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Campanha eleitoral espanhola esquenta
Do Diário do Grande ABC
11/03/2000 | 16:11
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Quando os socialistas acusaram o presidente do governo espanhol José María Aznar de utilizar o `sangue' derramado pela ETA para ganhar as eleiçoes, a campanha eleitoral espanhola chegou a seu ponto culminante, às vésperas da votaçao deste domingo, depois de semanas de uma campanha morna, em que ficou caracterizada a falta de agressividade dos candidatos.

Aznar se dedica "ao comércio de sangue para ganhar votos" na reta final da campanha eleitoral, afirmou nesta semana um dos principais dirigentes do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), José Bono, que respondia assim ao candidato do Partido Popular (PP) à sua sucessao, que havia denunciado a "ambigüidade" da oposiçao socialista em relaçao à organizaçao separatista basca armada (ETA).

A campanha havia passado até o momento a impressao de que nao esquentaria. Um exemplo sao os cartazes dos dois lados, espalhados pela capital Madri e por outras cidades espanholas. Num deles, aparece a foto de Aznar, com um lacônico "Vamos além", enquanto que em outro está o socialista Joaquín Almunia, com uma fria legenda - "O próximo". No cartaz do candidato Francisco Frutos, da Esquerda Unida (IU), aparece apenas um "Somos necessários".

Um estudo realizado esta semana por especialistas em Direito Eleitoral da Universidade espanhola de San Pablo CEU (privada), a partir dos cartazes eleitorais, analisou como a imagem dos candidatos chegava aos eleitores.

Segundo a pesquisa, Frutos ganhou a imagem de um homem "de rosto frio", a de "um funcionário com sinais antiburgueses antiquados". O de Almunia criou a idéia de um homem "tranquilo, confiante, prático, com poucas arestas e um toque burlesco", enquanto que o de Aznar provocou a impressao de um homem dotado de grande autocontrole, "reservado e reflexivo" que nao busca autopromoçao com suas obras.

Mas nao foi assim que o PSOE o apresentou na propaganda eleitoral gratuita da TV estatal. Com uma música de fundo parecida com a do filme `Psicose', de Alfred Hitchcock, o vídeo eleitoral socialista mostrou um Aznar de cenho franzido, rosto sério e depreciativo.

As seqüências iam se superpondo, enquanto uma voz em `off' afirmava: "Nao podemos continuar com um presidente de direita que mente, que está longe das idéias e dos interesses da maioria, que só quer aumentar seu poder enquanto a Espanha se enfraquece". Ao mesmo tempo, uma legenda alertava: "11 pessoas nomeadas por Aznar têm duas em cada três açoes na Bolsa. Eles querem ficar com tudo".

Diante das `mentiras' de Aznar, o vídeo dos socialistas contrapôs seqüências de Almunia em comícios eleitorais, sorridente e abraçando várias pessoas, enquanto se ouvia uma voz em `off': "Chegou o momento de abrir uma nova etapa com Joaquín Almunia".

Trata-se de um argumento usado freqüentemente pelo líder socialista: "Vamos ganhar porque temos um projeto de futuro" contra a "política do dinheiro de Aznar". É preciso denunciar sua `política do bolso' e sua falta de `valores morais'.

A respeito, uma leitora de um jornal espanhol escreveu: "Me pergunto se isso pode ser chamado de campanha (se referindo a Almunia), pois o candidato do PSOE nao diz nada, nao aborda nada e se dedica apenas a desqualificar o PP e Aznar, de qualquer maneira".

Até o caso Pinochet entrou na campanha. Quando o ex-ditador chileno saía de Londres, os candidatos esquerdistas transformaram sua libertaçao em tema essencial da campanha, criticando os `entraves' impostos à justiça pelo Governo para evitar sua extradiçao à Espanha.

Aznar tentou se apresentar sempre como um homem `racional', `razoável' e com `objetivos claros', afirmando volta e meia que o PSOE e sua aliança com o IU nao passavam de uma `pirueta eleitoral'.

Almunia, por sua vez, denunciou freqüentemente Aznar e suas promessas para os aposentados, os estudantes e os agricultores, dizendo que o candidato do PP "crê que nós, espanhóis, somos gente com dinheiro, mas sem idéias, sem coraçao, sem sentimentos, sem valores a defender", prometendo ao mesmo tempo uma "mínima repartiçao das riquezas".




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