O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que Luiz Inácio Lula da Silva é mais conservador que ele, mas não é neoliberal, em entrevista divulgada nesta quarta-feira pelo jornal colombiano El Tiempo, de Bogotá. "Não creio que Lula seja neoliberal, mas é mais conservador que eu", declarou.

Fernando Henrique esteve na segunda-feira em Bogotá como convidado do lançamento da campanha eleitoral do Partido Mudança Radical, que apóia a reeleição do presidente da Colômbia, Alvaro Uribe. Ao ser interrogado sobre a aspiração de Uribe, FHC considerou que a reeleição é boa porque "não se faz muito em quatro anos".

"Países como Colômbia e Brasil têm muitos problemas. Mas pôr um mandato mais extenso, de cinco ou seis anos, é um risco no caso de um presidente ruim", justificou. FHC também declarou não ser a favor de três mandatos presidenciais consecutivos, por considerar "demasiado".

Ao recordar sua experiência de reeleição, o ex-presidente disse: "Tive um segundo mandato difícil porque houve uma crise. Fui eleito em meio a uma crise brutal e havia uma pressão enorme. Mas, institucionalmente, construímos mais no segundo que no primeiro. O primeiro foi a continuação de quando era ministro da Economia, do controle da inflação. No segundo, foi a definição do futuro".

A respeito da proliferação na América do Sul de governos considerados de esquerda (Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia e Venezuela), alguns deles muito críticos em relação a Washington, FHC atribuiu a situação ao fato de os "Estados Unidos terem se comportado mal". "Não apenas na região, creio que a questão do Iraque também influenciou".

No caso da Venezuela, Fernando Henrique afirmou que "os americanos têm a responsabilidade de não transformar a Venezuela em outra Cuba". "Cuba é o único país isolado do mundo globalizado, e isso se deve ao fato de os Estados Unidos não permitirem fluxos de comércio. Isso é um erro".

Fernando Henrique disse ser a favor dos tratados de livre comércio que o governo do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, negocia com vários países da região. "Creio que estamos nos últimos meses em que será possível fazer qualquer acordo com os americanos", afirmou.