A maioria dos homossexuais americano tem, desde o último dia 2 de novembro, motivos de sobra para se lamentar: a continuidade do governo Bush por mais quatro anos e a vitória em 11 Estados dos opositores ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Consultados em referendo locais, os eleitores votaram em massa a favor da emenda constitucional que proíbe o casamento gay. "A aquisição de direitos civis é uma longa luta, nós não estamos em um período favorável", disse Roberta Sklar, porta-voz da NGLTF (Associação Nacional de Gays e Lésbicas).

Alguns homossexuais se preocupam com a possibilidade de os democratas pensarem que a questão do casamento gay prejudicou o ex-candidato à Presidência John Kerry. O assunto pode ter consolidado a direita cristã e atraído eleitores a favor de Bush, que segurou a bandeira dos ‘valores morais’ na campanha.

A proposta de Bush para incluir uma emenda na Constituição para proibir o casamento gay teve apoio dos cristãos conservadores, escandalizados com as cenas de casamentos entre pessoas do mesmo sexo na televisão. A iniciativa do presidente, no entanto, não foi aceita no Congresso em julho. Porém, o assessor de Bush Karl Rove afirmou neste fim de semana que o presidente vai insistir na proposta: "Bush vai propor em seu segundo mandato uma emenda para proibir o casamento homossexual".

Embora as chances de mudar a Constituição sejam, aparentemente, pequenas, os homossexuais americanos consideram que a maré sopra no sentido contrário a suas reivindicações neste momento. "Os resultados do referendo de dois de novembro nos feriram, nós e nossas famílias. Este era o objetivo", disse Joan Garry, responsável de uma associação de defesa dos homossexuais.

As pessoas que são contra o casamento gay negam esta acusação: "Este assunto vai além dos enfrentamentos políticos", explicou Matt Daniels, presidente da Aliança para o Casamento. "É a expressão dos americanos comuns que querem proteger nossas famílias". Apesar de muito decepcionados, os grupos de pressão homossexuais ainda não desistiram de continuar lutando pela igualdade de direitos.

"Na história dos direitos civis nos Estados Unidos, cada vez que uma minoria esteve a ponto de conseguir uma vitória, teve de enfrentar forças contrárias bastante fortes", tranqüiliza-se David Buckel, militante da associação Lambda Legal, que luta por causa gays nos tribunais de Justiça.