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Palestra nao é clube de família, diz Fábio Cassetari
Divanei Guazzelli
Da Redaçao
19/08/2000 | 23:13
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A família Cassetari já deu dois presidentes para o Palestra de Sao Bernardo, José Fábio Cassetari e o filho Fábio Cassetari. Além de ambos, outros três membros da família Cassetari, Ciro, Renê e Décio, irmaos de José Fábio, sao ou foram dirigentes do clube, um dos representantes do Grande ABC na Série B-1 do Campeonato Paulista e que vai completar 65 anos de fundaçao no dia 1º de setembro. Tema do livro Palestra de Sao Bernardo, Meio Século - 1935-1985, escrito em 1985 por Ademir Medici, colunista do Diário.

Mas o Palestra, apesar da direçao da família, está aberto à participaçao "de quem estiver interessado", segundo Fábio. "O Palestra já teve grandes presidentes que nao pertencem a minha família, mas sempre que se fala no clube, somos lembrados", admite o atual presidente, com mandato até o fim de 2001. O time busca o acesso para a Série A-3, está praticamente classificado à semifinal, porém o presidente faz uma ressalva. "Nao podemos oscilar tanto", disse, referindo-se à derrota por 1 a 0 para o XV de Caraguatatuba, há uma semana, no estádio 1º de Maio. Atento às discussoes e açoes relacionadas a marketing esportivo e clube-empresa, conceitos que já procurou adotar no Palestra há pouco mais de dois anos, Fábio Cassetari nao vê muita alternativa para os integrantes da B-1. "Temos de revelar jogadores para gerar receita, pois as chances de uma parceria forte sao mínimas", disse, em entrevista ao Diário. A seguir, os principais trechos.

DIARIO - Próximo de outra classificaçao para uma fase decisiva da Série B-1, como o senhor avalia o atual estágio do futebol do Palestra?

FABIO CASSETARI - Infelizmente, está aquém do que esperávamos. Boa parte das açoes que planejamos nao foi possível executar. Depois da conquista do acesso para a B-1, em 1997, perdemos o nosso técnico, o Formiga, que foi para o Japao, e ele, pela sua vivência e competência, era imprescindível ao nosso esquema de trabalho. A B-1 é tocada por abnegados, sejam dirigentes sejam os colaboradores dos clubes.

DIARIO - Se a sobrevivência para uma equipe da B-1 é difícil, qual é a soluçao para, pelo menos, minimizar os problemas mais freqüentes?

FABIO -Olha, quando disse que o futebol passa por uma reciclagem, lembro que até mesmo um grupo como o da Hicks Muse está colocando freio nos investimentos num clube com o porte do Corinthians. Quer dizer, se com o Corinthians está acontecendo isso, imagine as dificuldades que o Palestra e a maioria das equipes enfrentam. Só mesmo com boa vontade e abnegaçao o clube tem sido tocado. Ainda assim, conseguimos dar uma estrutura ao nosso futebol que me parece satisfatória, com gerente de futebol, gerente administrativo, três fisioterapeutas, dois médicos, um deles sempre viajando com a delegaçao, técnico e preparador físico de ponta. Entendo que, com a infra-estrutura formada, teremos condiçoes de lutar pelo acesso, desde que a equipe consolide uma regularidade.

DIARIO - Como o Palestra se mantém, principalmente após as contrataçoes do técnico Edson Só e de jogadores que estao entre os melhores da posiçao na B-1?

FABIO - O Palestra sobrevive do aluguel da quadra e do campo, de um bingo no centro de Sao Bernardo e da participaçao de três empresários, o José Rubens Gayoso, da Zíperes Rubinho, que estampa o nome da empresa em nossa camisa, William Saba e Fernando da Costa. Os três, inclusive, ocupam cargos diretivos no clube. Além disso, acertamos outros dois convênios que julgo muito importantes. Um deles com o Mesc, nas categorias sub-15 e sub-17, disputando os campeonatos com o nome Palestra/Mesc. O Mesc fornece a infra-estrutura, e nós entramos com o trabalho técnico-tático, coordenado pelo Jaiminho (ex-meia do Sao Paulo e Santo André, entre outros clubes). O outro convênio é com a Casa de Estudantes Harmonia de Sao Bernardo, que proporciona intercâmbio com a vinda de jogadores japoneses.

