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Irmaos sao adversários em eleiçao em Bragança Paulista
Do Diário do Grande ABC
16/04/2000 | 22:02
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A eleiçao municipal deste ano em Bragança Paulista, interior de Sao Paulo, colocará frente a frente dois patriarcas da poderosa família Chedid, que domina a política local há 32 anos. De um lado, estará Jesus Abi Chedid, 62 anos, ex-prefeito e atual presidente municipal do PFL. Do outro, o irmao Nabi Abi Chedid, 67 anos, deputado estadual pelo PSD no décimo mandato consecutivo e vice-presidente da Confederaçao Brasileira de Futebol (CBF).

Rompidos politicamente desde 1994, Jesus e Nabi já se declararam pré-candidatos à prefeitura. Os dois sao filhos e herdeiros políticos de Hafiz Abi Chedid, prefeito de Bragança pela Arena, de 1968 a 1972.

Nascido no Líbano, Hafiz chegou ao Brasil em 1938. Montou um armazém em Morungaba, vizinha a Bragança, e iniciou sua vida comercial. Logo, os negócios cresceram e Hafiz montou uma empresa de ônibus, que passou a controlar linhas de cidades daquela regiao até Sao Paulo.

Em 1986, ano em que Nabi chefiou a delegaçao brasileira que foi à Copa do Mundo do México Hafiz morreu em Bragança.

As relaçoes entre Nabi e Jesus começaram a ficar abaladas em razao dos negócios da família e o rompimento comercial viria cinco anos depois. O rompimento político demoraria um pouco mais, mas chegaria em 1994. Nessa época a influência da família cobria todo o Circuito das Aguas, onde prefeitos e vereadores eram parentes ou correligionários dos Chedid.

Agora, Nabi e Jesus vao tentar mostrar à populaçao de Bragança qual é o "lado bom" da família. Esta discussao já começou em Campinas, também interior de Sao Paulo e é protagonizada pelo deputado estadual Edmir Chedid (PFL), 34 anos filho de Jesus e pré-candidato a prefeito da cidade, e pelo ex-deputado federal e ex-presidente da Câmara local, Marco Antônio Abi Chedid (PSD), 42 anos, filho de Nabi e pré-candidato a vereador.

Tudo começou há dez dias, quando Edmir mandou espalhar em Campinas 30 outdoors com temas como miséria, corrupçao, desemprego e violência, em que aparece, logo abaixo de sua assinatura, a seguinte inscriçao: "o outro lado da família".

Embora Edmir negue a intençao de ofender o primo, ficou clara a tentativa de se diferenciar da desgastada imagem de Marco. Após uma rápida ascensao política entre 1988 e 1994, quando presidiu a Câmara Municipal duas vezes e chegou a ser, em 1994, o mais votado candidato a deputado federal na cidade, com 27 mil votos, o filho de Nabi sofreu uma enxurrada de acusaçoes e processos movidos pelo Ministério Público (MP). As acusaçoes vao desde a compra superfaturada de tíquetes-refeiçao para a Câmara Municipal até o envolvimento com um suposto esquema de extorsao a donos de bingo, quando ele exerceu mandato na Câmara Federal, caso que teve repercussao nacional.

O resultado é que Marco nao se reelegeu deputado, teve pequena votaçao em Campinas e agora tenta recomeçar do zero com sua pré-candidatura a vereador. Edmir aproveita a brecha e tenta ocupar o espaço deixado pelo primo, se apresentando ao eleitorado campineiro como "o outro lado da família".

Marco ficou furioso ao ver os outdoors. Ele conta que ligou para Edmir e lhe deu 48 horas para retirar a inscriçao das peças. Caso contrário, recorreria à Justiça. "Isso nao soma nada para ele", alega o ex-deputado. Edmir contesta a versao. "Quem ligou para mim, dizendo-se ofendido, foi o pai dele, o Nabi. Eu nao converso com o Marco", diz.

Versoes à parte, o fato é que a inscriçao que provocou a discórdia foi coberta por uma tarja escura e o deputado promete substituí-la por "o amigo da sua família". Edmir recuou na açao, mas nao no verbo. "Cada um entende como quer. Se ele (Marco) quer entender que ele é o lado ruim da família, paciência", diz o deputado, que é líder do PFL na Assembléia Legislativa de Sao Paulo.

Marco rebate dizendo que Edmir deveria cuidar da própria vida. "Cada um procura o seu espaço. O meu, eu faço construindo", ressalta. O irmao gêmeo de Edmir, Elmir Chedid, prefeito de Serra Negra, no Circuito das Aguas, também entra na briga. Defende o irmao, ao afirmar que ele nao quis provocar Nabi e Marco com os outdoors e revela que os desentendimentos na família sao mais pessoais do que políticos.

As razoes da briga Marco Chedid diz que a briga política começou em 1993, quando ele deixou o Bragantino, clube de futebol da cidade de Bragança, para presidir a Ponte Preta, em Campinas. "Eles jamais aceitaram isso", conta o ex-deputado.

Edmir tem outra versao. Segundo ele, o rompimento se deu em 1994 quando havia um acordo na família para que Elmir fosse o candidato a deputado federal em dobradinha com Nabi, que seria o candidato a deputado estadual. "Marco rompeu o acordo e se lançou candidato a federal. Aí eu decidi ser candidato a estadual e a família rachou", afirma.

Naquela eleiçao, Edmir e Nabi se elegeram para a Assembléia Legislativa em Sao Paulo. Marco garantiu sua vaga de deputado federal e Elmir, que usou o sobrenome Kalil em detrimento do Chedid, acabou perdendo a eleiçao.

Em 1998, novo racha. Jesus, Edmir e Elmir apoiaram Paulo Maluf (PPB) a governador de Sao Paulo, enquanto que Nabi e Marco ficaram ao lado de Mário Covas (PSDB), vitorioso na disputa. Edmir se reelegeu deputado estadual e Nabi ficou como primeiro suplente, assumindo logo de início. Marco nao se reelegeu e Elmir nao disputou a eleiçao, já que dois anos antes tornou-se prefeito de Serra Negra.

A mais de cinco meses da eleiçao de outubro, Jesus e Nabi evitam iniciar prematuramente o confronto. Nabi diz que cada um deve seguir a própria vida. Elmir e Edmir respondem pelo pai e ressaltam que ambos (Nabi e Jesus) têm o direito de disputar a eleiçao. Mas Edmir provoca: "Nabi pode disputar, mas nós vamos ganhar. Meu pai já foi prefeito em Bragança e tem grande prestígio na cidade." Mais diplomático, Elmir considera a disputa 'salutar'. Marco acredita nas chances do pai, mas evita polemizar desde já. Destaca que caberá à populaçao decidir.




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