Um retrato produzido em clima intimista e descontraído de um patrimônio do samba é o que oferece o recém-lançado DVD Cartola e Dona Zica - MPB Especial 1973 (Biscoito Fino, R$ 47, em média). Extraído do histórico programa dirigido por Fernando Faro, o vídeo mostra o compositor carioca à vontade, acompanhado pela mulher e o grupo Regional do Evandro.

Aos 65 anos, o sambista ainda não havia gravado o primeiro disco, o que ocorreu no ano seguinte. Mas já detinha extenso currículo de bons serviços prestados à música popular, que incluía a criação da Estação Primeira de Mangueira, nos anos 1920, e composições antológicas como Acontece, Tive Sim e Amor Proibido, interpretadas durante a atração.

Apesar do reconhecimento tardio, Cartola não demonstrou amargura ao falar dos tempos em que trabalhou como pedreiro e lavador de carros. Entre uma tragada e outra no inseparável cigarro, relembrou momentos marcantes e divertidos de sua trajetória, como os sambas que vendeu para o cantor Mário Reis e as farras com o amigo Nelso Cavaquinho. "Ele era soldado e já fazia sambas. Um dia ficou na bebedeira no Morro da Mangueira e voltou para o posto dele sem o cavalo, porque tinha deixado lá", relembrou.

Cartola e Dona Zica se conheciam desde a infância, mas só se casaram nos anos 1960, quando os dois já eram viúvos. Na mesma época, abriram o lendário restaurante Zicartola, onde Paulinho da Viola ganhou o primeiro cachê.

Frequentado por artistas, intelectuais e até o ex-presidente Juscelino Kubitschek, o estabelecimento tornou-se referência de espaço cultural no Rio. "Não ficamos ricos, mas ganhamos muitos amigos. O negócio do Cartola não é contabilidade, mas violão e samba", contou Dona Zica.