Turismo Titulo
Atacama: as contradições da vida no deserto
Gislaine Gutierre
Enviada pelo Diário ao Atacama
11/07/2001 | 17:42
Compartilhar notícia


O deserto de Atacama, ao norte do Chile, é terra de pura contradição. Seco, mas com rios e lagos; frio, mas com sol o tempo todo; árido, mas com neve em quase todas as paisagens, é um lugar onde a grandiosidade da natureza se revela em pequenos detalhes. É uma região como poucas no mundo, em que o homem se flagra em sua insignificância e se curva diante do maravilhoso espetáculo da vida.

Para os brasileiros, tão acostumados às paisagens verdes, a viagem ao Atacama é quase um choque. As surpresas começam no vôo, com cerca de duas horas de duração, que sai de Santiago (capital chilena) com destino a Calama, cidade a 103km de San Pedro de Atacama.

Tudo que se vê do alto é um vasto território árido, sem vida, não povoado, onde as poucas estradas que o recortam parecem apenas rastros de pneus. Calama fica cravada no meio do deserto. E até San Pedro de Atacama – a base do turismo – o visitante enfrenta uma longa estrada, cruzando um cenário com diferentes paisagens, quase sempre tendo a imponente Cordilheira dos Andes ao fundo.

Na beira da estrada, santuários feitos com pequenas casas de madeira, cruzes, fotos, pedras e flores lembram as pessoas que deixaram suas vidas no caminho. Algo intrigante, pois a rota aparentemente inofensiva, sem trânsito e com curvas suaves, não raro convida o motorista a adormecer ao volante para um encontro com a morte.

Deserto branco – Este ano, o Atacama teve sua paisagem sensivelmente alterada. Tudo por causa das chuvas de verão, que em março atingiram seu ápice e bateram o recorde dos últimos 30 anos. “No verão, normalmente chove fraco, durante cinco minutos por dia. Este ano, foram horas de chuva forte”, diz a guia de turismo Patrícia Vasquez.

Por conta disso, os turistas foram presenteados com cenários inusitados. Na caminhada pelo Vale da Morte, por exemplo, um curioso lago se formou entre as rochas, impassível diante da secura ao redor.

O fenômeno tem explicação: é que todo o terreno é rico em minerais e, portanto, salinizado. Com o sal, a água não congela, evapora pouco e dificilmente é absorvida pelo solo.

No vilarejo de Toconao, a 38 km de San Pedro de Atacama, uma prova de resistência: o curioso rio que banha o oásis fica em um vale onde, caprichosamente, surgiu uma espécie depequena ilha, com árvores e vegetação rasteira. Tão perfeita que daria inveja a qualquer paisagista.

Com as chuvas, vários pontos do deserto ficaram brancos, cobertos por uma fina camada de sal. Um sal como o que se utiliza na cozinha, e que chegou a ser explorado comercialmente, antes do Chile proibir sua extração.

As contradições no deserto não param por aí. Numa clara demonstração de resistência, pequenas flores crescem entre as pedras na Cordilheira do Sal. Flamingos encontram no Salar de Atacama, onde há um enorme lago de água salgada, o local ideal para a reprodução.

E Atacama, por estar tão perto da Cordilheira, convive diariamente com a imagem e a força dos vulcões. Hoje, apenas dois são ativos (Lascar e Putana), mas sua energia ainda está presente na água quente e nos gases que brotam do solo, criando um verdadeiro espetáculo a temperaturas abaixo de zero.

E que não se iluda o turista. Quando se olha do alto ou de longe, tudo parece estar ao alcance das mãos. Mas, nas caminhadas, o deserto cobra seu preço. Exige força, cuidado, fôlego. Nas entranhas do Atacama, o homem é apenas um minúsculo ponto. Indefeso, sozinho. Prova de que no eterno duelo entre homem e natureza, é sempre ela a soberana.

A jornalista viajou a convite da MultiStar Operadora.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.

Mais Lidas

;