No convênio firmado no penúltimo dia da gestão de Aldo Rebelo à frente do Ministério do Esporte, em dezembro passado, a confederação se comprometeu a repassar 'diárias' de até R$ 476 a atletas e membros da comissão técnica, ficando eles responsáveis pelos gastos com alimentação, transporte (exceto transatlântico) e hospedagem. Ao ministério, a CBHG só precisa comprovar que repassou os recursos aos integrantes da delegação, sem que estes demonstrem a destinação final do dinheiro.
A prática comum neste tipo de convênio é a confederação orçar tais serviços diretamente com os prestadores ou com agências de viagem, comprovando ao governo o pagamento aos mesmos.
Por conta da exceção aberta para este convênio, no início de março, às vésperas da viagem à Europa para uma das etapas do treinamento, 23 atletas da seleção (entre eles cinco holandeses e um inglês, todos de dupla nacionalidade) e cinco membros da comissão técnica receberam R$ 57.596 em contas pessoais, valor referente às diárias para quatro meses (março a junho) de permanência no Velho Continente.
Eles foram informados por e-mail pelo gerente geral da CBHG, Bruno Patrício Oliveira, que R$ 15 mil ficariam como espécie de salário, usual sempre que um atleta (de qualquer modalidade) serve à seleção, e R$ 42 mil deveriam ser trocados por euros, em casa de câmbio determinada pela confederação.
Só parte deste valor (47%), no entanto, chegou ao Travel Card (cartão de viagens) dos atletas, de acordo com extrato obtido pela reportagem junto a um desses jogadores. O restante foi retirado na agência de cambio, em dinheiro vivo, pela CBHG.
A confederação explicou aos atletas que usaria a verba retida para pagar hospedagem e aluguel de carro e campo de treino. Já o dinheiro do cartão de viagens seria para alimentação, combustível, academia e "extras".
No projeto aceito pelo Ministério do Esporte, a explicação era outra: "Será destinado um valor diário de R$ 476,00 para os atletas e membros da comissão técnica arcarem com todas as suas despesas de alimentação (café da manhã, almoço, lanche e jantar), de hospedagem e de transportes (vans, ônibus, táxis e trens) para os treinamentos e jogos amistosos na Holanda, Bélgica e Alemanha". Ou seja, a entidade não ficaria com tais recursos.
Questionada, a CBHG não explicou os motivos do procedimento nem por que desde o dia 1º de abril a delegação brasileira está na Irlanda do Norte, país sem nenhuma tradição no hóquei e que sequer tem uma seleção nacional, e não nos locais mencionados, nos quais o hóquei é bastante popular. No país britânico, os jogadores moram e treinam na Universidade de Ulster. A CBHG também não respondeu se tem gastos com transporte, hospedagem e aluguel de campo.
O ministério, por seu lado, não explicou o motivo da mudança nas condições do convênio na comparação com os contratos tradicionais e, sobre a utilização dos recursos, disse que aguarda a prestação de contas. Informou ainda que "entidades esportivas que celebram convênios com o Ministério do Esporte devem executar o objeto do convênio nos termos pactuados e no prazo estabelecido no projeto e no Plano de Trabalho" e que, "se comprovadas irregularidades, a entidade poderá responder administrativamente".
FILHO DO PRESIDENTE - O convênio tem outros pontos polêmicos. O principal deles diz respeito ao salário pago ao técnico da seleção brasileira, Cláudio Rocha. Filho de Sydney Rocha, presidente da CBHG desde a criação da entidade, em 2011, o treinador recebe R$ 12 mil mensais.
O Ministério do Esporte, entretanto, utiliza uma tabela de referência do Comitê Olímpico do Brasil (COB) como base para salários pagos com recursos públicos. O valor recebido por Cláudio é correspondente, na tabela do COB, a um técnico "classe A", medalhista olímpico ou mundial. O treinador, porém, de acordo com seu currículo, se encaixa na "classe C", com faixa salarial de R$ 3 mil a R$ 5 mil. A reportagem questionou a CBHG e ministério sobre a exceção, mas não obteve respostas.
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