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Montadoras têm 37 dias de estoques
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
09/09/2011 | 07:30
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O setor automobilístico brasileiro registrou, em agosto, o maior nível de carros em estoques desde novembro de 2008, quando a crise de crédito global gerava forte impacto na indústria nacional.

Naquela época, a demanda por veículos deu freada brusca e o segmento acumulou o correspondente a 56 dias para desova dos veículos. Agora, de acordo com levantamento divulgado ontem pela Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores, montadoras e concessionárias somam 398.796 carros parados nos pátios e nas lojas, o que representa 37 dias para a comercialização. Em julho, eram 36 dias.

Segundo o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, os números refletem o descompasso entre a produção e as vendas ao longo deste ano. Embora o emplacamento de veículos tenha crescido 6,9% em agosto frente a julho, o mês passado teve dois dias úteis a mais e, com isso, na comparação da média diária (total dividido pelo número de dias), houve retração de 2,4%.

E, no acumulado dos oito primeiros meses do ano, os licenciamentos de carros novos cresceram 8% frente a igual período de 2010, mas os produzidos no País tiveram expansão bem menor, de apenas 2,2%. O que tem puxado o ritmo são os importados, que aumentaram em 34,7%. Representam, neste ano, 22,4% do mercado nacional.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, destacou que o crescimento das importações de veículos é responsável pelos estoques altos no setor.

Segundo o dirigente sindical, por conta dos pátios lotados, montadoras no Grande ABC e em outras regiões do País colocaram trabalhadores em banco de horas ou em férias coletivas.

RECORDE - Apesar de a demanda ter desacelerado nos últimos meses - a média diária chegou a 17,3 mil unidades em dezembro, caiu para 11,7 mil em janeiro e, nos últimos meses, ficou praticamente estável, na casa das 14 mil - o setor registrou recorde de produção em agosto. Foram 325,3 mil veículos fabricados, 5,5% mais que o volume do mesmo mês de 2010.

Para Belini, isso se deve ao fato de que as fabricantes programam quanto vão produzir com três meses de antecedência. Agora, com as recentes decisões de fazerem ajustes, com cortes de trabalho aos sábados e paralisações em linhas de montagem, como foi o caso, por exemplo, da área de automóveis da Ford de São Bernardo, que parou de ontem até dia 16, e da fábrica da Volkswagen na região, que emendou o feriado e só volta a produzir na segunda-feira.

 

Elevação da taxa básica de juros anima o segmento

A Anfavea manteve suas projeções, de crescimento de 5% nas vendas de carros zero no País no ano todo frente a 2010, mas a recente redução da taxa básica de juros (a Selic), pelo Banco Central, deve ajudar a fortalecer o mercado interno no médio prazo, avalia o presidente da associação, Cledorvino Belini.

Para o dirigente, pode até haver algum ajuste nas estimativas no último trimestre. A medida, segundo ele, abre perspectivas favoráveis também para 2012. "Para o próximo ano, é um sinal muito positivo", observa. Ele acrescenta que há espaço para novas reduções da taxa ainda neste ano.

Belini acrescenta que pode haver revisão também da expectativa de exportações. Por enquanto, se calcula queda de 3,4% em volume de encomendas ao Exterior (485 mil frente a 502 mil em 2010).

De janeiro a agosto, foram 341 mil veículos vendidos a outros países, 5,2% mais que nos primeiros oito meses do ano passado. Apesar do crescimento, o atual volume exportado ainda é 29,2% menor do que o do mesmo período de 2005.

O segmento também observa aumento do saldo negativo da balança comercial, por causa das importações crescentes. Neste ano, já são 501 mil carros trazidos do Exterior, o que faz com o que deficit chegue a 189,7 mil unidades.

REGIME - Para elevar a competitividade da indústria nacional, com o objetivo de as empresas fazerem frente à concorrência crescente dos importados, o segmento vem conversando com o governo federal para tentar alinhavar o regime especial automotivo.

Por esse programa, haveria redução de impostos em contrapartida ao aumento de compra de peças brasileiras, ampliação das contratações e investimento em inovação. No entanto, há ainda incertezas em relação a quando sairá a regulamentação e de quanto será a redução dos tributos.

 

Atual nível de emprego só fica abaixo do observado em 1986

Com a produção ainda elevada, as montadoras também seguem contratando. Em agosto, as fabricantes de veículos geraram 750 postos de trabalho e passaram a reunir 125.311 empregados no Brasil, de acordo com levantamento da Anfavea. É 9,1% mais que em agosto do ano passado, quando havia 114.809 trabalhadores nessa indústria.

Incluindo a área de máquinas agrícolas - que apresentou saldo positivo de 161 vagas no mês -, o número de empregos chega a 144,7 mil no País. Esse número só é menor do que o de dezembro de 1986, quando havia 157.668 pessoas trabalhando nessa área.

No entanto, há a ressalva de que, até 1996, os números da associação das montadoras inclui o pessoal contratado por terceirizadas e, depois desse ano, apenas os registrados pelas empresas do ramo. Mesmo sem levar em conta essa mudança de metodologia, na década de 1990, se intensificou o processo de as empresas repassarem atividades que não eram o foco principal para outras companhias (desde manutenção, tecnologia de informação até logística).

SEM DEMISSÕES - Apesar do cenário atual de ajustes da produção, Cledorvini Belini não vê ameaças de demissões. "Teremos um bom ano, com crescimento sustentado de 5% frente a 2010", afirma.




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