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Cientista político diz que tucanos podem ter imagem abalada
Do Diário do Grande ABC
30/10/1999 | 13:44
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A decisao de assumir pessoalmente o comando da Febem, pôs o governador Mário Covas num dilema de conseqüências imprevisíveis. ``A Febem se transformou no calcanhar de Aquiles e no gargalo da segurança do governo Covas. O risco de um desastre político é enorme. Se nao resolver o problema ele será execrado e se resolver parcialmente nao vai resgatar a imagem', disse o cientista político Gaudêncio Torquato, professor de marketing político da Universidade de Sao Paulo. Ele explica que o problema do menor infrator é estruturural e nao se resolve apenas pela vontade do governador.

``Se continuarem, as rebelioes poderao ser a Febemdiru do Covas', disse Torquato, lembrando o assassinato dos 111 presos do Pavilhao 9 da Casa de Detençao Paulista pelas tropas de choque da PM, em 1992, conhecido como o Massacre do Carandiru, que se transformou numa marca indissolúvel na imagem e no currículo do ex-governador e atual deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP). Ele acha que por estar hoje no epicentro da política e da violência urbana, uma questao como a da Febem reúne todas as condiçoes para, como tema, influir decisivamente na eleiçao do ano que vem e na sucessao presidencial de 2002. ``Covas colocou o tucanato sob grande risco num momento em que a violência urbana já está influindo na impopularidade do presidente Fernando Henrique Cardoso', advertiu o cientista político.

Na sua opiniao, Covas cometeu erro político ao assumir sozinho a responsabilidade de um problema que poderia tentar resolver buscando as soluçoes consensuais, que já vinham sendo debatidas pelos setores organizados da sociedade. ``Ele foi à Febem dizer que já havia comprado colchoes, consertado uma piscina e até feito churrasco para os menores. Isso nao é papel de um governante. Outro erro fantástico foi ter dito que já havia feito, como Pilatos, o que o estado poderia fazer. Nao precisaria ter descido a detalhes, banalizando sua funçao', disse Torquato. Ele observa que dentro das responsabilidades de governo, a questao do menor nao ocupa as dimensoes que Covas procurou dar ao anunciar que dedicaria 50% de seu tempo à Febem.

Na avaliaçao de Torquato, o insucesso da política de segurança do governo paulista ainda nao havia influído na imagem de Covas até o episódio da Febem. ``Com perdao do jogo de palavras, Covas era salvo pela doença dele. Isso o colocou como o herói que venceu o câncer, uma imagem de lutador que comoveu a populaçao. No caso da Febem, deveria ter compartilhado um problema que é estrutural, e nao tentar resolver com um ato de aparente coragem. Jamais poderia ter chegado ao detalhismo'. Segundo Torquato, o caso Febem, somado a outras atitudes do governador - que já foi atingido por um ovo ao enfrentar os funcionários públicos em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista - têm revelado ``um estilo de risco de governar'.

Caso nao resolva o problema, Covas poderá, segundo Torquato, fornecer muniçao para os adversários políticos na principal base do tucanato e alvo da cobiça da maioria dos presidenciáveis.




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