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Lula e Alckmin utilizam ironia como principal arma no debate do SBT
Rafael Vergueiro
Do Diário OnLine
19/10/2006 | 23:30
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O debate realizado na noite desta quinta-feira entre o presidente e candidato à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e seu opositor, Geraldo Alckmin (PSDB), promovido pelo SBT, foi marcado por uma série de ironias dos dois pleiteantes ao Palácio do Planalto.

Logo no início, Alckmin não perdeu tempo e tocou no “calcanhar de aquiles” do governo Lula: a corrupção. Como já havia feito em outros confrontos, enumerou todos os escândalos que envolveram o PT nos últimos quatro anos e deu maior destaque a recente tentativa de petistas de tentar comprar um dossiê que ligaria políticos do PSDB com a ‘máfia das ambulâncias’.

Lula, por sua vez, respondeu dizendo que a campanha de Alckmin é “de uma nota só”, e afirmou que a corrupção aparece para o público neste governo porque “ele pune mais do que no anterior”, fazendo uma clara referência aos oito anos (1995-2002) em que o tucano Fernando Henrique Cardoso foi presidente.

Em seguida, o petista não perdeu a chance de atacar seu adversário quando o assunto foi segurança, tema apontado por muitos como o que mais incomoda o ex-governador, principalmente após a crise que atingiu São Paulo nos últimos meses. “Se depois de 12 anos em SP eles não conseguiram acabar com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), como vão melhorar a segurança no Brasil?”. O tucano rebateu com números de queda da criminalidade no Estado.

O presidente também não perdeu a oportunidade de atacar dois pontos fracos do seu adversário nessa campanha: as privatizações da “era FHC” e o suposto fato de Alckmin ser mais ligado as elites do que ao povo pobre brasileiro.

Quando o tucano citou uma matéria da revista britânica “The Economist”, que aponta péssimo desempenho do Brasil no quesito educação, Lula retrucou com ironia. “O Alckmin é elitizado, para ele tudo o que sai em jornais como o “The New York Times” (EUA) é verdade”. Depois dessa resposta, o petista aproveitou o embalo e perguntou a posição de seu opositor sobre as privatizações.

“Não sou contra as privatizações. Podemos citar como exemplo o setor de telefonia, que cresceu muito depois que saiu das mãos do Estado. Hoje, mais de 90% da população brasileira tem telefone em casa. O que não pode é mentir e ficar dizendo que eu vou privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal ou a Petrobras”, declarou Alckmin. Lula ainda questionou seu adversário sobre o destino do dinheiro da venda de empresas estatais.

Governo Lula X Governo FHC –
Como tem sido praxe neste segundo turno das eleições presidenciais, o presidente procurou insistentemente durante o debate comparar seus números com a gestão anterior. Ligar a imagem de Alckmin a de Fernando Henrique tem sido um dos grandes trunfos do presidente nesta campanha.

“Eu tenho certeza absoluta de que atualmente o povo está mais feliz do que nos oito anos em que os tucanos governaram este país. Antigamente, os juros eram muito mais altos e os salários muito mais baixos. Depois de enfrentarmos duas décadas perdidas, finalmente sabemos que hoje o governo age com responsabilidade e não faz pirotecnias”, assinalou Lula.

Já Geraldo Alckmin preferiu não ficar fazendo comparações com governos anteriores e disse que seu governo apenas irá olhar para o futuro. “É importante que o eleitor perceba a diferença entre as duas candidaturas. Enquanto Lula acha que o Brasil está perfeito, a Saúde uma maravilha, eu quero melhorar. O PT já teve a sua chance e não aproveitou, é hora de eleger um novo presidente”.

O presidente não se contentou em fazer críticas na esfera federal e também falou com ironia da educação em São Paulo, que ficou em oitavo lugar no Provão realizado pelo governo federal. “Se no Estado mais rico da Federação aconteceu um desastre como este, qual é sua proposta para educação no país. Por que na sua campanha não se fala em ProUni, Fundeb e cotas?”.

Alckmin retrucou dizendo que ambos estavam ali não para discutir SP, e sim o Brasil. “O número de crianças trabalhando no país aumentou e elas estão fora da escola. No tempo de FHC o ensino fundamental foi universalizado e hoje o PT, em vez de aprovar programas importantes, utiliza a maioria que tem no congresso apenas para absolver mensaleiros”.

Lula respondeu dizendo que o Fundeb só não foi aprovado por causa dos partidos de oposição (PSDB e PFL). “A orientação dos tucanos é não aprovar nada”, atacou o presidente.

Corte de gastos –
Um dos momentos mais quentes do encontro foi o momento em que Lula e Alckmin discutiram os possíveis cortes de gastos que podem ser realizados na esfera federal. Enquanto o tucano falou que irá fazer um corte brusco, extinguindo até muitos ministérios, o petista afirmou que a única solução para este problema é promover o crescimento econômico.

“Não é mais possível ter o Bolsa Banqueiro”, assinalou Alckmin, fazendo uma ironia com o programa Bolsa Família, uma das principais bandeiras do governo Lula. O petista, por sua vez, disse que é necessário ter os bancos fortes, para que o povo possa conseguir empréstimo com juros mais baratos.

O presidente ainda ironizou a proposta apresentada pelo economista Yoshiaki Nakano, responsável pelo plano econômico de Alckmin. “Eu vi ele dizendo que vai cortar R$ 60 bilhões. Quero saber como, num orçamento que o governo tem R$ 450 bilhões, como vai fazer todo esse gasto para agradar pequena parcela da elite?"

Na resposta a essa pergunta, o tucano mais uma vez tentou mostrar para o eleitor que sua proposta é melhor para o Brasil. “Ele está dizendo que vai manter todos estes ministérios e eu falo que vou cortá-los e ainda baixar impostos e juros. Só o Aerolula custou R$ 150 milhões aos cofres públicos, é preciso ter respeito com o dinheiro da população”.

Além do tempo –
Na ansiedade de conseguir conquistar o maior número possível de eleitores, os candidatos muitas vezes sentiam dificuldade em respeitar o tempo estipulado pela produção do programa para cada pronunciamento. Por isso, a jornalista e mediadora do debate, Ana Paula Padrão, foi obrigada a interromper ambos com certa energia, deixando-os claramente constrangidos. Ela ainda chamou atenção da platéia, que se manifestava durante as falas dos candidatos.

O próximo confronto entre Alckmin e Lula deve acontecer na próxima segunda-feira, na TV Record. Os dois também farão um debate na TV Globo, marcado para o dia 27, dois dias antes das eleições.  



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