Política Titulo
Câmaras do ABC têm vários projetos ilegais
Vinícius Casagrande
Do Diário do Grande ABC
27/05/2001 | 19:27
Compartilhar notícia


A apresentação de projetos inconstitucionais é prática comum nos legislativos do Grande ABC. Na maioria dos casos, o problema está no vício de iniciativa, quando projetos apresentados pelos vereadores deveriam ser feitos exclusivamente pelo Executivo.

Para evitar que os projetos sejam rejeitados por inconstitucionalidade, diversos legislativos firmaram acordos para possibilitar o trâmite das propostas. Em Santo André, os vereadores fizeram acordos, como o de que todo projeto que crie programas seja considerado inconstitucional para evitar que sejam aprovados.

Em São Bernardo, os parlamentares alteraram o Regimento Interno da Casa e determinaram que os projetos que tiverem sete assinaturas poderão ser colocados em votação. Com a alteração, diminuiu o trabalho da assessoria jurídica da Casa, que anteriormente analisava todos os projetos e vetava por inconstitucionalidade.

Na Câmara de São Caetano, o vereador e presidente da Comissão de Justiça e Redação da Câmara, Hamilton Lacerda (PT), disse que não é tolerado vícios de iniciativa.

O presidente da Câmara de Diadema, Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (PT), disse que projetos que ferem a Constituição Federal são uma constante no Legislativo.

Em Mauá, o presidente da Casa, Hélcio Antonio da Silva (PT), afirmou que mais de 90% dos projetos são inconstitucionais. Para o presidente da Comissão de Justiça de Mauá, Wagner Rubinelli (PT), os vereadores apresentam projetos para mostrar trabalho à população.

Em Ribeirão Pires, somente este ano, foram apresentados 22 projetos considerados inconstitucionais. Em Rio Grande da Serra, apenas dois projetos receberam parecer pela rejeição da Comissão de Justiça da Câmara.

O doutor em direito Diógenes Gasparini disse que os projetos dos vereadores devem sofrer uma análise preliminar da assessoria jurídica antes de ir a plenário. “Quando os projetos inconstitucionais chegam para votação, pode-se dizer que é um problema de ordem interna. Tem de haver análise criteriosa.”

Segundo o advogado, muitas vezes a assessoria jurídica dá parecer de inconstitucionalidade aos projetos e, mesmo assim, os vereadores votam a matéria por terem intenção de criar um fato para aproveitá-lo politicamente.

Gasparini disse que, em caso de aprovação, apenas uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) ou a revogação da lei podem reverter o quadro ilegal. “Não é de competência do município estipular que uma matéria inconstitucional passe a ser constitucional. Mesmo com a aprovação do projeto e com a lei sancionada, não significa que possa mudar a ordem das coisas.”

Quanto à existência de punições, Gasparini diz que não é prevista em lei “até porque seria uma afronta ao legislativo”. Mas ressalva: “A punição deve vir da sociedade ao não votar e não reeleger os vereadores que se enquadram neste caso”.

Para o Cepam (Centro de Estudos e Pesquisas da Administração Municipal), um projeto é considerado inconstitucional quando ofende alguma lei municipal, estadual ou federal que já regule a matéria que o vereador quer aplicar. “Um bom volume do nosso trabalho diz respeito a análise desses casos”, afirmou a advogada e técnica do Cepam Laís de Almeida Mourão. Segundo ela, todas as cidades do Grande ABC apresentam problemas parecidos. “Há muitos problemas políticos que envolvem a situação”, disse.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;