Artigo

Com o tempo, os feriados religiosos no Brasil foram perdendo seus significados originais. Tornaram-se dias para ir para praia ou campo, relaxar, descansar. Foram criados para lembrar coisas importantes, mas se tornaram dias para esquecer as coisas árduas do cotidiano.

A Igreja está a serviço da pessoa. Que bom que seus feriados sirvam para ajudá-las a descansar. Mas talvez alguma coisa se perca neste esquecimento de seu significado original. Grandes festas, em qualquer religião, comemoram e trazem à luz, de forma nem sempre consciente, grandes arquétipos e grandes desejos de nosso coração. Corpus Christi, que celebramos hoje, é a festa do Deus que no sacramento da Eucaristia (mais conhecido popularmente como ‘comunhão’) se deixa ‘comer’ pelos homens.

Corresponde a pelo menos dois grandes arquétipos que se encontram na raiz de vários mitos e rituais: comer a carne de homens valorosos para adquirir seu valor (não era à toa que os romanos imaginavam que os primeiros católicos praticavam o canibalismo) e o deus que se sacrifica para dar alimento à humanidade faminta (essa é, para muitos povos tribais, a origem da mandioca da América e da fruta-pão do Pacífico).

Mas nós pensamos que arquétipos, mitos e ritos são coisas primitivas, superadas pela nossa racionalidade pragmática, por nosso realismo desencantado. Melhor descansar e relaxar do que se perguntar sobre os grandes desejos do nosso coração.

Talvez a culpa seja de muitos católicos que deixaram de dialogar com os grandes desejos do ser humano para se contentar com moralismos e formalismos. O grande poeta T.S. Elliot se perguntava: ‘Foi a humanidade que abandonou a Igreja ou a Igreja que abandonou a humanidade?’

Mas Corpus Christi permanece aí, desde os tempos medievais, festa que celebra não o peso do autossacrifício de Deus, mas a alegria do povo que encontrou a possibilidade de viver a comunhão e a unidade com este Deus, de tê-lo para si, apesar de todos os limites humanos.

Os poderosos do mundo não se sacrificam pelos fracos, mas por amor à infinitude do cosmos se dobrou para habitar o coração de cada pequeno deste mundo.

Corpus Christi fala de promessa aparentemente louca. Mas, neste mundo louco, não será mais sensato buscar a aparente loucura que corresponde a nosso coração?

Francisco Borba Ribeiro Neto é sociólogo, biólogo e coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

Palavra do leitor

Esvaindo
Toda luta e conquista do trabalhador brasileiro vêm se perdendo ao longo dos anos e por mudanças a cada governo. Criou-se o fator previdenciário no governo Fernando Henrique, e hoje não só esse fator tem de ser extinto, como também devem rever o valor irrisório das aposentadorias que a Previdência paga. Antes tínhamos o teto de 20 salários, que caiu para dez mínimos e hoje o valor do teto salarial não cobre o custo de uma clínica de repouso, caso o idoso venha a necessitar de uma delas. Quem estiver a caminho da melhor idade que se cuide! Tem de rezar para continuar lúcido e com saúde, para poder trabalhar, para o bem da Nação e dos nossos governantes.
Raquel Alves
Santo André

Esclareçam-me
Mais uma vez nesta coluna Palavra do Leitor peço esclarecimentos à Secretaria de Obras ou à de Esportes de Santo André sobre as obras – a passos de tartaruga – que estão sendo executadas no Estádio Bruno José Daniel. Segundo o secretário de Obras e Mobilidade do município, o estádio seria entregue com as devidas reformas no dia 8 de abril. Não ocorreu! Está certo que ele deu o dia e o mês, mas não falou o ano. Vamos lá! Chega de lenga-lenga! Está na hora de alguém na Prefeitura, seja prefeito, vereadores ou secretários, que ali estão e são muito bem remunerados por nós, contribuintes, começar a ter um pouco mais de respeito com a população. Não adianta vir pedir votos na próxima eleição. Senhores, cumpram com suas obrigações.
Fernando Cesar Toribio
Santo André

Arraigou
A busca pela integridade moral trouxe o PT ao poder em 2002. Uma das bandeiras empenhadas era a luta contra a corrupção, uma das bases históricas para continuarmos sendo ‘o País do futuro’. Crescimento econômico sustentado? Ainda parece utopia. O partido aperfeiçoou o que criticava, queria a corrupção institucionalizada, e perpétua, a todo custo. Mas parece (para nossa sorte) que um sopro de lucidez avança sobre nossa sociedade. O PT se esfacelou, mas a ganância e a dissimulação dos petistas deixarão herança maldita sem precedentes, economicamente de difícil reparação e moralmente indelével.
Francisco Emídio Carneiro
São Bernardo

Apegados só ao voto
Antes das eleições todos os candidatos a cargos públicos, como a vereador, deputado e senador, fazem de tudo para chamar a atenção dos eleitores, mas, após o pleito, transformam-se em Homem Fantasma, que só aparece quando o assunto o interessa.
Wagner Sguerri
Santo André

Sem juros
Já que está tudo avacalhado mesmo, não seria melhor a Petrobras conseguir empréstimo supersubsidiado no BNDES, como foi feito à República Dominicana? Ou seja, juros perto de zero e o prejuízo da estatal seria menor para todos nós.
Júlio José de Melo
Sete Lagoas (MG)

Puna-se
A renúncia do recém-reeleito presidente da Fifa merece profunda reflexão. Para ser combatida a corrupção são necessárias competência, coragem e determinação. Não basta dizer que esses procedimentos ilegais não podem continuar. É preciso, sim, que gente séria e que ocupa cargos públicos dos mais diferentes níveis tenha apoio em suas atitudes. E que punições adequadas sejam aplicadas aos malfeitores que usam de forma indevida qualquer tipo de verba, seja pública ou particular.
Uriel Villas Boas
Santos (SP)