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Na rota do escravo
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
13/05/2010 | 07:00
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Divulgação


Treze de maio de 1888. Há exatos 122 anos, Princesa Isabel, filha de Dom Pedro II, assinava a famosa Lei Áurea, pondo fim à escravidão de negros no Brasil. O País foi o último ocidental a abolir o regime escravagista, responsável por trazer até 5 milhões de africanos nos porões dos chamados navios negreiros para serem comercializados a peso de ouro em solo tupiniquim. O que ninguém imaginava na época é que a riqueza cultural deles herdada seria ainda mais valiosa ao Brasil do que o próprio lucro dos traficantes de escravos. Mais do que força de trabalho, os que conseguiram sobreviver à viagem - estima-se que outros 5 milhões foram capturados, mas não conseguiram chegar vivos ao destino, devido aos maus-tratos - trouxeram consigo tradições e crenças que, misturadas aos costumes de brancos e indígenas, marcariam para sempre o caráter peculiar da identidade nacional e do diversificado turismo verde-amarelo, seja na gastronomia, na dança, na música, nas manifestações folclóricas ou nas paredes de construções históricas que hoje estampam importantes cartões-postais brasileiros, a exemplo de Salvador, Palmares, Porto de Galinhas e do circuito histórico de Minas Gerais.

De olho neste filão, a cidade de Eldorado, no interior de São Paulo, servirá de sede entre os dias 7 e 10 para o 1º Encontro Nacional de Turismo em Comunidades Quilombolas. Organizado pelo governo federal, o evento visa promover o intercâmbio de ideias e experiências entre os povoados, tanto os que já desenvolvem atividades turísticas quanto os que apresentam potencial para isso.

A programação contará com visitas aos quilombos de Ivaporunduva e André Lopes. Por abrangerem áreas fartas em recursos naturais, as antigas comunidades de escravos fugidos tornaram-se exemplos de sustentabilidade ambiental e de resgate cultural. Características que levaram o governo do Estado de São Paulo a lançar, em 2007, a Rota do Escravo, que envolve 18 municípios do Litoral Norte, Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira.

A iniciativa contou com apoio da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) e é formada por seis roteiros.

No primeiro, que passa por Tremembé, Taubaté e Pindamonhangaba, os turistas conhecem a saga dos negros durante a fase áurea do Ciclo do Café no Vale do Paraíba. O segundo dá detalhes do movimento abolicionista e seus desdobramentos desde Tremembé até Redenção da Serra.

Outros dois roteiros partem de Piquete e dão ênfase às heranças religiosas que resultaram no sincretismo afro-brasileiro, além do papel do negro nos caminhos do ouro. E no último roteiro, que passa pelas litorâneas São Sebastião, Ilhabela e Ubatuba, o elo entre o passado e o presente do negro no Brasil é revelado por meio de remanescentes de comunidades quilombolas, sítios arqueológicos e caminhos para escoamento do ouro no Litoral Norte.

ALAGOAS - O maior quilombo da história brasileira, no entanto, não fica em São Paulo, e sim no sertão alagoano, a 76 quilômetros da capital Maceió, no município de União dos Palmares. Conhecido como terra da liberdade, o local foi sede, durante o século 16, do maior núcleo de resistência negra do País, o quilombo dos Palmares, que chegou a refugiar 20 mil escravos liderados pelo guerreiro Zumbi no alto da Serra da Barriga.

Na época, os negros vinham de todas as partes, inclusive de outros Estados. Hoje, o aeroporto de Maceió, que abre as portas de todas as belezas de Alagoas ao turista, leva o nome de Zumbi dos Palmares em homenagem ao maior líder da resistência negra no Brasil Colônia.

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 45% da população brasileira é composta por pretos ou pardos - o segundo maior contingente negro do mundo, atrás apenas da Nigéria.




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