Clássico da dramaturgia nacional, o texto foi escrito em 1955 por Gianfrancesco Guarnieri e encenado pela primeira vez em 1958, com direção de José Renato, no Teatro de Arena, em São Paulo. Ao expor o conflito entre um operário politizado e seu filho alienado, Eles Não Usam Black-Tie abriu caminho no teatro brasileiro para a discussão de questões sociais provocadas pela industrialização, como reivindicações trabalhistas.
Vasconcelos interpreta Otávio, o pai. Moscovis é Tião, o filho. Ana Lúcia vive Romana, a mãe. A peça é ambientada em uma favela. Uma greve deflagra o conflito. Enquanto Otávio é o líder, Tião a fura. “Tião vivencia uma decisão de importante valor moral”, conta o diretor.
Além do viés ideológico, o espetáculo aborda outros temas. “A peça é representativa da família brasileira. Romana é a síntese da mãe brasileira”, diz Faustini. A peça trata também da prática da fraternidade. “Hoje tudo é objetivo demais. Prevalece o simulacro, o falso. O cara finge que beija a menina na boate, que há uma relação. Já Black-Tie propõe relações”, afirma.
O diretor sustenta a atualidade do texto: “Infelizmente o Brasil não mudou. A diferença é que aquela geração tinha um projeto intelectual para interferir na sociedade”. Faustini afirma ainda que a montagem não é maniqueísta. “A peça não defende nem o pai nem o filho, mas a dúvida. A idéia é fazer com que as pessoas façam sua opção”, diz.
Vanessa, que nasceu em São Bernardo, interpreta Maria, namorada de Tião. Para a atriz, solidariedade é a palavra-chave para entender o espetáculo. “Maria é uma operária diplomada em corte e costura. Tem ligações afetivas fortes com a comunidade do morro, está totalmente integrada”, revela. Apesar de não ver em Tião essa atitude, ela o ama. Chiquinho (Oliveira), o caçula de Otávio, e Tesinha (Priscila), sua namorada, fazem uma espécie de núcleo de humor dentro da encenação. “Eles quebram o ritmo das cenas dramáticas”, conta Oliveira.
Três atores da temporada carioca não estão na paulistana: Teresa Seiblitz, Luciana Rigueira e Jorge Neves. Apesar das substituições, Moscovis afirma que o espetáculo não mudou. “Estruturalmente é o mesmo e o texto é o original”, diz. Após ver a montagem no Rio, Guarnieri convidou Faustini para dirigir seu novo texto, A História da Mãe Brasileira (título provisório).
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