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Bares e restaurantes fazem campanha contra o tíquete
Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
20/10/2005 | 08:51
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Criados por praticidade, os tíquetes-refeição são hoje encarados como problema em restaurantes, bares e lanchonetes do Grande ABC. Empresários do setor dizem que as altas taxas cobradas pelas administradoras têm achatado as margens de lucro, já que o preço dos alimentos não acompanha na mesma proporção os constantes reajustes.

Segundo dados da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), o peso das taxas cobradas pelas operadoras de tíquete-refeição – pagas pelos restaurantes – variam entre 7% e 13%, porcentagem muito superior aos 2% a 3% cobradas pelas administradoras de cartões de crédito e débito.

Junto com a Federação Nacional de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares, a entidade inicia nesta quinta-feira um boicote contra a cobrança, considerada excessiva. Cinco mil estabelecimentos no país, dos quais mil na Grande São Paulo, prometem recusar nesta quinta-feira o pagamento com tíquetes.

A reação do setor contra os tíquetes-refeição é condenada pelas administradoras. Nenhuma das quatro maiores em atuação no país comentou individualmente o boicote. Mas em nota divulgada por meio da Assert (Associação das Empresas de Refeição e Alimentação Convênio para o Trabalhador) informaram que consideram o impasse desnecessário, já que as taxas são negociadas caso a caso com os estabelecimentos.

O problema das tarifas cresce no mesmo ritmo da popularização do mercado de tíquetes, na avaliação da Abrasel. Os números explicam. O último levantamento sobre o setor revela que pagamentos com tíquetes ou vales-refeição já são mais de 30% do total e superam pagamentos em dinheiro e cheques (10%). O setor só perde para os cartões de crédito e débito, que são cerca de 60% da movimentação.

Lucro – O empresário Daílson Gonçalves, proprietário da rede de restaurantes O Caipira, em Santo André, se diz revoltado com as tarifas incidentes sobre os tíquetes-alimentação. "Não vale a pena aceitar. A gente só mantém o serviço para agradar aos clientes", afirma. "Os tíquetes são, na verdade, um agiota disfarçado. Engolem nosso faturamento sem dó", completa.

Gonçalves explica que a modalidade de pagamento quase zera o lucro do restaurante. "A matemática é simples: nossa margem de lucro é de 20% do valor do prato. Desse total, quando a conta é paga com tíquetes, sobram apenas 8%, ou seja, R$ 0,80 a cada R$ 10. Se pedir antecipação do dinheiro, que demora até 30 dias para chegar, o lucro líquido cai para R$ 0,26."

Embora restaurantes da região já não enxerguem os tíquetes com bons olhos, poucos são os empresários que se arriscam a recusar, já que a modalidade agrada consumidores. "Há muito tempo pago com tíquetes. Para mim, é a melhor forma de pagamento, seguro e prático", comenta a bancária Maria Madalena Almeida Silva, de Santo André.

O proprietário do Restaurante Alfarre, em Santo André, Fábio Soares da Silva, garante que mesmo considerando as taxas cobradas pelas operadoras de tíquetes – no caso dele, de 7% – não compensa recusar.

"Os vales e tíquetes-refeição respondem por 40% do total do meu faturamento. Trabalho com as cinco maiores administradoras em operação no mercado brasileiro há mais dez anos, e os clientes já se acostumaram com o serviço", diz Silva.

José Miranda, sócio-proprietário de cinco casas de alimentação no Grande ABC, decidiu há quatro anos não aceitar pagamentos com vales ou tíquetes-refeição. Segundo ele, o excesso de tarifas cobradas pelas operadoras inviabiliza a implementação do serviço.




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