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Jairzinho se firma como compositor e intérprete
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
03/02/2001 | 18:01
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Jairzinho Oliveira apostou em si quando decidiu assumir o controle do próprio trabalho. O ex-vocalista do grupo infantil Turma do Balão Mágico cresceu e virou um versátil compositor, intérprete, arranjador e produtor musical. Filho do elétrico Jair Rodrigues, é o oposto do pai em sua timidez, mas faz parte de uma geração de amigos e músicos que têm um trabalho pessoal dentro da melhor tradição da MPB. Seu disco de estréia, o autoral Dis’Ritmia (Trama, R$ 18 em média), mostra a que veio o filho do Jairzão. Também revela a influência do jazz na música pop de um artista brasileiro formado na Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos.

O começo da carreira foi cedo, aos 5 anos, em 1980, ao lado do pai, cantando a música Deus Salvador. O resultado foi bom e os dois gravaram Io e Te, em italiano, para o Festival de San Remo, e para um clipe exibido no Fantástico, da Globo.

Nessa época, a gravadora CBS (hoje Sony Music) procurava mais uma criança para formar o Balão Mágico, com Toby, Mike e Simony. Sobre o caso envolvendo a antiga parceira, com quem não fala há anos, Jairzinho prefere não comentar. “Cada um seguiu sua carreira. Não brigamos, apenas nos distanciamos como colegas de escola que não se vêem mais”, comenta.

Jairzinho compõe desde os 13 anos, começou a gostar das músicas que fazia aos 16, mas considera que sua evolução musical surgiu no período de 1993 a 1998, quando fez o curso de música popular em Berklee. Antes, ele ouvia Nelson Sargento, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, que seu pai sempre gravou. Depois, ouviu muito Djavan e João Bosco, atento às harmonias, melodias e arranjos dos dois compositores. Depois veio Gilberto Gil, pelas mesmas razões, e Tom Jobim.

Mas nada disso aparecia em seus cinco anos de Balão Mágico, nem quando fazia dupla com Simony em 1987 e nem com a Patrulha do Barulho. “Até sair do Brasil, só fazia projetos arregimentados pelos diretores das gravadoras. Só entrava em estúdio para cantar músicas que vinham prontas. Queria ter controle maior do trabalho, queria gravar coisas minhas, tocar em uma faixa. Isso me estimulou a sair do país”, conta.

Fazer o curso fora foi uma necessidade na época. “Queria saber mais sobre música e aproveitar toda a infra-estrutura de Berklee. Não queria fazer música erudita, não era meu objetivo. Queria fazer música pop, samba, queria conhecer coisas novas”, diz.

Em Berklee, Jairzinho compreendeu a riqueza melódica de Jobim, considerado por seus mestres, ao lado de Duke Ellington, um deus do jazz. Do jazz? Jairzinho entendeu a importância musical de Tom Jobim para a música norte-americana em uma universidade tipicamente jazzística, na qual o maestro é mais conhecido e estudado do que no Brasil. “Quando ele morreu (em 1996) eu estava lá. Foi uma tristeza geral entre alunos e mestres”, conta.

Quando sentia falta de um clima de brasilidade, almoçava em restaurantes que serviam comida brasileira. Nas apresentações dentro da universidade, tocava Djavan, João Bosco e músicas que já arriscava compor. Contudo, o melhor da fase em Boston foi conhecer músicos de vários países, conviver com várias tendências e estilos. Ouvia hip hop, jazz e black music.

Seu CD é um pouco de toda essa trajetória. Samba com jazz e hip hop, costurado com soul music, já mostrando influência de Tim Maia e Jorge Benjor, de Stevie Wonder e Michael Jackson. Jairzinho diz que faz música, com influência brasileira, com um toque de jazz, com samba, com funk. “O disco tem minha cara e consolida a idéia que eu tinha de mostrar meu trabalho, não só como intérprete”. Trabalho esse que não recusa a mistura. “A música ficou desinteressante em um período até começarem a misturar. A mistura é importante, não dá para ser purista, mas ela não é planejada”, afirma.

Planejada é sua carreira. Jairzinho não espera que Dis’Ritmia seja um estouro de vendas. “A estratégia é consolidar a carreira aos poucos. Não me preocupo em explodir de vender e depois sumir do mercado”. Material para continuar na carreira não falta, pois Jairzinho é tímido, mas não pára de criar: “Tenho umas 150 músicas compostas e umas 110 não gravadas”. Ele costuma fazer letra e música juntas, a não ser em parcerias, e tem também temas instrumentais.

A origem do CD começou em 1998, quando Jairzinho voltou ao Brasil e foi procurar sua turma entre os filhos de Elis Regina, João Marcelo Bôscoli e Pedro Mariano, e os filhos de Wilson Simonal, Max de Castro e Wilson Simoninha. Na verdade, começou após um jogo de futebol de fim de semana na casa de seu pai. João Marcelo já estava com idéia de montar a gravadora Trama e era amigo de Simoninha.

Cada um chamou seu irmão e todos foram para a casa de Jairzinho. Depois do jogo, fizeram uma jam session, incluindo Luciana Mello, irmã de Jairzinho. A idéia agradou e levaram a jam para o Supremo Musical. Daí surgiu a produtora S de Samba.

A partir daí, Jairzinho tornou-se requisitado como produtor. Trabalhou nos CDs de Jair Rodrigues 500 Anos de Folia, volumes 1 e 2, no álbum da irmã Luciana, em seu próprio CD, no disco de Vicente Barreto, todos lançados pela Trama, e no CD do MPB4, da Abril Music.

Em 17 de março deste ano ele completará 26 anos, no mesmo dia do aniversário de Elis Regina. “Quando nasci, Elis mandou uma carta para minha mãe. Ela estava grávida de Pedro e disse: ‘Se for menina, espero que eles cresçam juntos e possam trabalhar como eu e o Jairzão trabalhamos’. Ela só errou o sexo”, diz Jairzinho.




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