A Prefeitura de São Bernardo vai estrear na Bolsa de Valores de São Paulo. Os vereadores avalizaram ontem pedido do prefeito Luiz Marinho (PT) para que o município negocie no pregão paulista títulos que propiciam a especulação imobiliária em território são-bernardense. A prática, embora inusitada, encontra amparo legal e possui lastro no Estatuto das Cidades. A ideia é complementar o Orçamento em até R$ 2 bilhões. Mas nem tudo são flores.
Embora teoricamente os negócios realizados no templo do capitalismo brasileiro ainda estejam sujeitos ao controle dos órgãos locais, como Câmara e Ministério Público, na prática a transferência das transações para a Capital prejudica a fiscalização de vereadores e promotores. Esse distanciamento pode propiciar a ocorrência de atitudes ilícitas, o que exige redobrada atenção dos agentes públicos.
O ambiente corporativo, ao contrário do que apregoa o senso comum, não está imune à corrupção. Afinal, os manuais de boas práticas de governança e transparência não impediram que se instalasse no seio da Petrobras, empresa que até bem pouco tempo era a coqueluche da Bolsa de Valores de São Paulo, quadrilha responsável pelo desvio de milhões de reais que pertenciam originalmente a investidores públicos e privados. Enfim, a história é de todos conhecida.
É preciso lembrar ainda que os títulos são-bernardenses a serem negociados na Bolsa interessam sobremaneira a investidores do setor da construção civil, cujos empresários protagonizam o Petrolão e outros escândalos Brasil afora – inclusive alguns no Grande ABC. Necessário dizer que não se deve condenar de antemão a tentativa legítima da Prefeitura de São Bernardo de buscar caminhos para aumentar a capacidade de fazer investimentos públicos. Convém, porém, ficar atento para evitar que objetivo tão nobre seja desvirtuado pelos arrivistas de sempre, indivíduos cujo único objetivo é ganhar dinheiro, mesmo com o evidente prejuízo da sociedade. Todo cuidado é pouco.
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