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Comunista Gladys Marín é enterrada no Chile
Da AFP
08/03/2005 | 17:21
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Milhares de pessoas acompanharam nesta terça-feira o cortejo fúnebre da histórica líder do Partido Comunista chileno Gladys Marín, 63 anos, que morreu neste domingo, depois de travar sua última batalha contra o câncer cerebral.

Coberto com a bandeira chilena e o emblema vermelho com a foice e martelo, o caixão de Marin foi colocado em uma carroça que atravessou em marcha lenta o percurso do antigo edifício do Parlamento em direção ao Cemitério Geral, passando junto ao palácio presidencial de La Moneda.

O presidente socialista Ricardo Lagos decretou dois dias de luto nacional e liderou uma cerimônia na sede do governo para lembrar no Dia Internacional da Mulher a figura da ex-mestre. A ministra do Serviço Nacional da Mulher, Cecilia Pérez, pediu aos presentes um minuto de silêncio e lembrou que Gladys Marin, "assim como muitas mulheres de sua geração, viveu grande parte de sua vida com o vazio permanente que nasce da violência".

Fora do Palácio presidencial, os cânticos e lemas do partido de Marín durante 11 anos tomaram conta das ruas do centro de Santiago, na passagem do cortejo, enquanto milhares de pétalas de rosas e cravos vermelhos caíam das janelas e varandas.

"Estou emocionada, porque Gladys foi a única que nos ajudou quando privatizaram nossa empresa", afirma Griselda Muñoz, uma funcionária da Empresa Metropolitana de Obras Sanitárias, erguendo um cartaz.

"Eu vim de Tirúa, no sul do país, porque ela representou a luta do povo chileno", afirmou Osvaldo Millahual, um jovem camponês da etnia mapuche.

Maria Galleguillos, 71 anos, diz que ainda não consegue acreditar que a líder comunista morreu. "Conheci Gladys há muitos anos, quando eu militei nas Juventudes Comunistas", afirma.

Delegações de Cuba, Venezuela, Argentina, Equador e México misturavam-se à multidão quando uma locutora leu uma mensagem de pêsames "ao povo chileno" do presidente cubano Fidel Castro. "A gente sente, a gente sente Gladys presente!", gritou o cortejo, chamando pela líder comunista que se tornou a deputada mais jovem do país aos 24 anos, até que o Parlamento foi fechado pelo golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet, no dia 11 de setembro de 1973.

"O povo unido jamais será vencido!", repetia a multidão, parando alguns momentos em frente ao monumento em homenagem ao presidente socialista Salvador Allende, diante do Palácio do Governo onde este se matou na manhã do Golpe de Estado.

Doença - "Na primeira hora de 6 de março de 2005, poucas horas depois de entrar em estado de coma, morreu nossa muito querida companheira Gladys Marín Millie, presidente de nosso partido", informou o secretário-geral do PC (Partido Comunista), Guillermo Teillier. "Durante quase um ano e meio ela travou uma dura luta contra o câncer".

Marín sofria de um agressivo câncer cerebral do tipo "glioblastoma multiforme", considerado altamente maligno e irreversível, doença que foi diagnosticada em setembro de 2003.

Ela morreu em sua casa na comuna de La Florida, sudeste de Santiago, na companhia de seus parentes, amigos e membros do Partido Comunista. Marín faleceu depois de uma longa agonia que se estendeu por quase dois meses, depois que voltou de Cuba, onde se submeteu a um tratamento médico.

Ícone chileno - Instalada a ditadura de Pinochet (1973-1990), Gladys Marín partiu para o exílio em Moscou e deixou no Chile seus dois filhos e marido, o engenheiro Jorge Muñoz, que três anos depois seria preso e até hoje continua desaparecido.

Ao voltar ao país de forma clandestina, em 1978, Marín se somou à resistência contra o regime militar, participou da organização dos grandes protestos realizados em 1983 e da restauração da democracia, sete anos mais tarde. Trabalhou pela reorganização do seu partido, afetado pela repressão interna, pela desaparição da União Soviética e do Muro de Berlim.

Candidata à presidência do Chile em 1993 e 1999, obteve menos de 5% dos votos, mas manteve sua gana de lutar e em janeiro de 1998 travou a primeira batalha judicial contra Pinochet, que ainda mantinha seu cargo de comandante-em-chefe do Exército.

 




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