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Últimas cenas de uma história incompleta
Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
07/03/2011 | 07:46
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Edmilson Magalhães/DGABC


É impossível mensurar a importância de Laís Elena na história do basquete. A treinadora que conduz o Santo André há 28 anos é reverenciada por quem milita no meio e foi decisiva na carreira de várias jogadoras, que deram salto de qualidade quando estiveram sob seu comando. Com habilidade incomum de trabalhar com poucos recursos, permitiu que o basquete andreense sobrevivesse às maiores crises. Reconhecidamente capaz, a treinadora marcou a aposentadoria para o fim do ano sem ter comandado a Seleção Brasileira.

A única experiência de Laís Elena no time nacional aconteceu em 2003, quando foi auxiliar do técnico Antonio Carlos Barbosa. "Fui convidada para comandar a Seleção há muito tempo, mas Santo André estava passando por trasição e preferi ficar. Depois, como auxiliar não me sentia bem, tínhamos visões diferentes. Hoje creio que seja inviável pela filosofia implantada pela Hortência ( atual coordenadora do basquete feminino) na CBB (Confederação Brasileira de Basquete). Ela prefere apostar em técnicos estrangeiros ou mais novos, que possam se adaptar ao que ela entende ser o melhor", declara, deixando claro o choque de interesses.

Uma das maiores tristezas de Laís foi acompanhar a Seleção no último Mundial, disputado em 2010. Na ocasião, a CBB apostou no técnico espanhol Carlos Colinas. "O pior treinador que o Brasil possa ter é melhor que o Colinas. Deu dó de ver nossa Seleção", critica. "Não sou totalmente contra a técnicos estrangeiros, mas que eles sejam melhores do que os brasileiros", completa.

Característica marcante de Laís é o comando fora de quadra. Atenciosa, ela não nega bate papo com as jogadoras e por isso é considerada uma mãe por muitas delas. "Jogadora é carente. É preciso entender o que passa com cada uma. Não adianta pressionar se a menina não está bem fora de quadra", explica a técnica, que transformou a coadjuvante ala Ariadna em cestinha da Liga Nacional.

Entre as dezenas de jogadoras que passaram por suas mãos, Laís destaca duas de qualidade inigualável. "A Janeth cresceu nos oito anos que jogou em Santo André. Armávamos o time para ela definir e isso alavancou a carreira dela. Mas teve a Marta, a melhor pivô que vi jogar. Ela era completa, tinha todos os fundamentos perfeitos", elogia.

No fim do ano, Lais Elena promete se aposentar. Apesar de se sentir motivada, a treinadora resolveu passar o bastão para sua eterna auxiliar Arilza Coraça. "Ela merece essa oportunidade por tudo que fez nesses anos. Chegou a vez dela assumir o time", explica a treinadora, que sonha em seguir trabalhando no basquete. "Em algum cargo nos bastidores, talvez", finaliza.

 

 

Treinadora está há 47 anos em Santo André

 

Apesar da intensa ligação com Santo André, Laís Elena nasceu em Garça, no Interior de São Paulo. Sua estreia no basquete aconteceu em 1957, aos 14 anos, quando passou a disputar os campeonato de base. Cinco anos depois, em confronto contra o Corinthians, a treinadora brilhou e foi convidada a jogar no Parque São Jorge.

O primeiro contato com Santo André aconteceu em 1964, quando a ex-jogadora foi contratada pela Pirelli. De lá para cá, criou raízes na cidade e permaneceu como jogadora até 1978, quando encerrou a carreira.

Entre as principais conquistas. Lais se orgulha da medalha de bronze no Mundial de 1971, disputado no Brasil. No Pan-Americano, a ex-jogadora foi bicampeã, ganhando nos anos de 1967 (Canadá) e 1971 (Colômbia), além do pentacampeonato Sul-Americano de clubes.

A estreia como treinadora no time adulto de Santo André ocorreu em 1983. Apesar de sempre conviver com falta de recursos, Lais mostrou competência incrível na garimpagem de talentos e revelou dezenas de jogadoras nas categorias de base, entre elas as irmãs Sobral (Marta e Leila), além da armadora Vivian e da ala Chuca, todas com passagens pela Seleção Brasileira.

Como treinadora, os principais títulos de Lais Elena foram conquistados em 1999, quando levou o Sul-Americano e o Campeonato Nacional. Na semana passada, a treinadora conquistou a primeira edição da Liga, além de ser coroada com o título de melhor treinadora do Brasil.

 

Após título da Liga, time deve ser mantido para a disputa do Paulista

 

Atual campeão da Liga Nacional, o Santo André/Semasa não deve ter alterações significativas no elenco para a disputa do Campeonato Paulista, que está previsto para começar em maio. Essa será a primeira competição da técnica Lais Elena após anunciar oficialmente a sua despedida para o fim desta temporada.

"Ainda estamos conversando com a Prefeitura e tentando novos patrocinadores que poderiam nos trazer reforços. Mas as principais atletas serão mantidas. O que não podemos de jeito nenhum é perder os nossos destaques para os rivais", ressalta Laís.

O título da Liga Nacional conqusitado sobre Ourinhos na semana passada, trouxe para a equipe algo que não acontecia desde o fim da década de 90, quando a cidade abraçou o time e lotava o Ginásio Pedro Dell'Antonia nos dias de jogos.

"Como a partida teve transmissão pela SporTV, muita gente hoje me para na rua para elogiar, conversar e pedir autógrafo. Isso também tem acontecido com as jogadoras. É muito importante esse reconhecimento, a presença dos torcedores nos jogos, isso que nos dá gás para continuar", acrescenta.

 

Mestre na arte de recuperar atletas fadadas ao esquecimento

 

Além da relevância na história esportiva de Santo André, Laís Elena marcou a vida de muitas jogadoras que passaram por suas mãos. Um dos maiores exemplos é a ala Leila, que viu na treinadora a chance de ressurgir para o basquete e brilhar na conquista do Campeonato Mundial de 1994, na Austrália, o último título de expressão do basquete feminino brasileiro.

"A Leila foi um dos destaques do Mundial da Austrália. Ela chegou em Santo André pedindo ajuda pois estava sem clube, sem dinheiro e com contusão no joelho. A gente conseguiu recuperá-la e fazer com que ela ainda jogasse mais três temporadas na Europa", conta.

Entretanto, o que marcou literalmente a carreira de treinadora foi a contratação da pivô Kelly Santos, em 2006. "Ela estava com 110 quilos, joelho operado e me ligou e pediu para treinar na cidade. Aceitamos a missão de recuperá-la a tempo de disputar o Mundial de 2006 e conseguimos. Depois, mesmo com propostas do exterior, ela jogou o primeiro turno do Campeonato Paulista de graça, como forma de retribuição", lembra Lais.

Outra contribuição de Lais Elena para o basquete pouca gente conhece. "Doze meninas reveladas em nossas categorias de base foram estudar nos Estados Unidos. Isso faz parte de trabalho social que fazemos", revela.

 

 




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