Apesar da queda ante março, IPCA chega a 8,17% no acumulado de 12 meses, segundo IBGE
A inflação oficial do País teve desaceleração em abril, chegando a 0,71% – menor taxa em 2015. No acumulado de 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) atingiu 8,17%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) – 0,04 ponto percentual a mais do que a soma do período de um ano encerrado em março (8,13%). É o maior índice desde dezembro de 2003.
Considerando apenas os meses de abril, a variação de 0,71% é a maior desde 2012, quando o índice mensal ficou em 0,64%. A estimativa do mercado financeiro é a de que, em dezembro, a inflação acumulada nos 12 meses alcance 8,26%, conforme o último relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central. A meta para 2015, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5%, podendo chegar ao teto de 6,5%.
No entanto, desde janeiro, a inflação vem superando o teto da meta mensalmente. Por esse motivo, o professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Volney Aparecido Gouveia, especialista em conjuntura econômica, considera que o governo federal deve rever a política de juros. No fim de abril, a taxa básica de juros (Selic) foi elevada de 12,75% para 13,25% ao ano, com o objetivo de desestimular o consumo e, assim, tentar conter a alta nos preços. “A Selic tem se mostrado ineficiente para combater a inflação. Ainda que tenha havido queda, o patamar atual é muito elevado.”
Na comparação com março, quando o índice atingiu 1,32%, a desaceleração em abril foi de 0,61 ponto percentual. Para Gouveia, o motivo foi a interrupção nos reajustes de tarifas públicas, como energia elétrica, água e telefonia, além dos preços dos combustíveis. Todos esses aumentos são repassados para os custos de mercadoria e mão de obra, provocando elevações subsequentes. “Os reajustes foram feitos entre dezembro e março e já foram incorporados aos preços finais.”
Em junho, entretanto, a previsão é a de que o IPCA volte a subir. Isso porque a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) irá aplicar reajuste de 15,24% nas contas de água. O último aumento ocorreu em dezembro, de 6,49%. E, em julho, as tarifas de energia elétrica para os clientes da AES Eletropaulo serão corrigidas. O índice ainda não foi definido, mas a agência propôs que a elevação seja de 15,16%. Em março, as contas da concessionária já haviam sofrido acréscimo de 31,9%.
Para o coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, Ricardo Balistiero, os reajustes deverão forçar o governo federal a elevar ainda mais a taxa Selic, que, na opinião dele, deve chegar a 14% até o fim do ano. “O Banco Central terá de subir os juros para combater a alta dos preços livres.”
Sobre a perspectiva da inflação para 2015, Balistiero avalia que o índice deverá ficar entre 8% e 8,5%. “Dificilmente vamos cair para um patamar abaixo de 8%. E, se isso acontecer, não necessariamente será uma notícia boa, pois (essa eventual queda) seria a custo de uma recessão.”
Gouveia também enxerga tendência de novas quedas ao longo do ano. “A economia do País está andando de lado. Isso não gera a menor pressão sobre os preços”, acrescenta. As projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) mostram a estagnação citada: o Ministério do Planejamento estima que o PIB cresça apenas 0,8% em 2015.
GRUPOS - A variação de 0,71% no IPCA foi puxada, principalmente, pelo grupo de Saúde e cuidados pessoais (1,32%). Dentro desse universo, os remédios ficaram 3,27% mais caros em abril. Os gastos com energia elétrica também pesaram 1,31% no mês passado. As despesas com alimentação e bebidas subiram 0,97%. Nos segmentos de habitação e vestuário, a elevação foi de 0,93% e 0,91%, respectivamente. Não houve deflação em nenhum dos grupos que compõem o índice de inflação oficial.
No setor de serviços, Balistiero avalia que o aquecimento ainda é consequência do aumento do poder de compra da população nos últimos anos. “O acesso, pela primeira vez, de pessoas com renda um pouco mais alta a alguns tipos de serviços que, antes, não usufruíam. Então, as empresas reveem as margens de lucro sem haver queda de demanda.”
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