A tragédia que se abateu sobre a família da corretora de imóveis Ana Paula Vaz, cujo filho de 10 dias morreu sob suspeita de negligência do Hospital e Maternidade Santa Helena, demonstra a que ponto chegou o descaso com a Saúde no Brasil. Recorrer ao atendimento privado não é mais garantia de receber a atenção que deveria ser dada de graça a qualquer ser humano. A inobservância dos mais elementares protocolos hospitalares, segundo denúncia da mãe, pode ter custado a vida de um bebê. Inadmissível.

“Lutei a semana inteira pela vida do meu filho e fizeram pouco-caso da situação”, lamentou Ana Paula a este Diário. Mesmo sabendo que a mãe teve gravidez de alto risco, o hospital e maternidade parece não ter feito o acompanhamento necessário ao recém-nascido. Durante sete dias, foram idas e vindas aos consultórios, sempre com a prescrição de paliativos.

Na véspera do fatídico dia da morte de Miguel, a família denuncia que, mesmo acometido por falta de ar, o bebê ficou esperando pela ambulância, que o transferiria a unidade hospitalar mais bem equipada, por duas horas e meia. Na antevéspera, ao desespero da avó ante a demora que julgava exagerada, funcionária do Santa Helena teria dito para que ela se conformasse. Como exigir resignação de quem vê o sofrimento de uma criança de 10 dias?

O Conselho Regional de Medicina, as vigilâncias sanitárias estadual e municipal e o Ministério Público precisam assumir a defesa de Ana Paula Vaz, para que ela tenha, ao menos, o conforto de saber que a curta existência do filho não foi em vão, na medida em que sua tragédia particular desencadeou força-tarefa para que episódio semelhante nunca mais entristeça nenhuma outra família do Grande ABC – ou de qualquer localidade do Brasil. A irresponsabilidade dos hospitais, sejam públicos ou privados, tem de ser coibida. Não se pode tolerar que se trate um ser humano, especialmente um bebê, com tamanho descaso.