Após treze anos, o que se vê do ambicioso projeto original Cidade Pirelli, na Vila Homero Thon, em Santo André, está muito aquém da promessa de recuperação econômica de uma região abandonada, localizada à beira da avenida Giovanni Batista Pirelli. Com a nova proposta idealizada pela empresa Brookfield para a área em parceria com a administração Aidan Ravin (PTB), parte dos vereadores buscam que a empresa garanta contrapartidas para o entorno.

O Cidade Pirelli teve aprovação no Legislativo em 1998, projetado pelo ex-prefeito petista Celso Daniel, morto em 2002, e previa investimentos na ordem de US$ 200 milhões. A matéria projetava a construção de blocos comerciais, casa de espetáculo, rua 24 horas, centro de convenções e até hotel quatro estrelas. O terreno pertencia à empresa Pirelli do Brasil, que buscou parceria com a Prefeitura para viabilizar a obra.

Os parlamentares afirmam que a intenção é evitar prejuízo à cidade após maciça isenção de tributos, como ICMS e IPTU, além de permuta de terrenos com empresa parceira. "Santo André precisa de contrapartida. Não está esclarecido o quanto a Pirelli recebeu de incentivos fiscais. Queremos saber o impacto que isso vai ter para o município. A empresa prometeu via de acesso que ligaria até a Avenida do Estado, parque, revitalização da Estação Pirelli da CPTM, cobertura total da Rua Oliveira Lima. Como fica agora?", questionou o vereador José Montoro Filho, o Montorinho (PT).

O petista ressaltou que não é contrário ao investimento da Brookfield, só defende a revogação do projeto original. "Não tem sentido continuar mesmo projeto, que parou no tempo e foi todo alterado. Defendemos audiência pública em agosto para redicutirmos processo", alega Montorinho, para alfinetar administração do correligionário. "O governo João Avamileno (2002-2008) deveria ter mostrado o andamento da parceria. Queria entender a razão de ter ficado parado por dez anos."

Para o vereador Almir Cicote (PSB), a Prefeitura, que anteriormente fez sua parte, regularizando áreas, por exemplo, deveria cobrar retorno em melhorias de infraestrutura, apesar de considerar que Cidade Pirelli não existe mais. "Questão de combate às constantes enchentes na Vila América é um ponto. Outro seriam intervenções na mobilidade urbana. Não pode simplesmente deixar para lá."

Dois terrenos da Cidade Pirelli foram comprados pela Brookfield por R$ 40 milhões. As áreas, que somam mais de 46,7 mil m², irão abrigar torres comerciais e residenciais. A promessa da multinacional é revitalizar o local com empreendimento que reúna as novidades do mercado imobiliário.

O líder do governo Aidan na Câmara, Donizeti Pereira (PV), avalia que as críticas estão sem consistência ou embasamento e que a simples visita do secretário de Habitação, Frederico Muraro Filho, desmistificaria qualquer empecilho. "Estão querendo achar pelo em ovo. É engraçado falar em revogação agora que (a Prefeitura) encontrou parceria. Espaço está jogado às traças. Teremos prédio comercial, residencial, shopping, vai gerar emprego formal e informal." 

Desde 1998 megaprojeto está apenas no rascunho 

Em 1998 foi passado para a população que o local, em dez anos, receberia investimento de R$ 200 milhões relativo ao projeto Cidade Pirelli. O prazo se esgotou. Hoje a região conta apenas com um parque com duas quadras, alguns bancos de concreto, tudo em precário estado de conservação.

O projeto da incorporadora Brookfield para a Cidade Pirelli deve demorar alguns meses para sair do papel, só que, segundo informado em audiência pública, o texto vai chegar à Câmara em setembro. Os investimentos devem girar em torno de R$ 700 milhões. O planejamento inicial previa a construção de 1.700 unidades habitacionais. Só que de um pequeno shopping aberto existe a possibilidade de sair um centro comercial mais amplo.

Antes de vender a área, a Pirelli disse ter feito a contrapartida no negócio (R$ 2 milhões para a cobertura da rua Coronel Oliveira Lima) e ainda duplicou a avenida Giovanni Batista Pirelli, recuperou uma escola na Vila Homero Thon e construiu parque.