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'Amem Dilma como vocês me amaram'
Gustavo Pinchiaro e Havolene Valinhos
02/01/2011 | 07:42
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Da mesma forma que foi recebido em suas aparições públicas durante os oito anos de mandato, já como ex-presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi festejado em seu retorno a São Bernardo, por mais de 2.000 pessoas às 22h45 debaixo de garoa forte na noite de ontem. Na ocasião, Lula recebeu do prefeito da cidade, Luiz Marinho (PT), a chave do município. No discurso, Lula pediu que todo apoio popular fosse revertido a presidente Dilma Rousseff (PT). "Amem a Dilma como vocês me amaram", pediu Lula.

"Vocês não sabem a emoção que senti quando entreguei a faixa presidencial ao lado da Marisa (Letícia, mulher) a primeira presidente mulher deste País. Fui vítima de preconceito, mas Dilma vai sofrer ainda mais", discursou Lula. O ex-presidente fez questão de reafirmar que sua missão como presidente foi a de provar que "um metalúrgico de São Bernardo do Campo, só com diploma primário e do Senai poderia governar com a mesma qualidade e até mais que outros presidentes".

Lula reforçou que a eleição de Dilma pode quebrar o preconceito sob mulheres. "A mulher lava, cozinha e ainda tem que preparar a molecada para a escola. Aí perguntam para ela se ela trabalha, ela responde não. Isso é porque ensinaram que trabalho valorizado é só o trabalho de fora. As coisas começaram a mudar, as mulheres querem ter direitos iguais aos dos homens", afirmou.

O petista emendou dizendo que a missão de Dilma é semelhante à dele, porém, terá de provar a competência e a força feminina à frente do Brasil e voltou a pedir apoio popular ao mandato de Dilma. "Os adversários são os mesmos e os preconceitos são maiores. O governo não pode parar. É preciso gerar empregos para que em 2016 o Brasil seja a quinta economia do mundo", explicou.

Lula também voltou a afirmar que o fato de deixar a presidência não o exclui da vida política. O ex-presidente disse que, vai levar as experiências "bem sucedidas" no Brasil para África e América Latina e não vai deixar de ajudar a Dilma. Ele também pretende auxiliar Marinho, em seu governo. "Mas antes disso, acho que eu e Marisa merecemos, pelo menos, 20 dias de folga para botar a cabeça no lugar", completou.

Encerrou o discurso exaltando a aceitação popular que encerrou o mandato. "Nunca antes na história desse País um presidente teve tanta aprovação. Em 2003 tinha 80% de expectativa de fazer um bom governo e encerrei os oito anos com 87%."

O presidente do Senado e ex-presidente da República, José Sarney (PMDB), também participou da festa.

CHORADEIRA - Durante todo voo de retorno da cerimônia de posse de Dilma, Lula chorou. "Ele chorou porque leram uma carta de homenagem da aeronáutica e dois caças o acompanharam durante a viagem. Ele conversou com seu médico oficial da Presidência, se despediu e também chorou", contou Marinho, que organizou recepção que fechou uma das pistas da Avenida Prestes Maia.

CUT planeja cobrar de ex-presidente reforço na relação governo x sindicatos

Enquanto aguardavam a chegada do ex-presidente Lula à sua residência em São Bernardo, sindicalistas amigos e simpatizantes já planejavam pauta de reivindicação e com certa nostalgia relembravam a história do presidente com o Grande ABC.

Reforçar a articulação dos sindicatos filiados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) junto ao governo federal é uma reivindicação que, "com certeza", será cobrada de Lula. Segundo o coordenador da CUT ABC e presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Bernardo e Diadema, Cladeonor Medeiros, a CUT irá pedir auxílio na relação com o Ministério do Trabalho, coordenado por Carlos Lupi (PDT), ligado à Força Sindical.

"O sindicato que presido perdeu representação da noite para o dia dos trabalhadores da construção pesada - caso do Rodoanel. Temos 70 anos de trabalho e de repente criaram um sindicato específico para esses trabalhadores em uma canetada. Vamos chamar o presidente na CUT e nos sindicatos para tentar resolver essas questões", explicou Cladeonor.

Fora da cobrança política, Lara Antonio Barbi Sebastiana, de oito anos, veio à festa do ex-presidente acompanhada da mãe para entregar carta "carinhosa" a Lula. "Fiquei triste que ele está saindo da presidência, mas feliz pela Dilma Rousseff, que parece uma pessoa legal. Agora é Dilma Lá e Lula cá", disse a menina, estudante da quarta série.

O funcionário público, Benedito Mariano, e o torneiro mecânico diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Raimundo Plácido, aproveitaram a ocasião para relembrar a fatídica greve que durou 17 dias na década de 1980. "Depois que houve a intervenção do governo no sindicato e o Lula foi preso conseguimos derrubar a proposta de reajuste dos patrões. O Lula era classista e eu político. Ele queria benefícios para o trabalhador, e a proposta era boa - 22% da inflação mais 14% -, e eu queria derrubar a ditadura", explica Plácido.

"Espero voltar a cuidar dos viveiros de passarinho do presidente no sítio dele, no Jardim Borda do Campo. Acho que a dona Marisa vai me chamar de volta", comentou Mariano que, segundo ele, conheceu Lula na época em que o apelido dele era ‘taturana'.

 




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