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Canal volta a ser por inteiro do Panamá
José Antonio Pedriali
Especial para o Diário
31/12/1999 | 16:06
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Os Estados Unidos encerram neste sábado ao meio-dia 96 anos de presença militar no Panamá e entregam o canal para a administraçao desse país depois de mantê-lo em seu poder por 85 anos. Será uma cerimônia sem pompa nem circunstância, já que a passagem simbólica foi feita no último dia 14, sem a aguardada presença do presidente norte-americano Bill Clinton. A maior autoridade norte-americana a comparecer à cerimônia foi o ex-presidente Jimmy Carter, autor, junto com o ex-presidente panamenho Omar Torrijos, do tratado de transferência do canal para o Panamá, assinado em 1977.

Os norte-americanos concluem, assim, um ciclo de sua história, que teve o Panamá - e conseqüentemente o seu valioso e estratégico canal - como um dos principais protagonistas de sua política externa. Os EUA se retiram, sem sobressaltos - ao contrário de ingleses e franceses humilhados em 1956 pelo líder egípcio Gamal Abdel Nasser, que nacionalizou e ocupou à força o Canal de Suez -, mas permanecerao vigilantes: qualquer ameaça e qualquer tentativa de bloqueio será enfrentada militarmente. E esta nao é uma decisao unilateral, pois está prevista, por mais que tenham protestado e ainda protestem os nacionalistas panamenhos, no mesmo tratado que permitiu a transferência desta passagem interoceânica de 80 km de extensao, entre o Pacífico e o Atlântico, para o controle do Panamá.

O Panamá passará a ser, enfim, o senhor absoluto deste canal de navegaçao que deu origem ao país, desmembrado da Colômbia para permitir que os EUA assumissem a hercúlea tarefa de concluir as obras iniciadas pelos franceses e que, milhoes e milhoes de dólares depois e ao custo de 20 mil mortes, desistiram do projeto. "Pela primeira vez viveremos como maiores de idade, sem a tutela militar de um país amigo", comemora o ex-presidente panamenho Guillermo Endara.

A transferência do canal, sobretudo à medida que se aproximava a data fatal, foi torpedeada pelos setores conservadores norte-americanos. O senador Jesse Helms, republicado e todo-poderoso presidente da Comissao de Assuntos Exteriores do Senado, alarmou-se com a possibilidade de os chineses tomarem o lugar dos norte-americanos após a transferência. E ele encontrou aliados de peso nas Forças Armadas, mas todas as tentativas de boicotar o Tratado Torrijos-Carter foi por água abaixo. O temor tinha nome e endereço: a empresa Hutchison Whampoa Ltd., com sede em Hong Kong, de propriedade do multimilionário Li Ka-Shing.

Essa empresa acaba de assinar contrato de 25 anos para explorar os portos em ambos os lados do canal. Ka-Shing mantém relaçoes de amizade com a cúpula do governo comunista chinês, mas as suspeitas de que ele seria um instrumento de Pequim em uma suposta conspiraçao para o controle do canal nao foram adiante. "Somos nós os panamenhos que vamos administrar o canal, e com absoluta neutralidade", respondeu aos norte-americanos o ex-chanceler Carlos López Guevara, negociador do Tratado Torrijos-Carter.




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