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Parque temático sobre Cristo será inaugurado em Orlando
Das Agências
02/02/2001 | 13:01
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Há 2000 anos o mundo não vê nada parecido. É o que diz o folheto publicitário do polêmico ‘‘parque temático cristão’’, que será inaugurado na próxima segunda-feira, em Orlando (Flórida), e que promete recriar o Velho e o Novo Testamentos, a Terra Santa e a Paixão de Cristo com um aparato digno de um Cecil B. de Mille, o mestre das superproduções bíblicas de Hollywood.

Em uma superfície de 60 mil metros quadrados, localizado entre a Universal Studios e o Walt Disney World, ‘‘The Holy Land Experience’’ (HLE, a ‘‘Experiência na Terra Santa’’) permite ao visitante percorrer a réplica da Via Crucis de Jesus até sua crucificação, proporciona uma visita ao Palácio de Herodes, à praça do mercado de Jerusalém da época do primeiro século de nossa era ou ao Túmulo de Cristo.

Proselitismo religioso pró-cristão? É o que pensa parte da comunidade judia de Orlando. Parque temático para partilhar a mensagem de Deus e de Seu Filho? É o que alega seu criador, Marvin Rosenthal, hebreu-cristão, ou seja, um judeu que acredita em Jesus Cristo.

A controvérsia está lançada na terra do Mickey Mouse e do Pato Donald. O estacionamento do parque fica ao pé de uma réplica das muralhas de Jerusalém. O visitante entra na Cidade Santa por uma de suas portas, uma reprodução de um arco romano. E aí começa ‘‘uma viagem multisensorial a 11 mil km de distâncias (da Terra Santa) e há mais de 3 mil anos no passado’’, segundo seu criador.

‘‘O ELH é um museu bíblico vivo que pretende abranger, de 1.450 a.C, quando Moisés e os israelenses erravam pelo deserto, até a morte de Jesus. Tudo isso graças aos efeitos especiais de luz e som, cenários com figurantes com trajes bíblicos ou couraças romanas, ou a um filme — exibido em uma sala do Palácio de Herodes — no qual, em vinte minutos, se mostra do Gênesis até a ressurreição de Cristo.

Esta fusão do Velho e Novo testamentos obedece claramente à crença cristã baseada na Redenção. ‘‘A Bíblia é a palavra de Deus, e Jesus é o filho de Deus’’ explica Rosenthal falando, no The Oasis Palms café, o restaurante-bufê árabe do parque, onde os visitantes poderão optar entre comida americana ou especialidades do Oriente Médio.

Cerca de 150 pessoas, entre extras e funcionários, ‘‘todos cristãos’’, trabalham no parque, que inclui também uma loja de objetos trazidos da Terra Santa (aqui os mercadores são do século XXI). Quase ninguém saúda com um “olá”e sim o bíblico “shalom”.

Ante as escadarias do Templo do Grande Rei, o figurante William Francis, construtor de piscinas, está fantasiado de mercador e tenta vender a ‘‘escrava’’ Joyce Newmayer, que é escritora. Não muito longe dali, seu marido Greg Newmayer, técnico em computadores, faz as vezes de sacerdote do templo.

Os três integram o quadro de figurantes contratado pelo HLE. ‘‘Adoramos este trabalho em um lugar incrível’’, afirmam. O mesmo entusiasmo reina entre os funcionários que terminam, em um recinto fechado, ‘‘a maior reprodução do mundo em escala (14 por 8 metros) da Jerusalém do século I’’, com 10 mil figuras trabalhadas e pintadas a mão.

Segundo Rosenthal, presidente da Zion’s Hope Inc, entidade evangélica cristã ‘‘sem fins lucrativos’’ e proprietária do terreno que abriga o parque, o objetivo é ‘‘divertir, instruir e reforçar a fé de seus visitantes’’.

Parte da comunidade judia não acha o mesmo. Daniel Wolpe, presidente da congregação de rabinos de Orlando, teme que o parque tenha fins ‘‘proselitistas’’ em favor da fé cristã. ‘‘Uma coisa é criar um centro em que se renda culto a uma tradição religiosa, e outra é fazer proselitismo para que as pessoas renunciem a suas crenças’’, o que é condenável’’, afirma.

Rosenthal se levanta contra essas acusações, contrárias à ‘‘liberdade de expressão e de religião nos Estados Unidos’’. ‘‘Não obrigamos ninguém a vir ao parque’’, alega.

Com um custo de US$ 16 milhões, financiados por contribuições privadas, fundações cristãs e rendimentos próprios, segundo Rosenthal, o parque terá de travar uma dura competição com os megaparques temáticos situados na região.

‘‘Esperamos cerca de 225 mil visitantes por ano e com isso sobreviveremos’’, afirma o promotor. Uma expectativa modesta comparada com os 15 milhões de pessoas que visitam todos os anos o Disneyworld ou os oito milhões que vão ao Universal Studios. ‘‘Não nos interessa ganhar dinheiro’’, insiste Rosenthal.

E se o parque temático cristão virar um êxito financeiro? ‘‘Então vamos abaixar o preço da entrada’’, assegura. No momento, os primeiros visitantes terão de pagar US$ 17 nas bilheterias localizadas junto à ‘‘Porta de Jerusalém’’. Um terço do que custa para entrar no Disneyworld.




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