por óbvias afinidades, a escolha recaiu sobre a Casa do Olhar. “A idéia obteve apoio unânime na Câmara, tal a gratidão que temos por ele”, disse a vereadora. Segundo Dinah Zekcer, sua aproximação pessoal com o pintor está expressa não só nos quadros que tem como no painel que ilustra a entrada do hospital de propriedade da família, em Santo André.

Simultaneamente à iniciativa de Dinah Zekcer, o vereador Klinger Luiz de Oliveira Sousa aprovou projeto que dá o nome de Luiz Sacilotto ao tradicional Salão das Artes de Santo André. Ex-secretário municipal de Serviços Urbanos, Klinger disse que tem “enorme admiração” pelo artista. “A dedicação dele à cidade foi extraordinária.”

O vereador acha que nenhuma homenagem será redundante diante do que Sacilotto representa. Se não bastassem outros ícones, Klinger destaca duas esculturas instaladas no Centro da cidade, uma na Oliveira Lima e outra em área próxima ao colégio Américo Brasiliense. Sacilotto está exposto aos olhos da multidão. A tomar por concreta a profecia borgiana, isto não deixa de ser uma forma de reencarnação.




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