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Infidelidade traz Adrian Lyne em tema recorrente
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
13/06/2002 | 18:25
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Vira e mexe o cinema aborda o tema da traição conjugal, a antítese do final feliz. Nesta sexta, mais um filme que coloca as peculiaridades do casamento na berlinda chega às telas. O título é óbvio, Infidelidade (Unfaithful, EUA, 2002), e estréia na região no Extra Anchieta, em São Bernardo, e em Santo André, no Shopping ABC e no ABC Plaza. É o diretor Adrian Lyne novamente com um tema recorrente em seu trabalho (Atração Fatal, Proposta Indecente) e Richard Gere transferindo a pecha de gigolô para o candidato a sex symbol Olivier Martinez.

O tema visto neste filme já foi abordado pelo diretor francês Claude Chabrol em Mulher Infiel (La Femme Infidèle, 1969). Hitchcokiano até a medula, Chabrol se aprofunda na psiquê dos personagens, principalmente do marido, que descobre aos poucos que a mulher tem um caso e mata o amante. Chabrol discute as conveniências do casamento burguês, as relações de cumplicidade, de confiança, de compromisso.

Uma diferença entre o filme francês e Infidelidade é que, no primeiro, a mulher tem um amante desde o início. No filme de Adrian Lyne, quem se destaca é a atriz Diane Lane, como a mulher bem casada com um empresário (Gere), que tem um filho de 9 anos e casa chique em um subúrbio de Nova York. Reúne amigos para jantares e realiza leilões beneficentes. Segundo esses pressupostos, ela não precisaria de um amante.

Mas o acaso lhe deu um caso. Em um dia de vento muito forte em Nova York, ela cai diante de um jovem livreiro francês (Martinez) e machuca os joelhos. Entre tomar um táxi e voltar para casa e aceitar a ajuda dele para subir em seu apartamento para um curativo, ela topa a segunda.

Tivesse escolhido a primeira opção, o filme não existiria, e sua vida seguiria correta. Como aceitou, inicia uma série de encontros sexuais. O erotismo dessas seqüências não tem a intensidade que o diretor escancarou em 9 e Meia Semanas de Amor (1986). Mas funciona como exercício de infidelidade explícita, apesar dos clichês. O maior deles: um amante francês para uma norte-americana que pensava ter uma vida realizada, mas que era mal amada.

Tudo vai bem até o marido descobrir. Richard Gere luta há tanto tempo para se livrar da imagem criada em torno dele desde Gigolô Americano (1980) que desta vez parece que vai: sua cabeça é enfeitada pelo livreiro mais sexy de Nova York. Só falta convencer como ator.

O filme tem duas partes bem distintas: a primeira, dos amantes, que vivem um intenso jogo sexual de culpa e prazer; e a segunda, da nova relação do casal. O marido mata o amante da mulher, sem o conhecimento dela. Quando ele confessa o que fez, surge um novo conceito de cumplicidade no casamento. Manter as aparências ganha uma conotação metafórica aqui.

A questão central é: perdoar uma adúltera ou um assassino? Adrian Lyne tenta ousar com um tema polêmico. Nisso reside outra diferença em relação ao filme que o inspirou: a realização, convencional, sem a intensidade psicológica de Chabrol, e superficial como os demais filmes do diretor norte-americano. Na história do cinema, Infidelidade é mais um a bater nas conveniências do matrimônio, mas com luva de pelica.




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