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Histórico do seqüestro de Celso Daniel
Do Diário do Grande ABC
26/01/2002 | 18:31
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18 DE JANEIRO (SEXTA-FEIRA)

O prefeito Celso Daniel jantou com o empresário Sérgio Gomes da Silva no restaurante Rubayat, na alameda Santos, em São Paulo;

o jantar terminou, segundo um manobrista do restaurante, às 22h45; Celso e Silva deixaram o local na Mitsubishi Pajero blindada do empresário rumo a Santo André;

no início da r. Antônio Bezerra, na Vila das Mercês, em São Paulo, via popularmente conhecida como Três Tombos, os passageiros da Pajero perceberam que estavam sendo seguidos por uma Blazer e um Santana; um dos carros dos perseguidores bateu algumas vezes na Pajero;

a perseguição prosseguiu na Antônio Bezerra por três quadras, três ladeiras; no início da terceira, o carro do empresário parou (segundo Silva, o acelerador “rodou” em falso e o câmbio não funcionou); um dos pneus foi furado por uma bala;

os carros dos perseguidores, que já haviam ultrapassado a Pajero, retornaram e fecharam a passagem de Silva e seu acompanhante, Celso;

os seqüestradores do prefeito se aproximaram pelas laterais da Pajero e dispararam pelo menos quatro vezes contra os vidros blindados, na direção das cabeças de Silva e Celso n segundo depoimentos e entrevistas de Silva, ele não conseguiu fazer seu carro se movimentar, momento em que os seqüestradores abriram as duas portas dianteiras da Pajero e puxaram os dois ocupantes para fora;

Silva segurou o braço de Celso, ao mesmo tempo em que tirou o pé do freio para fazer o carro andar para trás e, assim, tentar dificultar a ação dos criminosos;

Celso foi arrancado do carro e Silva deixou o carro deslizar para trás, até o fim da ladeira;

Silva viu os seqüestradores colocarem o prefeito na Blazer, apanhou seu revólver no banco traseiro da Pajero, mas não disparou;

às 23h30, os seqüestradores fogem com Celso; Silva telefona para a polícia para informar que o prefeito de Santo André acabava de ser seqüestrado; depois, telefonou para o celular do prefeito e deixou recados na caixa postal pedindo que os seqüestradores negociassem n o governador de São Paulo Geraldo Alckmin foi informado ainda nesta noite, bem como os petistas Marta Suplicy (prefeita de São Paulo), Antonio Palocci (prefeito de Ribeirão Preto), José Genoíno (deputado federal) e Aloizio Mercadante (deputado federal);

19 DE JANEIRO (SÁBADO)

os peritos chegaram por volta da 0h30, examinaram a Pajero e liberaram o local às 2h45;

à 1h45, o secretário de Segurança Pública Marco Vinício Petrelluzzi chegou com seus assessores ao 26º Distrito Policial, localizado a poucas quadras da rua em que ocorreu o seqüestro do prefeito; Silva já estava lá para prestar seu primeiro depoimento (durou quatro horas); o depoimento terminou sem que fossem feitos retratos falados dos criminosos;

Luís Inácio Lula da Silva, presidente de honra do PT, que estava no sul da Bahia, foi informado e providenciou imediatamente seu retorno a São Paulo;

após a divulgação das primeiras informações (TV e rádio) sobre o seqüestro, começaram a chegar a Santo André os primeiros assessores e amigos de Celso Daniel; foi o início de uma vigília que se prolongaria por toda a madrugada e manhã deste dia;

os primeiros líderes petistas presentes no Paço Municipal de Santo André, ao lado de assessores e amigos de Celso, formaram uma comissão para acompanhar em tempo integral o andamento do seqüestro e, sobretudo, aguardar um contato dos seqüestradores;

a prefeita Marta Suplicy, em entrevista aos muitos repórteres já de plantão no Paço Municipal, criticou o governador Alckmin e o secretário Petrelluzzi: “Eu, como prefeita da cidade (São Paulo), exijo do governador atitudes”;

ao longo da madrugada, a Polícia Militar realizou cercos no Grande ABC e nas principais saídas de São Paulo; na região, as atenções se concentraram em sítios e chácaras de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra; em São Paulo, os focos foram favelas das regiões Sul e Oeste da cidade;

