Cultura & Lazer Titulo
Música instrumental que ferve no caldeirão
Karla Machado
Do Diário do Grande ABC
23/08/2010 | 07:39
Compartilhar notícia


A linguagem instrumental dispensa tradução. Qualquer pessoa, independentemente de sua nacionalidade, pode compreender os sons extraídos dos mais diferentes materiais, fato que serviu de inspiração para o show Qualquer Lugar, protagonizado pelos músicos Afonsinho Menino e Borici Junior. Até um caldeirão de feijoada é usado como instrumento pela dupla, que se apresenta amanhã, às 19h30, na Casa da Música de Diadema (Av. Alda, 255 - Centro. Tel.: 4051-2628). A entrada é franca.

Os músicos exploram a diversidade rítmica a partir de uma união pouco convencional: percussão, com Afonsinho, e piano, com Boraci. Dos improvisos do jazz aos batuques do maracatu, a performance abre espaço para uma viagem pela cultura mundial. "Não existem fronteiras para a música instrumental. São sons que você pode levar a qualquer lugar do mundo e fazer o público transitar por vários ritmos", explica Borici.

Ruídos de pássaros, gado e a presença de uma burrinha de pano abrem o espetáculo, remetendo à melancolia do Agreste, quebrada mais adiante pela riqueza da musicalidade africana, com o poema Navio Negreiro, de Castro Alves. A ideia é lembrar da miséria a que eram submetidos os escravos na travessia para o Brasil e celebrar a conquista da liberdade.

Das panelas - Para provar que a proposta é fugir do trivial, um inusitado caldeirão de feijoada é manuseado por Afonsinho para emitir diferentes sons de sinos. Recorrer a utensílios domésticos, aliás, é prática comum do músico, que trabalha como luthier - profissional especializado na construção ou reparo de instrumentos. "Cada ponto da panela tem um som diferente e em uma brincadeira decidi explorar isso", comenta ele, que começou a fazer os próprios instrumentos depois que sua percussão quebrou. "Como não tinha dinheiro para consertar, liguei para um amigo que já fazia isso e aprendi a fazer instrumentos convencionais. Depois de tanto mexer, passei a criar e hoje dou aulas."

Intimidade conquistada, a plateia é convidada a participar com palmas, batida de pés e emissão de sons. "A gente procura um tema mais popular, como baião, maracatu ou mambo, e a adesão é praticamente total", observa Borici, que ainda atenta para o fato de que raramente existe esse tipo de interação em um show instrumental.

"Em Qualquer Lugar, o conceito de palco e plateia é quebrado e todos são inseridos em um mesmo contexto. Esse é o barato do show." Completam o repertório releituras de Egberto Gismonti, João Donato e Hermeto Pascoal.

Até agora restritos aos palcos da Capital e do Grande ABC, os artistas pretendem expandir o trabalho para o interior do Estado. "Apesar de a música instrumental ser mais segregada, temos conseguido formar um público fiel e queremos ganhar terreno no interior", diz Borici.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;