Economia Titulo
Inflação ajuda a
provocar greves
Leone Farias
do Diário do Grande ABC
13/06/2011 | 07:13
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O aumento da inflação, aliado à perspectiva de crescimento mais moderado da economia neste ano, fez com que as negociações coletivas de trabalhadores se tornassem mais tensas, com a eclosão de greves que refletem essa dificuldade de entendimento entre as partes. É o que apontam especialistas em mercado de trabalho.

Esse quadro conflituoso apareceu no primeiro semestre com os movimentos de paralisação travados por trabalhadores de companhias de ônibus no Grande ABC, metalúrgicos da Volkswagen no Paraná, bombeiros no Rio de Janeiro e funcionários públicos em diversas regiões do País.

Para o coordenador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho do Instituto de Economia da Unicamp, José Dari Krein, a tendência é que esse cenário se repita no segundo semestre. Ele cita que, com o aumento dos preços, os sindicatos têm mais dificuldade em convencer as empresas a continuar oferecendo ganhos reais (acima da inflação) e a dar valores de Participação nos Lucros e Resultados em níveis semelhantes aos do ano passado. "Em 2010, os resultados foram favoráveis, com aumento real em grande parte das categorias", assinala.

O coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, também avalia que as greves, neste ano, estão relacionadas com a alta da inflação e acrescenta que, mesmo com a queda da taxa inflacionária nos dois últimos meses, há o efeito estatístico. "Quando se anualiza (acumulado dos últimos 12 meses), o índice está elevado. Deve superar o teto da meta (definida pelo governo para este ano em 6,5%)", afirma.

Nesse cenário, as atenções voltam-se, no segundo semestre, para as negociações das categorias mais organizadas de trabalhadores: metalúrgicos, bancários, petroleiros e químicos. "Não abrimos mão de reposição da inflação e vamos reivindicar aumentos reais. Sabemos que existe desaquecimento na indústria mundial, mas em 2011 teremos crescimento importante (da economia)", afirma o presidente da CUT-SP, Adi dos Santos Lima.

Para Silvestre, com a influência da inflação, a perspectiva é de haver mais dificuldade nas negociações, do que no ano passado. Dessa forma, a continuidade de movimentos grevistas nos próximos meses não pode ser descartada.

PRODUTIVIDADE - Nos últimos anos, mesmo com a obtenção de aumentos reais por muitas categorias, os ganhos de produtividade das indústrias superaram as conquistas dos trabalhadores, assinala Krein, da Unicamp.

"Se tomarmos o PIB (Produto Interno Bruto, ou seja, a soma das riquezas produzidas no País) como medida média de produtividade, em 2010, houve crescimento de 7,5%. Já o ganho médio real dos salários foi de 1,8% no ano passado", diz Silvestre.

QUALIFICAÇÃO - Para o consultor José Pastore, da Confederação Nacional da Indústria, a inflação é um dos fatores responsáveis pela onda de greves, mas há outros como a falta de mão de obra especializada. "As empresas precisam entregar seus produtos, já que o consumo ainda está aquecido. Essa combinação de fatores detona as greves", avalia.

Lima, da CUT, discorda desse argumento e afirma que as categorias que obtiveram mais aumentos nos últimos anos são justamente as que já têm mais qualificação.




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