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Conjunto habitacional IAPI nasceu com ABC industrial
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
22/09/2001 | 18:27
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No próximo ano o conjunto habitacional IAPI (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriais) na Vila Guiomar, em Santo André, completa 60 anos do início da construção. Criado em 1942 – a primeira etapa era composta por casas geminadas –, o conjunto é um retrato do crescimento da industrialização no Grande ABC na década de 40. No fim da década havia em Santo André 443 estabelecimentos industriais que empregavam 27.775 pessoas. A cidade concentrava mais da metade dos operários da região na época (46 mil) e também do total de empresas (741). A necessidade de abrigar os operários do município deu impulso à segunda etapa do conjunto de prédios na Vila Guiomar, localizados a menos de um quilômetro do Centro da cidade, que começou em 1942 com as casas do IAPI, em plena era Vargas, e mudou o cenário arquitetônico do município.

Prédios de três andares e construídos no estilo chamado de caixote, por causa do comprimento, sobre pilotis e dispostos em uma área com amplos espaços vazios deram um ar de modernidade no bairro que ainda abrigava plantações de café, criadouros de animais e muitas casas que dependiam de poços no quintal para garantir o abastecimento de água. No próximo ano, o início da construção do conjunto vai completar 60 anos e o patrimônio arquitetônico não tem muito o que comemorar por conta da degradação dos prédios e das modificações que foram feita ao longo do tempo nos projetos originais.

“Quando eu mudei para o conjunto IAPI, há 44 anos, era tudo muito diferente de hoje. Os prédios eram bem cuidados e ninguém tinha janela nem porta diferente em seus apartamentos. A cidade e o conjunto também eram bem mais tranqüilos e as pessoas mais educadas”, afirmou a dona de casa Maria Quitéria de Oliveira, 76 anos. Ela disse que se mudou para um apartamento no conjunto IAPI porque o marido havia se aposentado depois de trabalhar na indústria em São Caetano.

Com a industrialização na região, oito sindicatos de trabalhadores de São Paulo e de Santo André bateram às portas do IAPI, um dos braços do antigo órgão de Previdência do governo federal, Instituto de Aposentadorias e Pensões que era dividido por categorias de trabalho, para reivindicar a construção de um conjunto de moradias para abrigar os operários. O projeto designado para Santo André foi desenvolvido pelo arquiteto Carlos Frederico Ferreira e levou em conta o projeto original do bairro da Vila Guiomar, implementado na década de 20 com ruas sinuosas e cheias de curvas.

A primeira etapa do conjunto começou em 1942 com a construção de 200 casas geminadas nas ruas dos Capuchinhos, Gonzaga Franco, Paula Souza, Garcia Rodrigues e Rodolfo Santiago. Na segunda etapa, iniciada em 1946, foram erguidos os prédios na rua das Monções, que possuem 312 apartamentos – chamados, mais tarde, de ‘prédios velhos’. Na terceira etapa, que começou em 1950, foram construídas 234 casas geminadas conhecidas na época como ‘caixas de fósforos’, por causa do tamanho, e na última etapa, também iniciada em 1950, foram feitos os chamados ‘prédios novos’, num total de 34 edifícios com 978 apartamentos.

Além de ser inovador no projeto arquitetônico e na finalidade, abrigar o grande contingente de trabalhadores da indústria na época, o Conjunto IAPI também foi palco da primeira grande invasão do Grande ABC. Depois de mais de dez anos em construção, os futuros moradores se viram diante de apartamentos prontos, mas sem condições de uso por falta de ligação de água e esgoto por parte da Prefeitura. Após uma consulta com diretores do IAPI no Rio de Janeiro, os moradores resolveram invadir os prédios para forçar a administração municipal a ligar as redes de água e esgoto.

Em 1967, ao som de marchinhas tocadas na época, aconteceu a primeira invasão. As famílias ocuparam casas e apartamentos construídos nas últimas etapas do conjunto e não foram registrados tumultos. Depois de serem intimados na Delegacia de Crimes contra o Tesouro e a Fazenda, os moradores conseguiram que a Prefeitura ligasse as redes de água e de esgoto e posteriormente começaram a pagar os aluguéis ao IAPI.

A dona de casa Tereza Lourenço, que mora no conjunto há mais de 40 anos, afirma que sente saudades da época em que os moradores faziam quermesses e festas comunitárias. “Naquela época os gramados eram bem cuidados e o conjunto era mais bonito”, afirmou.

Segundo a arquiteta Fabiana Cristine Póvoa, que fez um projeto de graduação sobre alternativas para utilização dos espaços vazios do Conjunto IAPI de Santo André e a necessidade de revitalização e conservação do projeto original, os problemas fundiários do local estão entre as principais causas da degradação. O conjunto é formado por áreas do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social), sucessor dos INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), criado para substituir os IAPs, da Prefeitura Municipal, principalmente as ruas de acesso dentro do conjunto e também espaços vazios, e dos moradores, os prédios e as casas. Para Fabiana, isso dificulta a preservação do conjunto porque cada um dos donos teria de agir dentro de um plano em conjunto.




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