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Cartão e cheque especial em xeque
Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
26/09/2010 | 07:23
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Uma bolha de crédito pode estourar a qualquer momento no País. O vilão dessa vez é o uso indiscriminado do cartão de crédito e do limite do cheque especial para pagar contas supérfluas e ajudar no orçamento da casa. Pesquisa feita pela CNC (Confederação Nacional do Comércio) aponta que 59,2% das famílias brasileiras estão endividadas e 9% delas não vão conseguir honrar todos os débitos neste ano. A falta de planejamento econômico e conhecimento sobre juros e taxas são os principais problemas, segundo especialistas ouvidos pela equipe do Diário.

Consumidores associaram a ideia de que o limite disponível na conta bancária é parte do orçamento doméstico e pode ser usado como válvula de escape no fim do mês. "As pessoas têm de entender que o valor tem de ser usado só para emergências. Se for possível, é até melhor diminuir ou excluí-lo de vez da conta", orienta o educador financeiro Antonio de Julio.

Para o economista da CNC, Bruno Fernandes, o uso desmedido do cartão de crédito para compras de impulso também torna a situação dos consumidores cada vez mais difícil. Além disso, ele atesta que as pessoas usam o limite como espécie de poupança. "Cartão de crédito e cheque especial são os que têm maior custo para honrar compromisso. As pessoas precisam aprender isso", salienta.

O economista da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfieri, explica que a maioria dos locais medem a inadimplência pelo número de cheques devolvidos e carnês não honrados, mas nenhum leva em consideração reparcelamento de créditos no cartão ou o uso desmedido do limite do cheque especial. "No cartão é muito fácil perder o controle e nossos índices não contabilizam essa parcela da população que paga o mínimo ou renegocia pagamento da fatura", justifica.

Reverter o superendividamento não é nada fácil. No entanto, a consumidora Mara Jardim conseguiu a façanha. Para isso foi preciso muita paciência e uma ação judicial questionando as taxas de juros aplicadas pelo banco.

A instituição financeira cobrava R$ 9.542 para quitar as dívidas da consumidora, mas, em juízo, ela conseguiu reduzir o valor para R$ 278,30. "As taxas de juros são extorsivas. O que resta ao consumidor é recorrer ao Judiciário, onde ele tem voz", afirma o advogado Marcelo Segredo.

Taxas variam de 7% até 22% por mês
As taxas cobradas por cartões de créditos e pelos bancos pelo uso do cheque especial variam de 7% até 22% por mês, segundo especialistas. Os índices não são tabelados pelo governo e figuram entre os mais altos praticados no mercado.

"O banco coloca lá que você pode fazer só o pagamento mínimo. No mês seguinte tem o limite renovado e também a soma da dívida adquirida do mês anterior. Se somarmos no ano o que é cobrado de juros, ultrapassamos os 400%", revela o educador financeiro Antonio de Julio.

Para o economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Bruno Fernandes, é importante que, caso o consumidor veja que não consegue pagar o limite ou cartão, procure outros meios - como o crédito consignado - para redividir o débito e baixar os juros. "As pessoas têm de evitar cartão e limite para pagar dívidas. São empréstimos com juros mais altos do mercado" aponta.

O economista da Associação Comercial de São Paulo, Emilio Alfieri, avisa que o Banco Central também calcula o endividamento em outros índices, o que prejudica ainda mais quem já está com a corda no pescoço com o cartão e o cheque especial, já que para os comerciantes ele não está endividado e continua vendendo. "Os dados mostram que a inadimplência está neste mês em 6,2%. O problema está no usado desmedido do cartão. É preciso evitar isso."

Entidade cobra do BC regulamentação nos índices do setor
De olho nos juros abusivos, o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) enviou carta ao Banco Central, pedindo regulamentação das tarifas bancárias e revisão das taxas cobradas atualmente no cartão de crédito.

A economista da entidade, Ione Amorim, defende que é preciso rever as políticas de juros e definir limites para os valores praticados no mercado,já que o País corre o risco do superendividamento massivo. " O BC diz que temos as menores taxas nos últimos 16 anos. Afirma que o crédito consignado puxou a taxa para baixo, mas entendemos que não adianta ter taxa média baixa, se as que têm o maior poder de endividamento são praticadas em patamares cada vez mais elevados e livres para que bancos decidam quando querem aplicar", reclama.

O instituto também quer que o BC feche o cerco contra o marketing e as ofertas abusivas, que estimulam o uso irresponsável do plástico. "É imprescindível que a regulamentação padronize a nomenclatura das tarifas e determine o que pode e o que não pode ser cobrado", diz Ione.




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