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Fábricas de tintas caminham para recuperação
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
25/10/2009 | 07:08
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Denis Maciel/DGABC


O segmento de tintas, que concentra no Grande ABC as principais fabricantes brasileiras do ramo, caminha para fechar o ano com desempenho de vendas igual ou ligeiramente acima de 2008 - com incremento médio de apenas 1%.

Embora a expansão prevista seja magra, já é considerada motivo de comemoração, depois do cenário difícil do primeiro semestre, em função do impacto da crise financeira global na economia brasileira. A previsão inicial era de retração de 2% neste ano.

Segundo o presidente da Abrafati, Dilson Ferreira, é preciso levar em conta o histórico, já que a indústria vinha de três anos de forte crescimento. Em 2008, de acordo com dados da Abrafati (Associação Brasileira da Indústria de Tintas), o setor havia crescido 8,2%.

Ferreira acrescenta que o segmento tem forte ligação com duas atividades industriais que sentiram forte queda na demanda no início do ano, mas que engrenaram reação nos últimos meses: a área automotiva e a construção civil.

Diversos fatores colaboraram para essa gradual retomada: a melhora do crédito, incentivos tributários - por exemplo, a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos carros e dos materiais da construção - e o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida.

Com financiamentos com juros mais baixos, e prazos mais longos, houve melhores condições de aquisição de moradias. A área imobiliária corresponde a 60% do faturamento das fabricantes de tintas. Outros 15% vêm da cadeia automobilística e o restante é diluído por ramos como manutenção, eletroeletrônicos, gráficas etc).

A reativação da construção civil e o aumento das vendas de carros ocorrem em momento propício, aponta o presidente do Sitivesp (Sindicato da Indústria de Tintas e Vernizes do Estado de São Paulo), Paulo César Abrantes de Aguiar. Isso porque a sazonalidade do setor é de demanda mais forte no segundo semestre. A entrada do 13º salário e a cultura do brasileiro de redecorar a casa ou reparar o carro antes do fim do ano favorecem a atividade.

Francisco Verza, diretor de tintas imobiliárias para a América do Sul da Basf, assinala ainda que a confiança do consumidor parece ter retornado.

SUVINIL - Verza afirma que, apesar da previsão de o mercado empatar com o ano passado, a empresa se preparou para crescer mais.

Dona da marca Suvinil, a fabricante realiza investimentos de R$ 20 milhões na ampliação da capacidade produtiva em Jaboatão dos Guararapes (PE), também expande a unidade de São Bernardo, reformulou embalagens e criou departamento específico para construtoras.

Apesar de liderar o mercado premium (mais sofisticado), com 60% de participação, e ter 15% das vendas no segmento standard (mais popular), com a marca Glasurit, tem pequena participação (em torno de 10%) no atendimento direto a construtoras.

Setor de repintura de carros retoma confiança

Além de tintas decorativas, no Grande ABC há diversos representantes também de outros segmentos, dentre os quais o de repintura automotiva. Um dos destaques nesse nicho é a divisão da Sherwin Williams, a Lazzuril, instalada em São Bernardo, que tem a liderança deste mercado.

A gerente de marketing da Lazzuril, Cássia Galvão, destaca que a queda nos negócios foi acentuada no primeiro semestre, mas, desde o mês passado, houve o início de processo de recuperação.

"Nosso canal de distribuição são as lojas que vendem para oficinas e funilarias e elas reportaram diminuição das vendas e aumento da inadimplência; desde agosto, começamos, no entanto, a perceber recomposição de estoques. Os lojistas estão mais confiantes", assinala.

A gerente também avalia que, com toda a conjuntura desfavorável no início do ano, a meta atual é igualar vendas com 2008. "Não sei se vai ser possível, as chuvas também atrapalharam", acrescenta. Ela explica que o clima instável impacta, pois atrasa o processo de reparação.

DE MUDANÇA - A Milflex General, que tem fábrica em Santo André e também atua na área de tintas para repintura, sentiu dificuldades semelhantes. Para reduzir custos e otimizar seus processos, a companhia vai concentrar suas operações (espalhadas por três municípios) no início de 2010 em Jandira, no interior do Estado.

A planta fabril do Grande ABC será desativada, mas o gerente de marketing, Silas Moleiro Batista, afirma que os 60 funcionários da unidade serão realocados. "Haverá um ônibus fretado para levá-los e trazê-los de volta", garante.

Segmento projeta boas vendas em 2010

A indústria de tintas concentra suas apostas agora em 2010. Para Paulo César Abrantes de Aguiar, a perspectiva é crescer 4% - ritmo semelhante à previsão feita pelo governo para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano - em relação a 2009.

Dilson Ferreira é um pouco mais otimista. Estima alta de até 5,5%. E avalia que o ano que vem terá um componente favorável. "Será ano de eleições, quando normalmente as obras de infraestrutura são levadas adiante, o que também eleva o consumo de tintas".

No entanto, o dirigente da Abrafati considera que seria importante que a isenção do IPI fosse mantida para o segmento continuar em tendência de aceleração. "É uma medida de repercussão social; o Programa Minha Casa depende de custos baixos, e a redução do IPI ajudaria muito nesse sentido", acrescenta.

Por isso, a associação, em conjunto com outras entidades ligadas às revendas e à fabricação de materiais de construção civil, entregou na última semana ao governo federal carta contendo como principal proposta que a duração do incentivo tributário fosse estendida.

Os fabricante da região também mostram otimismo. "Acredito que a pior fase já passou, grande parte (da queda nas vendas) se deveu à confiança. Toda movimentação do setor é de recuperação dos estoques", afirma Verza, da Basf.

O setor ainda tem muito para crescer, segundo os dirigentes. Isso porque o consumo brasileiro de tintas per capita, de sete litros por habitantes, ainda é muito aquém do de outros países, e há enorme déficit habitacional, estimado em 7 milhões de moradias.




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