A morte de Joana Gomes de Almeida, 17 anos, há 15 dias, é um exemplo do que os pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) já haviam constatado. Grávida de nove meses, a jovem e seu filho morreram na sala de parto do Hospital do Andaraí, zona Norte do Rio, após procurar atendimento em outros quatro hospitais.

Joana se enquadrava no perfil das gestantes que mais sofrem por vaga nas maternidades da cidade: negra, adolescente e com baixa escolaridade.

De acordo com uma pesquisa da Fiocruz, concluída em 2001, mas ainda inédita, em 47 maternidades (22 públicas e conveniadas ao Sistema Único de Saúde, inclusive militares, e 25 particulares), um terço das adolescentes não são atendidas na primeira vez.

Elas têm 63% mais chance de peregrinar para ter um filho do que as mulheres com mais de 35 anos.

Ou seja, quanto mais nova a gestante, maior a dificuldade para encontrar um leito para realizar o parto.

A situação é ainda pior para as negras. No Rio, 30% das mulheres negras peregrinam para fazer seus partos, enquanto entre as brancas esse índice cai para 18%.

Quanto à escolaridade, os reflexos também são nítidos. Mulheres grávidas analfabetas ou que concluíram apenas a 4ª série do ensino fundamental tiveram uma chance de peregrinar quase oito vezes mais, quando comparadas com as que tinham nível superior. “Mesmo que essa mulher tenha uma gravidez de risco, isso não assegura que ela tenha uma vaga em uma maternidade pública", diz a enfermeira Silvana Granado, uma das autoras do estudo. “Uma mulher com gravidez de alto risco, que deveria peregrinar menos, é a mais recusada pelas maternidades.”