Nacional Titulo
Juíza denuncia ação de 'bando' na Justiça paulista
31/10/2003 | 23:26
Compartilhar notícia


A desembargadora Terezinha Caserta, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 3ª Região, que mandou prender advogados, empresários e policiais - supostamente envolvidos com esquema de tráfico de influência, facilitação de contrabando, direcionamento de inquéritos e venda de sentenças na Justiça Federal em São Paulo -, revela detalhes da ação do grupo. "O bando revela grande mobilidade, influência e periculosidade, tendo inclusive César Herman (agente federal) referido já ter 'matado oito pessoas'", destacou a magistrada, na decisão.

Segundo Terezinha, os suspeitos "participam de interceptação de aeronaves, detenção de devedores de 'clientes', absolvição em ações penais e tantas outras atividades perniciosas descritas nas denúncias e nas decisões referidas nos relatórios policiais e nas conversações interceptadas."

Os juízes federais João Carlos da Rocha Mattos, Casem Mazloum e Ali Mazloum, formalmente acusados pela Procuradoria da República por formação de quadrilha, são investigados há um ano. A devassa inclui escuta telefônica, rastreamento bancário e quebra do sigilo fiscal dos magistrados.

Autorizados pela desembargadora, relatora das investigações sobre o esquema, procuradores federais acompanham atentamente os passos e monitoram contatos dos magistrados.

Escutas - O grampo dos celulares e linhas fixas dos magistrados foi formalizado com base em requerimento do Ministério Público Federal (MPF). A investigação teve início em Brasília, estendeu-se a outros Estados e chegou a São Paulo, onde são processados os empresários Antônio Oliveira Claramunt, mais conhecido como 'Toninho Barcelona' (apontado como um dos maiores doleiros do país) e Ari Natalino da Silva (tido como fraudador de combustíveis) e o contrabandista Roberto Eleutério da Silva, mais conhecido como 'Lobão'.

Mattos e os juízes Mazloum, que são irmãos, trabalham no Fórum Ministro Jarbas Nobre, na praça da República, Centro da capital paulista. Sob os cuidados dos três magistrados, estão cerca de 4.500 inquéritos e processos sobre crimes contra a União - contrabando, tráfico internacional, delitos financeiros e tributários.

Os juízes negam ligações com a organização que contaria com a participação de importantes membros dos quadros da Polícia Federal (PF) em São Paulo, como o delegado José Augusto Bellini, que foi preso na quinta-feira com Herman e mais seis acusados, até mesmo a ex-mulher de Mattos, a auditora do Tesouro Norma Regina Cunha.

O criminalista Paulo Esteves, que defende Norma, considera "uma crueldade mantê-la presa porque o argumento para a decretação da custódia (risco de eliminação de provas) já está superado".

'Invasão' - Casem Mazloum disse que sofreu "invasão de privacidade exagerada", ao comentar o monitoramento dos telefones. "Nunca me preocupei em verificar se eu estava sendo ouvido", afirmou. "Não tive acesso aos autos ainda", anotou o criminalista Adriano Salles Vanni, que defende Casem. "Após isso, poderei comentar o real teor das acusações."

Herman, cujos métodos impressionaram a desembargadora, estava "à disposição" de Mattos. Eles são amigos. O agente circulava pelo fórum com desenvoltura incomum. Para Terezinha, "tais ingerências, decorrentes da longa convivência no meio policial e judicial, autorizam a supor a possibilidade de pressão sobre testemunhas, corrupção sobre autoridades, destruição de provas, influência deletéria sobre agentes detentores do poder de polícia, exploração de prestígio, obtenção de informações privilegiadas, tráfico de influência, ou seja, toda sorte de interferência no trabalho da equipe de investigação."

A equipe de procuradores da República que subscreveu a denúncia não quis comentar as acusações dos juízes. Mattos afirmou que membros do MPF fabricam cartas anônimas para justificar investigações. Casem disse que tudo faz parte de "uma armação de um procurador débil mental." Os procuradores não querem responder aos ataques e garantem que agiram, "simplesmente, no cumprimento do dever."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;