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País não está em processo de desindustrialização
30/12/2010 | 07:54
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O Brasil não está em processo de desindustrialização. Esta é uma avaliação comum entre autoridades do governo, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, acadêmicos, como os professores Fernando Sarti, da Unicamp, e Antônio Correa de Lacerda, da PUC-SP, e analistas, entre eles o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. "A indústria criou, pelo menos, quatro milhões de empregos entre 2003 e 2010", comentou Sarti.

Com base em dados do IBGE dessazonalizados, Sarti apontou que a produção do setor manufatureiro de transformação avançou 30,16% em termos reais entre janeiro e março de 2003 e o terceiro trimestre deste ano. "Estes dados indicam que não há um movimento clássico de desindustrialização, que se caracteriza pelo esvaziamento da atividade e geração de postos de trabalho pelas empresas do setor", comentou.

Sarti destacou que é "simplista" a avaliação segundo a qual o incremento dos importados no Brasil neste ano necessariamente significa uma onda de desindustrialização no País, como afirma a Fiesp e a CNI. "É preciso avaliar que a partir de 2004, a economia nacional começa a crescer com o grande reforço do mercado doméstico, que passou a elevar de forma expressiva a demanda agregada", comentou.

"Desde 2006, os investimentos em toda a economia cresceram em maior velocidade que o PIB por 19 trimestres seguidos, o que dá uma dimensão de quanto as indústrias passaram a ser mais relevantes no desenvolvimento do nível de atividade interno", ressaltou.

Para o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Miguel Jorge, a Fiesp está errada ao dizer que há desindustrialização no Brasil. "Um País que importa US$ 125 bilhões em máquinas e equipamentos, em que o desemprego chega a 6,1% e a indústria produz a pleno vapor, com resultados trimestrais apontando que nunca tiveram tanta rentabilidade, falar em desindustrialização é um paradoxo", afirmou.

"Mesmo com a entrada de máquinas no País em maior volume, o setor que engloba fabricantes destes equipamentos é um dos que está mais crescendo no Brasil", disse o professor Fernando Sarti Ele destacou que tal expansão das indústrias de máquinas e equipamentos nacionais reflete que companhias de todos os setores, como os produtores de alimentos, roupas, eletrodomésticos e carros, estão produzindo bem mais para atender o incremento do consumo da população nacional nos últimos seis anos.

Luciano Coutinho não acredita que as indústrias estão perdendo participação relativa na formação do PIB. Contudo, ele aponta que os setores manufatureiros compõem um complexo fabril grande, diversificada e que precisa ser fortalecido. "Nós não podemos ter uma estrutura produtiva só calcada nas commodities", comentou. "Não podemos esquecer a indústria manufatureira e os serviços sofisticados", afirmou.

IMPORTADOS - Mas o forte ingresso de importados, que para essas autoridades e analistas ainda não trouxe a desindustrialização para o País, não pode persistir no longo prazo. Se isso ocorrer, poderá sim haver impactos sobre as fábricas nacionais e sobre os milhares de empregos. O mesmo argumento é reforçado por entidades empresariais do setor, como Fiesp e CNI, que, ao contrário das avaliações feitas, enfatizam com vigor que a desindustrialização no País já avança rápido.

Na avaliação dos especialistas, a indústria nacional enfrenta um assédio "preocupante" de concorrentes internacionais por causa de dois fatores. Um deles é o câmbio valorizado. De acordo com a série temporal do BC 11.753, a cotação efetiva do real ante o dólar em outubro de 2010 apresentava uma apreciação de 32,29% ante junho de 1994. "O câmbio é um problema muito sério que prejudica a capacidade de competição muito difícil das empresas nacionais do setor com suas concorrentes internacionais", comentou Sérgio Vale.

Um outro elemento importante é a fraca recuperação da economia mundial, que leva muitos países desenvolvidos a exportarem com avidez para manter os empregos de fábricas que não conseguem vender produtos nos seus mercados domésticos. De acordo com o IBGE, os importados apresentaram uma alta de 7,4% no terceiro trimestre ante abril e junho deste ano, enquanto subiram 40,9% em relação aos mesmos três meses de 2009. Tal velocidade foi bem superior à registrada pelas exportações, pois de julho a setembro de 2010 subiram 2,4% na margem e aumentaram 11,3% em comparação ao mesmo período do ano passado.

O professor Ricardo Carneiro salienta que embora boa parte das mercadorias importadas seja de máquinas e equipamentos que ajudam a expandir a produção nacional, algumas indústrias estão perdendo a capacidade de operar em razão da disputa cambial bastante desigual. "Se o yuan apresenta perto de 30% de depreciação ante o dólar e o real está sobrevalorizado em quase 30% em relação à moeda norte-americana, isso gera uma diferença de 60% a favor da mercadoria chinesa que ingressa no Brasil ou compete com o produto nacional no exterior", ressaltou o professor Antônio Correa de Lacerda.

Carneiro, Lacerda e outros economistas destacam que, no curto prazo, a solução para este problema deve começar pela redução da força do real ante o dólar. E tal mudança no câmbio, segundo eles, requer redução gradual e continua dos juros reais, que estão hoje ao redor de 6%. A presidente eleita Dilma Rousseff (PT) quer reduzir tais taxas para 2% em 2014. De acordo com o novo governo, um ajuste fiscal pouco superior a 3% do PIB, a começar em 2011, é necessário para que nos próximos quatro anos tal redução dos juros se torne um fato.

 

 

 




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