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Fim de semana: quatro estréias infanto-juvenis
Do Diário do Grande ABC
21/01/1999 | 15:41
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Um porco inconformado com seu destino de torresmo. Um gorila de 5 metros de altura testando os limites do paraíso terrestre. Uma anti-Barbie serial killer. Uma Cinderella buscando reformular os clichês do seu secular roteiro.

Quatro filmes destinados ao público infanto-juvenil estréiam neste fim de semana, ocupando 84 salas de cinemas da capital e pondo em cena mais de 800 animais, além de dois bonecos assassinos. O carro-chefe desse motim de férias é o orwelliano "Babe - O Porquinho Atrapalhado na Cidade", seqüência de "Babe - O Porquinho Atrapalhado", produçao australiana que, nos idos de 1994, roubou as bilheterias dos blockbusters americanos.

A primeira versao do porco Babe tornou-se um sucesso instantâneo por causa do humor um tanto insólito e sem pressa. Revisitava "A Revoluçao dos Bichos", de George Orwell, sem a conotaçao política. Eram animais em uma fazenda pacata inconformados com seus papéis tradicionais: um pato que queria ser galo e um porco que queria ser pastor de ovelhas.

Retomado pelos seus criadores, o porco dessa vez é que sucumbiu ao timing do cinema hollywoodiano, em vez de fazê-lo curvar-se. A açao quer ser vertiginosa, já que está transposta para a cidade - um cruzamento metropolitano entre Nova York, Paris, Los Angeles e Rio de Janeiro. A história adquire um tom de "Loucademia de Polícia" zoológica.

O argumento é frágil, embora as boas gags do filme original sejam revisitadas - em especial, a dos ratos cantores, que estao empunhando um repertório dos mais esquizofrênicos e (por que nao?) engraçados: Dean Martin (That's Amore), Edith Piaf, Peter Gabriel e Elvis Presley, entre outros. O antigo menino prodígio de Hollywood, o baixinho Mickey Rooney, faz uma delicada apariçao especial como um palhaço cardíaco.

Gorila - O espectador desavisado que for assistir a "O Poderoso Joe" (Mighty Joe Young) pode pensar que já viu algo semelhante em "King Kong". É de fato a mesma história, mas "O Poderoso Joe" é uma refilmagem do clássico da RKO, dos anos 30. Nesse filme, o zoólogo Gregg O'Hara (Bill Paxton) está explorando as montanhas Pangani na Africa Central (na verdade, está em Oahu, no Havaí), quando faz uma inacreditável descoberta: um gorila de 5 metros de altura.

Assustado e perigoso quando provocado, o gorilao só cede aos encantos de Jill Young (Charlize Theron) - de novo a atualizaçao da dicotomia "Bela & Fera". Mas o santuário de Joe, o Gorila, está ruindo, e a dupla acha por bem levá-lo para uma reserva segura em Los Angeles (?). Grande sacada! Aí é que a coisa pega: um velho inimigo de Joe o descobre e volta a caçá-lo. Certamente um dos pontos de interesse do filme é a parafernália que dá vida ao Gorilao, criatura criada por Rick Baker (o mesmo gênio de "Um Lobisomem Americano em Londres" e "O Professor Aloprado").

Se há algum mérito em "Para sempre Cinderella" (Even After - A Cinderella History), é ter posto de novo na tela, ao menos por um instante, a atriz Jeanne Moreau. Ela faz uma apariçao especial no filme como "A Grande Dama da França". O filme é uma adaptaçao livre do conto dos irmaos Grimm, retratando Cinderella (Drew Barrymore, que já deve estar cansada de ser lembrada que um dia foi aquela menininha delicada de E.T., o Extraterrestre) como uma mulher ativa e questionando clichês femininos da história.

Assim, a madrasta da nova Cinderella (Anjelica Huston) adquire motivaçoes mais palpáveis do que somente a inveja. E suas filhas deixam de ser desprezíveis fisicamente - embora mantenham o veneno interior. Mas o fato é que tudo termina em "felizes para sempre", o que reafirma pelo menos uma das armadilhas do conto infantil, a mais letal delas.

Trash - "A Noiva de Chucky" é uma produçao trash, recomendável apenas para garotos já crescidos e com sobrecarga hormonal. O sucesso do boneco assassino Chucky surgiu em 1988, no filme "Brinquedo Assassino". É uma coisa tao insólita que nos leva a pensar: será que tudo nao passa de uma grande tese conspiracionista da indústria de brinquedos, que quer tirar de circulaçao os bonecos feios e desajustados?

Bem, o certo é que, depois de verem esse filme, as crianças certamente mudaram sua opiniao sobre o velho boneco quebrado que mantinham como relíquia de sua mais tenra infância. Chucky é um Charles Manson de plástico. Embora sua aparência seja risível, ele mata e mutila e demonstra prazer nisso.

Dessa vez, ele está acompanhado de sua costela plástica, a boneca Tiffany, igualmente insana. O diretor disse que quis criar uma espécie de "Barbie & Clyde" do gênero de terror. Estava mentindo: quer apenas ver se consegue esticar uma fórmula que já rendeu mais de US$ 50 milhoes em três seqüências.




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