Cultura & Lazer Titulo
Pato Fu anda para frente
Cláudio Luis de Souza
Da Redaçao 
05/10/1999 | 19:37
Compartilhar notícia


A grande questao a respeito do quinto disco do Pato Fu era uma só: a banda vai andar para frente ou para trás? Televisao de Cachorro, o quarto álbum, lançado em março de 1998, mostrou uma banda mais densa e menos dada a piadinhas infames e musiquinhas engraçadas.

Sintoma disso, Cançao pra Você Viver Mais, hit do álbum, tinha mais influência de Cocteau Twins do que de gibis, e falava da morte do pai da cantora Fernanda Takai. Toda essa gravidade temática e estética nao impediu que fosse uma das faixas mais tocadas de Televisao. Ficou provado que este era um caminho viável. Agora chegou o quinto disco, Isopor, que tem a cançao Depois tocando nas FMs, e a constataçao é a de que o Pato Fu avançou com o novo trabalho - e com passos de gigante.

A primeira faixa de Isopor é inacreditável. Chama-se Made in Japan, é cantada em japonês (Fernanda, que nao conhece o idioma, foi assessorada por uma professora) e é igual - igual mesmo, idêntica - a Pizzicato Five, a melhor banda pop oriental. Atençao, o grupo assume que quis copiar.

A segunda faixa dá título ao CD e é uma espécie de trip-hop arrastadao, na linha do que o Massive Attack fez em Mezzanine. A terceira é a delícia pop Depois, fácil de conferir nas rádios.

A quarta música é Um Ponto Oito - e é este também o momento em que o ouvinte cético passará a duvidar de que se trata de uma banda pop nacional. A cançao mixa deliberadamente Radiohead fase The Bends com, de novo, Massive Attack; Fernanda utiliza recursos técnicos que acentuam a citaçao de Björk nos seus vocais; a faixa dura quase sete minutos; e a letra narra o atropelamento de um pobretao por um motorista indiferente e seguro de si dentro de seu carro 1.8. Ao morrer, o atropelado diz: "Fiquei com a pior parte/De tudo o que é chamado civilizaçao".

Depois disso vem Imperfeito, uma releitura da Jovem Guarda feita por meio de uma cançao inédita e deliciosa, provável segundo hit nas FMs e capaz de ridicularizar qualquer tentativa anterior de voltar àquelas ve-lhas tardes de domingo (Kid Abelha tentou, Ira! tentou).  

E por falar em imperfeiçao... Morto, a faixa seguinte, é a pior de Isopor, cantada por John e a única que lembra o passado eletrônico-cômico do Pato Fu.  Mas a roqueira O Filho Predileto do Rajneesh apaga a má impressao, resgatando a vivência do guitarrista na cena semi-underground mineira dos anos 80, com a banda Sexo Explícito.

Perdendo Dentes, candidata a terceiro hit, é outro doce pop, o primeiro confeitado em parceria musical pelo casal John/Fernanda (é a faixa que mais lembra Antes que Seja Tarde, de Televisao). Saudade, uma espécie de sambinha drum and bass, e a quase agressiva Prato do Dia, com baixo chupado de Peter Hook, do New Order, mantêm o interesse e o nível. O disco termina com John dando uma de Tindersticks caipira em Quase.

Para fim de conversa: Isopor define o Pato Fu como a única banda puramente pop do Brasil. Nada de reggae, nada de rap, nada de maconha, nada de bunda. Apenas reciclagem de boas idéias, maturidade musical e um grande disco.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;