João Avamileno (PT), vice-prefeito de Sto.André, pediu, por meio dos meios de comunicação, aos seqüestradores: “Seja qual for a razão (do seqüestro), por favor façam contato”;

Lula, já em Santo André, informou que recebeu um telefonema de FHC; o presidente lhe falou que havia determinado a ação da Polícia Federal para auxiliar nas investigações; Lula disse que a ligação de FHC dava a conotação da importância de Celso Daniel;

Lula declarou para a imprensa: “Celso é o prefeito mais palatável do PT. Não tem inimigos políticos na cidade. Não é justo nenhum ser humano passar por isso”;

o dia foi angustiante sobretudo pelo fato de os seqüestradores não terem feito contato com as lideranças presentes em Santo André;

sem informações precisas sobre as investigações, os jornalistas colheram opiniões variadas de boa parte dos integrantes da vigília; entre outras possibilidades falou-se em: seqüestro comum, fruto da crescente violência nas grandes cidades; seqüestro com finalidade política; e seqüestro com o propósito de, talvez por motivação econômica, calar o prefeito Celso Daniel;

“Nada está descartado”, disse o governador Alckmin;

as supostas ações violentas cometidas pela Farb (Frente de Ação Revolucionária Brasileira) contra petistas, bem como as cartas ameaçadoras enviadas e assinadas pelo mesmo grupo, entraram na lista de principais pontos a serem investigados pela polícia;

no Grande ABC, além de Celso Daniel, receberam ameaças da Farb os prefeitos Maria Inês Soares (Ribeirão Pires), José de Filippi Júnior (Diadema) e Ramon Velasquez (Rio Grande); estes são quatro dos 15 prefeitos petistas no Estado que foram intimidados pela Farb;

o governador Alckmin e o secretário Petrelluzzi informaram que toda a estrutura policial do Estado (Rota, divisões anti-seqüestro e os helicópteros Águia, por exemplo) tinha como prioridade a localização do prefeito;

o presidente Fernando Henrique e o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Justiça) determinaram que todo o efetivo da Polícia Federal em São Paulo ficasse à disposição; “acredito em crime político”, afirmou o ministro;

às 17h, a Polícia Civil requisitou a fita que contém imagens registradas pelo circuito interno de TV do Rubayat;

às 17h30, tomando como base o depoimento do empresário Sérgio Gomes da Silva (ele disse que os seqüestradores riam muito e disparavam suas armas em várias direções), a Polícia Federal informou que seus agentes não trabalhavam mais no caso;

uma das resoluções tomadas pelos líderes da vigília foi a realização, na tarde do dia seguinte (domingo, às 16h), de um ato ecumênico público na esplanada do Paço Municipal;

o alto escalão da polícia de SP levou para o governador Alckmin duas propostas para coibir o crime: criação de recompensa para policiais que prendessem seqüestradores e que a maior parte do efetivo policial do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) passasse a se dedicar a resolver esse tipo de crime;

à noite, por volta das 23h, aconteceu uma reunião no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista; na mesa, além de Alckmin, Petrelluzzi, Marta Suplicy e Eduardo Suplicy (senador), 12 prefeitos, 14 deputados e dois vice-prefeitos – João Avamileno era um deles; o encontro teve como objetivo determinar estratégias para resgatar Celso Daniel, mas surgiram poucas informações e os petistas consideraram que não ouve resultados;

Alckmin, mais uma vez, citou números de 2001; segundo ele, foram presos no período 243 seqüestradores e outros 17 morreram em confronto com a polícia; “Estamos numa guerra”, afirmou; no ano, o crime de seqüestro foi o que mais cresceu (324%): 267 casos até o mês de novembro;

alguém supostamente ligado ao grupo que seqüestrou Celso telefonou para o senador Suplicy e para o governador por telefone celular pré-pago; a polícia, lamentavelmente, não gravou a ligação;

a edição de sábado do Diário chegou às bancas pela manhã com a seguinte manchete: Seqüestrado Celso Daniel (prefeito de Sto.André retornava de jantar quando foi rendido)

continua




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