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Morada dos deuses
Heloísa Cestari
do Diário do Grande ABC
29/07/2010 | 07:57
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Divulgação


Os deuses podem ter nascido na Grécia, mas preferiram morar na Itália. Embora contassem com mais de 3.000 ilhas nos arredores de Atenas para construir os templos de suas divindades, os gregos parecem ter escolhido justamente a Sicília para ser sede do Olimpo, erguendo lá alguns dos mais expressivos monumentos de sua civilização. Tanto que, hoje, a ilha exibe um conjunto arquitetônico grego tão valioso quanto o que restou na própria Grécia.

Sua antiga capital, Siracusa, chegou a fazer sombra à supremacia de Atenas como centro político e administrativo, tamanha a atenção que os gregos dedicaram à ilha logo após sua fundação, em 734 a.C.. Foi lá o lugar escolhido como morada por algumas das personalidades que marcaram a história da Humanidade, como o filósofo Platão, o dramaturgo Ésquilo e o matemático Arquimedes - aquele que gritava Eureka! sempre que descobria uma fórmula ou princípio científico importante. Conta a história que Arquimedes foi morto por um soldado romano no momento em que as tropas dos césares invadiram a Sicília para expulsar os gregos.

Os saques romanos e bárbaros causaram a decadência da ilha, mas não impediram que Siracusa fosse hoje aclamada como o mais importante centro de estudos sobre a Magna Grécia. Afinal, os vestígios dos cinco séculos de colonização grega estão por toda parte na cidade.

O mais antigo encontra-se na pequena ilha amuralhada de Ortigia, onde estão as ruínas do Templo de Apolo e o majestoso Templo de Atenas. Próximo dali, chega-se ao teatro grego do Parque Arqueológico de Neápolis.

Construído em pedra para servir de palco a assembleias populares e peças como as de Ésquilo, o teatro mantém-se até hoje em boas condições, graças à revitalização empreendida no século 5 a.C. pelo tirano Gerone, que aproveitou e ergueu no local um altar para sacrifícios em homenagem a algum deus.

Outro ponto de parada obrigatório em Neápolis é a mitológica gruta Orecchio di Dionísio (Orelha de Dionísio), assim batizada por Caravaggio devido ao seu formato (semelhante ao de uma orelha) e porque era ali que Dionísio, o Antigo - príncipe de Siracusa entre 405 e 367 a.C. - costumava prender seus adversários.

Corre à boca pequena que o tirano aproveitava-se do altíssimo eco decorrente da disposição da caverna para ouvir tudo o que os prisioneiros conversavam em cativeiro. Fofocas à parte, a ressonância da gruta realmente impressiona: um simples desamassar de papel de bala, por exemplo, soa como o barulho de um incêndio!

Para quem gosta de mitologia grega, também vale conferir os conjuntos de ruínas das cidades de Segesta e Selinunte. Mas é em Agrigento - definida pelo poeta Píndaro como "a mais bela cidade dos mortais", que se encontra um dos cenários gregos mais preciosos da Sicília: o Vale dos Templos, que guarda vestígios de diversas construções erguidas para reverenciar os deuses do Olimpo. Entre elas, o Templo da Concórdia, atualmente o mais bem-conservado de todos.

Beleza abençoada por Zeus
Nos arredores de Palermo e Catânia - os dois principais centros metropolitanos da Sicília -, algumas pequenas localidades encantam os turistas com seus ares praianos e paisagens tão paradisíacas quanto o próprio Olimpo. É o caso da charmosa Taormina, a mais turística das cidades e também uma das poucas que possuem praia de areia clara, além de mirantes com vista espetacular do Mediterrâneo.

Ir à Sicília e não visitar Taormina é praticamente uma ofensa ao bom senso e aos deuses que tão caprichosamente a esculpiram. Uma boa sugestão de passeio é subir os 300 metros do monte que encerra a orla - os menos dispostos podem recorrer ao teleférico - para apreciar as lojinhas de artesanato, sorveterias, restaurantes, casarões quatrocentões e, como não poderia deixar de ser, um anfiteatro erguido pelos gregos há 2.300 anos e até hoje utilizado para espetáculos devido à impecável acústica.

Também vale conhecer as ilhas vulcânicas Bella e Mazzaró. Durante a maré baixa, elas podem ser facilmente alcançadas a pé a partir da praia de Taormina, com a imensidão do mar a abençoá-la em tons variados de azul. Talvez por isso, o cineasta francês Luc Besson tenha escolhido Taormina para gravar as melhores cenas do filme Imensidão Azul... As paisagens são, realmente, cinematográficas.

O mesmo pode-se dizer em relação a Cefalú, onde o siciliano Giuseppe Tornatore filmou parte da história do prestigiado Cinema Paradiso. Protegida por um paredão rochoso de até 300 metros de altura, a cidade possui algumas das mais belas orlas da ilha e conseguiu preservar heranças de quase todos os povos que por ali passaram. Graças a Zeus!

Pérola negra do Mediterrâneo
"Pérola negra, te amo, te amo...". Na boca de Luiz Melodia, esse verso tem outra conotação, mas que se encaixa com perfeição à encantadora Ustica, carinhosamente chamada de Pérola Negra do Mediterrâneo, não há como duvidar. Cercada por rochas vulcânicas escuras, que se encarregam de proteger as águas límpidas de sua encosta com todo o esmero digno das grandes joias, a cidade guarda preciosos vestígios de seus antigos habitantes, instalados desde o século 3 a.C., e um valioso museu arqueológico submarino, com objetos de vários navios afundados em épocas remotas.

Não é por menos que o município ostenta o título de primeira reserva marítima da Itália. A maior parte da sua riqueza subaquática pode ser conferida por meio de um passeio de barco em torno de sua encosta. Só desta forma é possível visitar de uma só vez grutas como a Azurra, a della Pastizza, a delle Barche, a Segreta e a Verde. Verdadeiras pérolas esculpidas pelo tempo.

Também é no barco que se descobre o motivo de seu nome, originado do latim ustum (na tradução, queimado) em alusão às pedras vulcânicas escuras que a envolvem. Em compensação, praia nem pensar: embora limpíssimas, as águas são praticamente todas cercadas por costões de rocha. Como toda joia, a rara Ustica sabe se preservar...




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