DIARIO - O Palestra possui, entao, uma estrutura mínima para alojar jogadores vindos de outros Estados e países, como no caso dos japoneses?

FABIO - Hoje, posso dizer que sim. Com as reformas que fizemos em nosso estádio, o alojamento tem capacidade para 25 jogadores, tanto que a concentraçao dos profissionais passou a ser feita no próprio local. Dez jogadores ficam permanentemente no local. Eles contam também com refeitório. Mas para que o local se transforme num centro de treinamento adequado, incluindo reforma no gramado e instalaçao do departamento médico e sala de musculaçao, acredito que serao necessários mais R$ 50, R$ 60 mil.

DIARIO - Há uma semana, foi anunciada a fundaçao de mais um clube profissional de Sao Bernardo, o Uniao de Clubes. A cidade comporta três equipes, provavelmente em divisoes diferentes em 2001?

FABIO - Numa avaliaçao rigorosa, para que o futebol de Sao Bernardo volte a ter a importância de outras décadas, como nos anos 50 e em 70 e 80, entendo que deveria haver somente um time profissional. Porém, desde que haja um projeto realmente profissional, muito sério e com concessoes de todas as partes envolvidas. Caso contrário, nao vejo como unir forças.

DIARIO - O Palestra abriria mao dos seus direitos, como nome e vaga, por exemplo, para que um só clube de Sao Bernardo dispute o acesso?

FABIO - Sempre que se fala em fusao, a primeira entidade a ser indagada é o Palestra. Entendo que o caminho nao é por aí. Temos de sentar para conversar, ver o que pode ser feito para um profissionalismo de alto nível. Em 1998, por exemplo, tivemos a iniciativa de procurar o Sao Bernardo para participar, juntos, da Copa Sao Paulo de Futebol Júnior.

DIARIO - A rivalidade com o Sao Bernardo, entao, nao é mais a mesma como em outras décadas, nos anos 50, quando ambos disputaram a principal divisao de acesso?

FABIO - A rivalidade sempre existiu e vai continuar existindo, mas dentro de campo, como deve ser. Fora, o relacionamento entre os dois clubes é muito bom. Eu mesmo já joguei basquete no próprio Sao Bernardo com um de seus dirigentes, o Calixto Antonio Júnior, e o presidente do próprio clube, Felipe Cheidde, foi nosso jogador no futebol.

DIARIO - Por falar em relacionamento, a maioria das equipes do acesso sempre se queixa da falta de apoio do poder público. Como é a convivência do Palestra com a Prefeitura?

FABIO - Muitas equipes ficam à mercê de um prefeito e de um secretário de esportes que se identifiquem com o futebol. No caso do Palestra, posso garantir que temos um bom relacionamento com a Prefeitura. Temos o campo e o ônibus cedidos pelo poder público.

DIARIO - Qual seria o melhor modelo de parceria para um clube como o Palestra e, de um modo geral, para o momento vivido pelo futebol brasileiro.

FABIO - O modelo mais eficiente hoje, nao só em Sao Paulo como no Brasil, é o do Sao Caetano, como ficou provado nas suas conquistas dos últimos três anos. O tripé iniciativa privada (Datha Representaçoes), Prefeitura e o próprio clube funciona com muita sintonia, com extrema organizaçao profissional.

DIARIO - Enquanto a melhor fórmula nao for alcançada, o que o Palestra deve fazer para se tornar um clube rentável?

FABIO - Temos de trabalhar para revelar jogadores. É o melhor e, a rigor, o único caminho. Nao tem como esperar um modelo como o do Guaratinguetá e o do Campinas, por exemplo, que pertencem integralmente a ex-jogadores (o primeiro, de César Sampaio e Rivaldo, e o segundo, de Careca e Edmar). Eles estao na B-2, que é hoje o caminho inicial, mas na B-1 a administraçao das equipes já está consolidada. Um acordo seria difícil. Para que parcerias fortes venham, precisamos subir mais uns dois degraus, na A-2. Aí sim estaríamos mais em evidência.




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