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Estréia ‘Eles Não Usam Black-Tie’
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
29/03/2001 | 19:42
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Com um elenco sólido – Eduardo Moscovis, Ana Lúcia Torre, Sebastião Vasconcelos, Vanessa Gerbelli, Vinícius de Oliveira, Priscila Hassum –, estréia nesta sexta no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, uma nova montagem da peça Eles Não Usam Black-Tie. Marcus Vinícius Faustini assina a direção do espetáculo, que esteve em cartaz no Rio no ano passado e valeu a indicação ao prêmio Governador do Estado de melhor atriz para Ana Lúcia.

Clássico da dramaturgia nacional, o texto foi escrito em 1955 por Gianfrancesco Guarnieri e encenado pela primeira vez em 1958, com direção de José Renato, no Teatro de Arena, em São Paulo. Ao expor o conflito entre um operário politizado e seu filho alienado, Eles Não Usam Black-Tie abriu caminho no teatro brasileiro para a discussão de questões sociais provocadas pela industrialização, como reivindicações trabalhistas.

Vasconcelos interpreta Otávio, o pai. Moscovis é Tião, o filho. Ana Lúcia vive Romana, a mãe. A peça é ambientada em uma favela. Uma greve deflagra o conflito. Enquanto Otávio é o líder, Tião a fura. “Tião vivencia uma decisão de importante valor moral”, conta o diretor.

Além do viés ideológico, o espetáculo aborda outros temas. “A peça é representativa da família brasileira. Romana é a síntese da mãe brasileira”, diz Faustini. A peça trata também da prática da fraternidade. “Hoje tudo é objetivo demais. Prevalece o simulacro, o falso. O cara finge que beija a menina na boate, que há uma relação. Já Black-Tie propõe relações”, afirma.

O diretor sustenta a atualidade do texto: “Infelizmente o Brasil não mudou. A diferença é que aquela geração tinha um projeto intelectual para interferir na sociedade”. Faustini afirma ainda que a montagem não é maniqueísta. “A peça não defende nem o pai nem o filho, mas a dúvida. A idéia é fazer com que as pessoas façam sua opção”, diz.

Vanessa, que nasceu em São Bernardo, interpreta Maria, namorada de Tião. Para a atriz, solidariedade é a palavra-chave para entender o espetáculo. “Maria é uma operária diplomada em corte e costura. Tem ligações afetivas fortes com a comunidade do morro, está totalmente integrada”, revela. Apesar de não ver em Tião essa atitude, ela o ama. Chiquinho (Oliveira), o caçula de Otávio, e Tesinha (Priscila), sua namorada, fazem uma espécie de núcleo de humor dentro da encenação. “Eles quebram o ritmo das cenas dramáticas”, conta Oliveira.

Três atores da temporada carioca não estão na paulistana: Teresa Seiblitz, Luciana Rigueira e Jorge Neves. Apesar das substituições, Moscovis afirma que o espetáculo não mudou. “Estruturalmente é o mesmo e o texto é o original”, diz. Após ver a montagem no Rio, Guarnieri convidou Faustini para dirigir seu novo texto, A História da Mãe Brasileira (título provisório).




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