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Jamiroquai: boa de dançar, ruim de ouvir
Cláudio Luis de Souza
Da Redaçao
20/06/1999 | 17:13
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Por que uma banda como o Jamiroquai faz tanto sucesso e vende milhoes de discos em todo o mundo? Uma das respostas possíveis é a de que a memória artística das pessoas nao é muito longa. Ninguém se lembra de que o cantor Jason Kay, líder do grupo britânico, é um imitador de um monte de coisas que foram feitas de modo melhor e mais simpático há uns 20 anos - ou, no caso de seu vocal emprestado de Stevie Wonder, quase 30 anos.

O mais curioso é que pelo menos os donos dos três discos do Jamiroquai, que agora poderao agregar à coleçao um quarto, Synkronized, que acaba de ser lançado no Brasil, deveriam perceber que o grupo imita a si mesmo. Nem precisava estar vivo na época da discoteca para saber disso.

Outro fator importante é que o consumidor de música para dançar nao pede muito: dando para balançar o esqueleto, tá valendo. E um outro, ainda: as pessoas adoram fórmulas fáceis, vale dizer, adoram se confrontar com artistas que se apropriam de tendências consagradas e, pela reduçao ou pela caricatura, oferecem um produto mais consumível. Se vier embalado de modo cool (no caso do Jamiroquai, tem aquele logotipo do hominho de chapéu chifrudo), melhor ainda.

Dançar ao som das dez faixas de Synkronized pode nao ser difícil (quem sabe depois de algumas cervejas...), mas ouvi-las parado é um suplício, e nao porque aflore aquela vontade imperativa de pular e jogar os braços para o ar. É porque é chato mesmo.

Quase todas as faixas soam iguais a: 1) Best of my love, por The Emotions; 2) Freak out, do Chic; 3) Virtual insanity, do próprio Jamiroquai. Ou entao como um mix de todas elas. É a soul music esfarelada até virar poeira; é o funk quadrado; é a black music para universitário branco curtir.

As cordas, que aparecem em quase todas as cançoes, estao lá só para glosar aquelas cordas podronas e kitsch dos grandes sucessos da disco music; e, como estamos falando de som para dançar, a melodia fica em terceiro plano. E música que nao dá para assobiar deveria ser proibida.

O único momento em que Synkronized soa grande está justamente na última faixa (na verdade, depois vem a faixa-bônus ultramala Deeper underground, da trilha de Godzilla). Trata-se de King for a day, uma espécie de balada acelerada na qual o grupo se preocupou em provocar no ouvinte um certo grau de encantamento, muito além da tonteira resultante da dança frenética e descerebrada.




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