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A vibrante e familiar Nápoles
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
25/08/2005 | 10:45
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"Uma cidade vibrante, humana e amorosa." Com essas palavras, a atriz Sophia Loren, que tão bem – e tantas vezes – encarnou o estereótipo da mulher italiana no cinema, define a cidade de Nápoles, capital da Campânia e berço de muitas músicas, pratos típicos e costumes herdados no Brasil sob a influência da imigração italiana. Sabe de onde veio a tradicional pizza de mozarela que tanto faz sucesso na noite de São Paulo? O sorvete com listras de morango, chocolate e creme, o próprio nome já entrega... E aquelas canções que todo mundo dança nas festas do Bixiga e da Mooca depois de alguns goles de vinho, como a animada tarantella e a nostálgica O Sole Mio? Sem falar no jeitão acalorado com que os seus descendentes se expressam, falando mais com as mãos do que com a própria boca... Pois é, vem tudo de lá.

<p>Muitos dos traços que nós, brasileiros, consideramos tipicamente italianos, aliás, são na realidade exclusivos da região da Campânia. Até o trânsito caótico – a preferência é sempre do mais ousado – e a malandragem de que muita gente se vangloria em solo verde-amarelo parecem ter sido importados de Nápoles. Afinal, ao longo dos séculos, a pobreza e a falta de trabalho se encarregaram de aguçar a inteligência do napolitano para fazê-lo se arranjar.

<P>Desde que o uso do cinto de segurança se tornou obrigatório nas estradas e cidades italianas, por exemplo, começaram a aparecer no mercado camisetas brancas com uma faixa diagonal preta para driblar os olhos atentos dos fiscais de trânsito. Pura malandragem! Assim como a arte napolitana de contrabandear e falsificar grandes marcas. Dizem que enquanto Milão cria, Nápoles copia. E de forma tão perfeita que os Gucci, Lacoste e Pierre Cardin ficariam em dúvida na hora de escolher entre a peça original e a falsificada. Outros vendedores oferecem relíquias, pedaços do Vesúvio e até retalhos de roupas que eles garantem ser de San Gennaro.

<P>Jogos de azar também fazem sucesso por lá. Tem até profissões criadas para auxiliar os apostadores da loto. Uma delas é o assistito, espécie de vidente que adivinha os números que serão sorteados nas próximas extrações. Outra são os santoni, tipo de oráculo que não entrega os números mas dá dicas por meio de símbolos e frases misteriosas. E tem ainda os que dão palpites na fezinha com base na interpretação dos sonhos do consulente. Existem até livros que relacionam cada sonho com um número.

<P>Mas, no fundo, são tutti buona gente! O único lugar que se deve tomar mais cuidado é a Piazza Garibaldi, bairro sujo e considerado perigoso pelos próprios napolitanos, mas que funciona como o eixo central onde quase todo mundo desembarca do trem ou dos ônibus que fazem a ligação com o aeroporto. A partir daí, basta uma leve caminhada para deixar para trás a má impressão da estação e começar a descortinar os recantos realmente encantadores da capital da Campânia.

<P>A começar pela região conhecida como Spaccanapoli, declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) por concentrar grande parte do tesouro histórico e cultural napolitano. E não é para menos: o bairro abriga ruínas subterrâneas milenares, construções históricas e obras barrocas e renascentistas de inestimável valor. Isso sem falar na catedral que guarda o sangue do padroeiro da cidade, San Gennaro, o único capaz de alertar o povo quanto às intempestivas congestões do imprevisível Vesúvio. De acordo com a tradição religiosa, o sangue se liquefaz milagrosamente duas vezes por ano, em maio e setembro. Se o fenômeno não ocorrer, é sinal de que alguma catástrofe vem por aí...

<P>Já na igreja de San Domenico Maggiore, há um crucifixo que, acreditem, teria falado com São Tomás de Aquino. A cultura religiosa de Nápoles também se revela entre as belas estátuas da capela Sansevero, em cujo subterrâneo o príncipe de Sansevero, Raimondo de Sangro, fazia suas experiências de alquimia nas horas vagas. Depois que ele morreu, foram descobertos corpos humanos com os aparelhos respiratório e circulatório petrificados. Cruzes!

<P>Mistérios à parte, caminhar pelas ruas estreitas com roupas penduradas em varais também é uma boa pedida para se compreender melhor o povo napolitano e alcançar as lindas regiões banhadas pelas águas do Golfo de Nápoles, como a Riviera de Chiaia, Santa Lucia e as proximidades da Piazza del Plebiscito. No percurso, aproveite para conferir as enormes torres cilíndricas, com paredes de pedra vulcânica, do Castel Nuovo; experimentar um autêntico sorvete napolitano na Galleria Umberto I; ver as peças de cunho erótico, achadas em Pompéia, no Gabinete Secreto do Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, e assistir ao pôr-do-sol no portinho de Santa Lucia ou no platô do Vomero.

<P>Outra atração imperdível é o Castel del Ovo, construído por normandos por volta de 1130. Cenário de importantes episódios da história napolitana e alvo de bombardeios durante as invasões que a cidade sofreu no decorrer dos séculos, o castelo, conta a lenda, abrigava um ovo mágico que protegia Nápoles. Num certo dia de 1370, correu o boato de que o ovo havia se quebrado e os napolitanos entraram em pânico. A muvuca só cessou depois que a carismática rainha Joana D’Anjou foi a público para avisar que o ovo já havia sido substituído. Em se tratando da mítica Nápoles – cuja própria origem beira o fantástico das lendas gregas sobre sereias – quem duvidaria?




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