Apoiada em veículos bons e competitivos, a coreana Kia registra forte crescimento. Nos primeiros quatro meses de 2010, suas vendas atingiram 15.053 unidades contra 4.700 no mesmo período de 2009 - expressiva alta de 219%.
No comando da marca no Brasil há 17 anos, o empresário ituano José Luiz Gandini afirmou que a Kia teria crescido ainda mais não fosse a falta de alguns modelos, como o sedã Cerato, devido à grande procura.
Gandini prepara o terreno para arrancada ainda maior. Já estão programados novos lançamentos: Koup (agosto), Cadenza (setembro), nova Sportage (outubro) e Cerato hatch (dezembro). No próximo Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro, será apresentará o Soul com motor flexível. Depois virão o Cerato e o Picanto, também importados da Coréia com motor bicombustível. Ontem, ele apresentou o novo Sorento, que chega mais atualizado e competitivo.
Outra novidade está prevista para julho, quando a fábrica construída por Gandini no Uruguai começa a montar o caminhão Bongo. A rede Kia de 129 concessionárias será ampliada para 150 até o fim do ano - inclusive com um novo ponto no Grande ABC, em São Caetano.
Entre os 22 integrantes da Abeiva (Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores), a Kia detém 58% do volume, que foi de 26.708 unidades somando todas as associadas de janeiro e abril.
Também na presidência da Abeiva, Gandini reivindica maior abertura aos importados, que representam menos de 3% do mercado nacional. Em 2009, a Abeiva registrou importação de 47.294 veículos. A previsão é que alcance 80 mil ao fim deste ano.
"O veículo importado, aquele que paga 35% de alíquota de importação, não traz nenhuma ameaça à indústria local. Pelo contrário, estimula a competição e favorece o consumidor com produtos mais sofisticados", afirmou ele ao Diário.
DIÁRIO - O senhor acredita num crescimento ainda mais vertiginoso dos veículos importados?
JOSÉ LUIZ GANDINI - Em 2010, deveremos quase dobrar em relação ao ano passado - passando de 47.294 para 80 mil veículos. O mercado para os importados tende a crescer mais nos próximos anos com a chegada de novas marcas, principalmente as chinesas.
DIÁRIO - A vinda de novas marcas deve ser encarada com preocupação pela indústria local?
GANDINI - Não. O Brasil precisa de mais concorrência. Não podemos ficar mais nas mãos de seis, sete montadoras, que dominam quase todo o mercado nacional. Na maioria dos países, as vendas são pulverizadas entre as várias marcas. Não existe ameaça à indústria nacional. O veículo importado, que atualmente representa menos de 3% do mercado nacional, só ajuda a estimular a competição e favorece o consumidor com produtos bem mais sofisticados.
DIÁRIO - Por que as vendas de veículos importados vêm crescendo mais que o mercado como um todo?
GANDINI - Apresentamos (todas as marcas da ABeiva) expansão expressiva de 195% nos quatro primeiros meses do ano - de 9.034 unidades, no mesmo período de 2009, passamos para 27.708. Se atingirmos 80 mil unidades em 2010, estaremos voltando a um mercado de 16 anos atrás. O melhor ano para os importados foi 1995, quando vendemos 119.543 veículos. Naquele ano, a alíquota de importação era 20%.
DIÁRIO - O senhor acredita que a alíquota do imposto de importação será diminuída?
GANDINI - Acredito que ela vá cair de 35% para 20% nos próximos anos. Este imposto é utilizado como moeda de troca do Brasil, que reivindica abertura para seus produtos em outros mercados. O Brasil não poderá ficar com este imposto alto por muito tempo.
DIÁRIO - Os importadores têm condições de atender à demanda se as vendas dispararem?
GANDINI - O planejamento do carro importado é muito mais difícil. O carro vendido hoje foi encomendado quatro meses atrás. Quando se traz um novo carro ou há mudança em algum modelo, perdemos seis meses no processo de homologação devido à complexa burocracia nos órgãos governamentais. A marca que eu presido, a Kia, teve falta de produtos devido à procura maior que o previsto. O fabricante lá fora não tem como atender a uma alta repentina.
DIÁRIO - A redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) beneficiou os importados?
GANDINI - Desde dezembro havia acabado o desconto do IPI para carros a gasolina - 100% dos importados. O benefício só terminou em março para carros flex, que são 93% dos veículos vendidos no Brasil. Mas, impulsionado pelo fim do benefício, o consumidor correu também para comprar o importado, que registrou o melhor março em vendas, com 8.716 unidades emplacadas.
DIÁRIO - A possibilidade de retaliação do governo brasileiro contra os Estados Unidos preocupa associados da Abeiva?
GANDINI - Tivemos reunião com o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) e ele nos disse que o Brasil e os Estados Unidos já chegaram a um acordo. A informação oficial será divulgada quando terminar a redação dos termos do entendimento, que será assinado pelos dois países. A Chrysler e a BMW, que trazem modelos dos Estados Unidos, poderiam ser atingidas. Com o fim do impasse, está tudo resolvido.
DIÁRIO - Qual o segredo da Kia para o crescimento vertiginoso no País?
GANDINI - A marca vem sendo muito bem trabalhada, com produtos e serviços de qualidade. Crescemos 219% nos quatro primeiros meses do ano, e se tivéssemos mais carros teríamos vendido tudo. Vamos ampliar a rede de 129 para 150 pontos, trazer novos modelo, o motor flex e inaugurar a fábrica no Uruguai. Estas ações vão beneficiar ainda mais a Kia, que cada vez mais conquista confiança junto ao consumidor brasileiro.
DIÁRIO - O desentendimento entre o senhor e o representante da Hyundai no Brasil, Carlos Alberto Andrade de Oliveira, está superado?
GANDINI - Claro, há mercado para todo mundo. As duas marcas são co-irmãs e não há necessidade de desentendimento. O que aconteceu foi que eu contestei a afirmação dele segundo a qual a Hyundai era a quarta maior marca do mundo. Não é a marca Hyundai e sim o Grupo Hyundai - do qual nós fazemos parte - que detém a quarta colocação. Ele baixou o nível, dizendo que a Kia era marca de segunda classe, o que é uma idiotice.
Diário - Qual é o sentimento do grupo em relação ao Brasil?
Gandini - O Brasil é a bola da vez. A exposição do País no Exterior aumentará muito com a Copa do Mundo e a Olimpíada. Para receber todo mundo que virá para cá, temos de melhorar a infraestrutura. Isso beneficiará a indústria automobilística, que pega embalo no crescimento econômico.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.