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Desemprego afeta mais a mulher negra
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
15/12/2001 | 18:00
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Por conta de um processo de reestruturação produtiva das indústrias e de mudanças na vocação econômica da região nos últimos anos, o Grande ABC vive uma crise de emprego e esse quadro afeta mais duramente as trabalhadoras e a população negra, no caso tanto homens quanto mulheres. A análise consta de um estudo desenvolvido pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que apontou também, embora preliminarmente, as causas da diferença de acesso ao mercado de trabalho e também de rendimentos por gênero e raça.

Com base em levantamentos como a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, e a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Seade/Dieese, o estudo mostra que, enquanto o desemprego entre os homens não-negros passou de 7,7% em 1988 para 16,5% em 1999, para os homens negros o quadro se agravou mais: a taxa passou de 10,3% para 23,9%. Para as mulheres não-negras, o índice, que em 1988 era 11,8%, foi a 22,2%. O desemprego da trabalhadora negra já era alto (13,1%) e foi a 30,5% em 1999 (veja quadro acima).

O projeto Gestão Local, Empregabilidade, Eqüidade de Gênero e Raça: uma experiência de política pública no Grande ABC, feito pelo Cebrap com o apoio da Prefeitura de Santo André, Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (Ceert), Elisabeth Lobo Assessoria e Instituto de Governo e Cidadania do ABC, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), visa buscar respostas ao desafio que o processo de reestruturação das indústrias e a redefinição da vocação regional, com o crescimento do comércio e serviços, coloca para os grupos sociais considerados mais vulneráveis a essas mudanças.

Reorganização – De acordo com uma das coordenadoras do projeto, a professora Márcia Leite, os dados já existentes indicam que ocorreu durante a década de 90 uma reorganização da indústria, que passou a ser intensiva em capital e a empregar menos mão-de-obra de modo geral. Mas mostram também que a situação de emprego se precarizou mais quando se leva em conta o gênero e a raça.

De ponto de vista dos tipos de postos de trabalho nas empresas, há no cenário de 1999 uma concentração dos trabalhadores negros em atividades de execução, como o chão-de-fábrica das indústrias (mais de 60%) – os não-negros nessas áreas são 50%. Os postos de direção e planejamento são ocupados em quase 20% por não-negros, enquanto funcionários negros nessas vagas são 5%, de acordo com o estudo.

Márcia afirma que, na hora de demitir e também quando se vai contratar ou dar promoções, as empresas levam em conta critérios como maior escolaridade e qualificação técnica. Restaria saber, segundo a professora, em quanto pesa nessas decisões a discriminação por sexo ou raça. Um exemplo ilustra a situação de desigualdade, segundo ela: as mulheres não têm menor qualificação dos que os homens no Grande ABC e têm taxa de escolaridade superior.




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